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Não há muito o que comemorar no PIB; leia análise

A grande dúvida é se esse sinal de retomada se estenderá para o resto do ano ou não

Por Sergio Vale
Atualização:

Com o bom resultado do PIB do primeiro trimestre, a grande dúvida é se esse sinal de retomada se estenderá para o resto do ano ou não. Há ainda alguma recuperação de serviços para acontecer na saída da pandemia e commodities devem ainda trazer bons resultados no resto do ano por conta dos preços elevados. Mas o cenário à frente traz mais desafios do que gostaríamos.  A economia mundial segue em processo de desaceleração, com a China afetada ainda pela pandemia, e EUA e Europa às voltas com a inflação. Inflação essa histórica para os países desenvolvidos e que vai fazer com que a resposta de juros tenha que ser mais agressiva do que os Banco Centrais querem admitir. A conjunção de guerra sem data para acabar com a continuidade de impacto no mercado de energia, especialmente petróleo, como vimos nos últimos dias, trará riscos ainda relevantes na administração da política monetária. Mundo crescendo menos impacta nossas exportações e afeta a recuperação incipiente que se via no começo do ano.

Sede do Banco Central; aumento da taxa de juros, inflação elevadae corrida eleitoral devem impactar o PIB no resto do ano Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Mas temos nossos problemas domésticos, que reputo ainda mais complicados. Uma taxa de juros que deve chegar próxima a 14% com impacto crescente no segundo semestre e uma eleição que o presidente faz questão de deixar a mais conturbada possível. Não é um ambiente amigável para investimentos e ainda para consumo, que seguirá sofrendo os impactos da inflação elevada. No mais, a incerteza sobre como será o próximo governo também acaba por impactar o investimento deste ano. Com mais um ano de crescimento fraco, Bolsonaro entregará um governo com crescimento acumulado na casa de 2,7%, o que significa queda de PIB per capita. Sistematicamente temos crescido menos da metade do que a média mundial, o que não me parece ser motivo de comemoração. Erros acumulados na política fiscal institucional e instabilidade política inédita são nosso calcanhar de Aquiles que reverberam em números tão fracos de crescimento. Em um mundo instável, sofremos os impactos com mais intensidade. Se seguirmos sob esses critérios, os números de PIB dos próximos anos serão ainda piores.  *Economista-chefe da MB Associados

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