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ANÁLISE: Retração da economia deve continuar em 2016

Economistas esperam uma retração econômica bem próxima a 4% em 2015; incertezas políticas, reflexos do ajuste e a falta de fatores que possam reverter a crise de confiança devem estender a recessão

Por Mário Braga , Denise Abarca , Álvaro Campos e Maria Regina Silva
Atualização:
Crise política agrava situação econômica do País Foto: André Dusek/Estadão

SÃO PAULO - O desempenho negativo do Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) consolida a percepção pessimista do mercado para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2015 e reforça a estimativa de que o início do processo de retomada deve ficar para o fim de 2016. Economistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de informações em tempo real da Agência Estado, esperam uma retração econômica bem próxima a 4% em 2015 e destacam que apenas o efeito do carrego estatístico para este ano deve ser da ordem de -2,5%. Além das incertezas políticas, os reflexos do ajuste macroeconômico ao longo deste ano, principalmente sobre os setores de comércio e serviços, e a falta de fatores que possam reverter a crise de confiança devem estender a recessão.

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Para o economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, o IBC-Br mostra que o Brasil ainda está em uma fase muito intermediária da recessão. Na avaliação dele, o ajuste ainda não se materializou nos setores do comércio e serviços e indústria não deve apresentar uma recuperação significativa em 2016. Por isso, estima, o PIB deve ter encolhido 4,2% em 2015. Na manhã desta quinta-feira (18), o Banco Central (BC) informou que a atividade econômica caiu 4,08% no ano passado.

O economista explica que o carry over, o carrego estatístico da retração da atividade de 2015 sobre o desempenho da economia em 2016, é de quase -2,5%. Velho estima o PIB de 2016 pode ser até pior que o do ano passado. "Meus modelos apontam uma queda de 4,6% do PIB neste ano, mas essa não é uma projeção oficial ainda porque muita coisa depende do que vai acontecer no segundo trimestre, se o Congresso vai aprovar as medidas do ajuste fiscal", afirmou.

Na avaliação da economista Jéssica Strasburg, da CM Capital Markets, além do IBC-Br, os dados disponíveis não dão espaço para otimismo em relação a 2016. "O índice de confiança da indústria até deu uma acalmada no final do ano passado, mas não apresenta tendência clara de recuperação. Além disso, há toda a questão de indefinição política que adiciona imprevisibilidade ao cenário", disse. Para ela, a sequência de dados ruins retroalimenta o pessimismo e impede uma retomada da economia neste ano. "Enquanto não vierem notícias menos piores, a confiança não melhora e aí ninguém investe", resumiu. 

Natalia Cotarelli, economista do banco ABC Brasil, concorda que no início de 2016 a retração da atividade deve se dar de maneira generalizada entre os setores da economia. "A tendência é de manutenção da retração para o começo do ano para os ramos da economia e, por enquanto, há uma chance de estabilidade no último trimestre de 2016", afirmou. Segundo a especialista, no entanto, este comportamento esperado para o fim do ano não é uma "mudança de cenário". O ABC Brasil manteve suas projeções de queda de 3,8% do PIB em 2015 e de 3,3% em 2016, um número "muito negativo", na avaliação da especialista. 

O Bradesco também reafirmou, em nota enviada a clientes, que os dados do IBC-Br reforçam a expectativa de contração de cerca de 1,5% do PIB no último trimestre de 2015 e de 3,9% em todo o ano passado. Relatório do banco Fator, assinado pelo economista-chefe José Francisco de Lima Gonçalves, considera que o dado divulgado pelo Banco Central veio pior do que o esperado e que não há sinais evidentes de reversão da recessão atual. O banco Pine estima que o PIB encolheu 4% em 2015 e terá contração de 3,6% em 2016. 

Para Eduardo Velho, da INVX Global Partners, a inflação de serviços desacelerou muito pouco, o que indica que os preços ainda precisarão cair mais ao longo deste ano, e isso deve se traduzir em menor faturamento para as empresas. Enquanto isso, o mercado de trabalho deve se deteriorar, afetando a renda e, assim, o consumo das famílias. "Ainda teremos efeitos da elevação dos juros, da contração do crédito, dos ajustes salariais abaixo da inflação neste ano", afirma. Velho acrescenta que o setor externo ajuda muito pouco, já que o saldo da balança comercial é resultado de uma queda acentuada das importações, e não de uma melhora significativa das exportações, até porque o efeito preço não tem ajudado a agenda exportadora brasileira. 

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Inflação e Juros. Mesmo se for confirmada a trajetória para o segundo ano consecutivo de recessão, o economista do banco Pine Marco Caruso avalia que, em tese, não há espaço para redução da taxa Selic nos próximos meses. A inflação ainda está rodando na casa dos dois dígitos e o alívio esperado para preços de serviços e administrados este ano não será o suficiente para limitar a inflação ao teto da meta de 6,5%. "Com a inflação de 7,5% este ano (previsão do Pine), não há espaço para reduzir a Selic se o Banco Central respeitar o sistema de metas. A dúvida é: até que ponto vai respeitar? A pressão política vai continuar", observou. 

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