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Análise: Subsidiar não resolve

Suavizar a curva dos reajustes pode ser a mexida correta, mas não deve ser pensado como algo que vai salvar o setor provavelmente mais atingido pela recente escalada dos preços externos do petróleo

Por Raul Velloso
Atualização:

O preço externo do petróleo dobrou desde que Temer assumiu e a taxa de câmbio está aumentando. Para setores como o de serviços de transporte, intensivo em petróleo, é questão de vida ou morte trabalhar com projeções realistas desse insumo fundamental, especialmente em momentos, como o atual, quando ainda não nos livramos da mais longa e mais profunda recessão de nossa história e a taxa de câmbio pode subir mais.

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É natural, assim, que a grita desse setor seja imensa, bem maior do que nos demais países, conforme se pode observar pelo noticiário internacional. Fala-se, inclusive, que o setor tem capacidade ociosa acima do normal por ter se expandido em resposta a políticas erradas de fomento um pouco antes da debacle do governo Dilma.

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Só que as cotações externas são determinadas totalmente fora de nosso controle, restando apenas alinhar os preços internos à tendência de médio prazo dos preços internacionais, a fim de construir os sinais corretos do “custo de oportunidade” dessa commodity para o País, guiando os agentes internos nas suas decisões de consumo e produção. Nessa linha, talvez coubesse algum aperfeiçoamento na política de preços seguida hoje pela Petrobrás, que, além do mais, teve o grande desafio de corrigir as distorções herdadas da gestão anterior. Mas sua ação está basicamente certa.

Motoristas formaram longas filas de espera na manhã de segunda para abastecer em postos do Rio, em Irajá e São Cristóvão. Foto: Fábio Motta|Estadão

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Nesse sentido, suavizar a curva dos reajustes pode ser a mexida correta, mas não deve ser pensado como algo que vai salvar o setor provavelmente mais atingido pela recente escalada dos preços externos do petróleo. Ali, ao que tudo indica o problema é bem mais profundo. Qualquer tentativa que o governo faça de transferir subsídios para sua salvação vai dar com os burros n’água, criando-se apenas um saco sem fundo. Além do mais, diante da virtual falência do setor público, isso vai frontalmente na direção oposta do que precisa ser feito.

Precisamos equacionar o problema fiscal na linha que venho sugerindo, e nos livrar rapidamente da recessão. Só assim setores se salvam.

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* é consultor econômico 

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