Apesar da reação do governo brasileiro contrária à recomendação feita por bancos estrangeiros para que investidores reduzissem a exposição no Brasil, prevaleceram as análises pessimistas em relação à economia do País. Isso afetou diretamente o fluxo de recursos para o Brasil. O volume de investimentos estrangeiros diretos acumulado este mês é de apenas US$ 800 milhões. A expectativa do chefe do Departamento Econômico do Banco Central (Depec), Altamir Lopes, é de que o fechamento do mês fique em torno de US$ 1,2 bilhão, o que representará uma queda de 40% em comparação com os US$ 2 bilhões registrados em maio do ano passado. Esse valor será insuficiente para cobrir o déficit nas transações correntes em maio que, segundo estimativas do BC, deverá ficar em US$ 2 bilhões. Mas, no acumulado dos cinco primeiros meses do ano, o saldo ainda será positivo: o déficit das contas externas estimado para o período em US$ 7,2 bilhões deverá ser coberto com folga por investimentos diretos de US$ 7,8 bilhões. Em abril, especificamente, o déficit em conta corrente foi de US$ 1,983 bilhão, o melhor resultado desde abril de 1996, e os investimentos diretos somaram US$ 1,964 bilhão. No acumulado de 12 meses, o déficit está em US$ 19,380 bilhões, o menor valor desde outubro de 1996, equivalente a 3,79% do Produto Interno Bruto (PIB). A queda no fluxo de investimentos para o Brasil, segundo Lopes, "é reflexo da volatilidade verificada no mercado nas últimas semanas", mas, ainda assim, o BC mantém a projeção de investimentos da ordem de US$ 18 bilhões para o ano. Segundo o chefe do Depec, essas oscilações de curto prazo afetam especificamente o pequeno investidor. "O grande investidor projeta seus investimentos com muito mais antecedência e está menos sujeito às variações conjunturais. Já o pequeno é mais sensível aos movimentos de mercado", afirmou. Ele destacou ainda que o investimento no país está muito diversificado. Cerca de 40% do total de investimento estrangeiro corresponde a operações até US$ 10 milhões. Esses investidores, portanto, tendem a se retrair diante de turbulências no mercado. Enquanto a evolução do volume de investimento estará sujeita às oscilações de mercado, o comportamento do déficit em conta corrente a partir de agora dependerá basicamente do resultado comercial. A retração verificada nos últimos meses, especialmente nas despesas com transportes, viagens internacionais, serviços financeiros e assistência técnica especializada, já chegou a um limite, na avaliação do chefe do Depec. Todos esses itens são registrados na conta de serviços e rendas que, juntamente com a balança comercial e as transferência unilaterais, compõem o déficit em transações correntes. Em maio, por exemplo, as remessas de lucros e dividendos já somam US$ 728 milhões, o dobro dos US$ 360 milhões verificados em abril. "A expectativa de desvalorização fez com os investidores antecipassem as remessas de lucros e dividendos para aproveitar o câmbio favorecido", disse Lopes. Os gastos com viagens internacionais também deverão crescer. Na avaliação do chefe do Depec, a crise na Argentina fez com que o país vizinho se tornasse atrativo para os turistas brasileiros. "Muita gente está preferindo ir para Argentina porque agora está mais barato", explicou Lopes.