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Analistas acham que ?contágio? da Argentina é temporário

Por Agencia Estado
Atualização:

A desvalorização do real e a queda dos preços dos títulos da dívida brasileira nos últimos dias refletem uma pressão temporária e não a volta do contágio da crise argentina, na opinião dos analistas em Wall Street. "Acho que a deterioração dos ativos brasileiros nos últimos dias está mais ligada a um movimento de realização dos lucros do que propriamente à volta do contágio da crise na Argentina", disse à Agência Estado o estrategista de renda fixa para América Latina da Merrill Lynch, Felipe Illanes. Na opinião dele, o descolamento dos ativos brasileiros em relação à Argentina, registrado desde meados de outubro do ano passado, tem uma âncora nos fundamentos da economia brasileira. Conjuntural "As pessoas deviam analisar a volatilidade dos últimos dias como algo conjuntural e não com base nos fundamentos", afirmou. Para ele, os três canais possíveis de contágio da economia brasileira pela crise argentina não sugerem mais um "recolamento" dos ativos. Segundo ele, o contágio via comércio exterior é quase nulo, pois as exportações brasileiras para a Argentina representam 7% do total e não pesam mais como no passado. A outra forma de contágio, via falta de acesso aos mercados de capitais internacionais, não se materializou, pois o Brasil em 2001, que foi um ano de menor liquidez, conseguiu até captar mais do que em 2000. "E, por fim, o contágio via queda no volume de investimentos diretos de estrangeiros (FDI, em inglês) também não se deu, pois o déficit de conta corrente foi financiado em 89% por FDI no ano passado, que ainda é um patamar muito elevado", afirmou. Recursos A estrategista-sênior de renda fixa para América Latina do banco Santander, Lenora Suki, é da mesma opinião. "O mercado já reconheceu que, apesar do caos na Argentina provocar volatilidade, o Brasil tem recursos para atravessar essa instabilidade", afirmou Suki à AE. Para ela, os fundamentos da economia brasileiros são bons, e as últimas notícias em relação à produção industrial e às contas externas são animadoras. "O desempenho das contas externas vai ser um importante fator que dará suporte aos preços dos ativos brasileiros daqui em diante", disse. Ela acredita que a volatilidade dos últimos dias do real e dos títulos da dívida será temporária. "Mesmo assim o C-Bond, o título brasileiro de grande liquidez, negociado a um patamar de 77,50 centavos, ainda está bem acima do nível de novembro passado, quando o movimento de descolamento tornou-se mais claro", afirmou. Perspectiva negativa A alta limitada da cotação do dólar na estréia do câmbio duplo na Argentina não mudou a perspectiva negativa dos analistas em Wall Street em relação à economia argentina. "Vamos observar na Argentina uma situação inversa do que ocorreu durante a desvalorização do real em 99, quando foi registrado um ´overshooting´ inicial do câmbio para depois se estabilizar num patamar bem mais baixo", explicou o principal economista para a Argentina do banco Lehman Brothers, Joaquin Cottani. Disparada Segundo ele, por causa da falta de pesos em circulação e do poder de intervenção do Banco Central argentino, a estréia da taxa flutuante ficou num nível sob controle, mas haverá uma disparada da taxa no curto prazo quando o governo injetar maior liquidez na economia. "O governo terá de, eventualmente, injetar liquidez, seja imprimindo dinheiro para financiar o déficit fiscal ou o relaxamento das restrições sobre os depósitos devido a crescente pressão da população", disse. Dolarização Cottani acredita que o atual regime cambial irá fracassar e que até abril ou maio deste ano o presidente Eduardo Duhalde, se estiver ainda no poder, terá de reconhecer que a saída para o país será a completa dolarização. "Se Duhalde se convencer de que essa é a melhor saída e tomar essa decisão até maio, ele poderá dolarizar a economia ainda a uma taxa de 2 pesos por dólar. Depois disso, a situação sairá do controle", afirmou. Já o vice-presidente de pesquisa econômica para mercados emergentes do banco ABN-Amro, Fernando Losada, disse que o patamar de negociação do dólar, entre 1,6 e 1,7 peso, ficou dentro do esperado devido à escassez do peso. Difícil Ele não arrisca uma estimativa sobre o nível do câmbio para os próximos dias, porém ressaltou que, se o governo argentino não divulgar no curtíssimo prazo, as suas novas metas para a política monetária e também o orçamento de 2002, a situação ficará muito difícil. "Sem um anúncio imediato do orçamento e da política monetária, a minha perspectiva de curto prazo é muito negativa", afirmou o analista. Ele não acredita que, se o dólar continuar subindo rapidamente nos próximos dias, o Banco Central argentina irá intervir. "Não há reservas cambiais para isso", disse. Leia o especial

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