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Analistas cautelosos com boas notícias do Brasil

"Um volume de boas notícias ajuda eleitoralmente, mas é preciso cautela para que acabe não tendo um efeito oposto no futuro", disse um analista do banco francês Natexis Banques Populaires

Por Agencia Estado
Atualização:

Juros em queda, fim do racionamento energético, déficit de conta corrente em declínio e superávit primário em alta. Analistas de instituições financeiras européias concordam esse conjunto de notícias que emergiu nos últimos dias justifica uma maior tranqüilidade em relação às perspectivas da economia brasileira para 2002. Mas alertam que o clima de otimismo não deve ser exagerado pois o país continua vulnerável a uma série de riscos externos. Além disso, segundo eles, é preciso levar em conta que o anúncio quase que simultâneo de boas notícias faz parte de uma estratégia do governo federal de criar um clima favorável para tentar fortalecer o seu candidato na corrida pela eleição presidencial, José Serra. Para Wilber Colmerauer, diretor da corretora inglesa Liability Solutions, especializada em fundos hedge (proteção cambial), os números das contas externas divulgados nesta quinta-feira justificam uma projeção mais promissora para a economia brasileira. "Mas ainda é muito cedo para o entusiasmo que estamos vendo em algumas análises no Brasil, eu acho que estamos em condições de ter um otimismo cauteloso, ou melhor ainda, um otimismo responsável", disse Colmerauer à Agência Estado. Ele salienta que essa onda de otimismo foi estimulada em parte pela estratégia do governo federal de divulgar uma série de medidas positivas para estabelecer um clima favorável num ano eleitoral. "Trata-se de uma estratégia compreensível, pois os próximos meses serão decisivos para o fortalecimento da candidatura de José Serra." Colmerauer alerta que apesar do governo brasileiro "adotar uma postura professional e correta " na condução da política econômica, os próximos meses poderão ainda trazer grandes obstáculos para o país. O mês de março, segundo ele, será crucial para a Argentina, onde ainda pairam enormes dúvidas sobre a capacidade do governo de evitar um novo agravamento da crise, o que poderia ter um impacto maior no Brasil. "O governo argentino somente terá possibilidade de receber um apoio financeiro externo substancial quando a economia norte-americana der sinais concretos de uma recuperação sustentável", disse. Colmerauer observa também que o cenário externo poderá ter um impacto negativo acima do previsto no fluxo de investimentos diretos estrangeiros ao Brasil, um problema que poderá ser reforçado com a proximidade da eleição presidencial. Já o analista para mercados emergentes do banco francês Natexis Banques Populaires, Charles Valentin, observa que apesar dos últimos resultados da economia brasileira serem positivos, o governo deve continuar se pautando pela cautela. "Achei esse corte na taxa Selic meio precipitado, o BC poderia ter esperado um pouco mais ", disse. "Os riscos dos fatores externos ainda são grandes, pois a crise argentina ainda está em curso, vários países da América Latina estão enfrentando dificuldades e ninguém tem certeza sobre a sustentabilidade de uma recuperação norte-americana." Valentim também salienta que a sucessão presidencial pode estar começando a ter um impacto nas decisões do governo. "Um volume de boas notícias ajuda eleitoralmente, isso acontece em todo o mundo, mas é preciso cautela para que acabe não tendo um efeito oposto no futuro."

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