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Analistas céticos com retomada nas bolsas de NY

Apesar da recuperação das bolsas em Nova York no final da semana passada, a tendência de queda não foi revertida, segundo os analistas. A recuperação da Bovespa depende, além do cenário norte-americano, de outros problemas externos e internos.

Por Agencia Estado
Atualização:

As bolsas em Nova York recuperaram grande parte das perdas registradas após os atentados terroristas aos Estados Unidos em 11 de setembro. O índice Dow Jones - que mede a valorização das ações mais negociadas na Bolsa de Nova York - encerrou a sexta-feira cotado em 9.344,2 pontos. No dia 10 de setembro, encerrou os negócios em 9.605,5 pontos - uma baixa de 2,72%. A Nasdaq - bolsa que negocia papéis do setor de tecnologia e Internet - já reverteu toda a queda. Na sexta-feira, terminou o dia em 1.703,40 pontos e, no dia 10 de setembro, fechou em 1.695,3 pontos - uma alta de 0,47%. Apesar do cenário menos pessimista, alguns analistas alertam que as bolsas norte-americanas podem voltar a cair, já que o risco de recessão nos Estados Unidos não foi afastado. De acordo com o ex-diretor do Banco Central (BC) e sócio-diretor da MCM Consultores, José Júlio Senna, o reaquecimento da economia dos Estados Unidos depende de uma volta da confiança dos consumidores norte-americanos e, não menos importante, dos empresários do país. "O forte desaquecimento econômico hoje é resultado de uma reversão da expectativa muito favorável de lucro que os empresários nos Estados Unidos tinham há dois anos. Como o lucro esperado não veio, a frustração foi muito grande e vai demorar um tempo para que este sentimento negativo seja revertido", avalia Senna. Ele ressalta que no setor de tecnologia esta frustração foi ainda maior, já que os investimentos dos empresários foram ainda maiores neste segmento. Sem o lucro esperado, o preço das ações na Nasdaq iniciou uma queda forte e os investimentos no setor diminuíram. "No primeiro trimestre deste ano, os investimentos privados no setor de tecnologia apresentaram uma queda de 12% nos valores anualizados", afirma o ex-diretor do BC. No ano passado, a queda nas bolsas norte-americanas já refletiu esta frustração. O índice Dow Jones encerrou o ano com uma queda de 6,18% e a Nasdaq acumulou uma baixa de 39,29%. Em 2001, até o dia dos atentados, as baixas eram de 5,67% e 20,55%, respectivamente. Tendência de baixa não foi revertida Para o diretor de renda variável da BankBoston Asset Management, Júlio Ziegelmann, os últimos resultados positivos das bolsas de Nova York não revelam uma recuperação definitiva do mercado acionário norte-americano. "De fato, os primeiros balanços trimestrais anunciados por empresas ficaram dentro do esperado por analistas. Mas somente os próximos balanços vão revelar o impacto do atentado no resultado das empresas", afirma. O estrategista do JP Morgan, Luis Fernando Lopes, também não acredita em uma recuperação das bolsas de Nova York neste momento. "É preciso lembrar que as empresas do país atuaram com força na recompra de ações depois dos atentados terroristas, o que permitiu uma recuperação técnica do preço dos papéis." Lopes completa que a alta do índice Dow Jones, especificamente, foi puxada pela forte valorização das ações de empresas ligadas ao setor bélico. Ele também acredita que a alta das bolsas em Nova York depende da volta dos investidores para o mercado de ações. "Isso deve demorar, já que a população do país perdeu muito dinheiro com a queda que as bolsas acumularam ao longo de 2000 e neste ano", afirma. Bovespa: recuperação pode demorar Para a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), além de uma recuperação do mercado acionário norte-americano, a recuperação depende de uma volta da confiança dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil. Neste sentido, dois fatores têm peso fundamental: a situação argentina, que deixa os investidores temerosos também em relação ao Brasil; e as eleições presidenciais em 2002. Analistas lembram outros problemas da Bovespa, mas que têm peso menor neste momento: a incidência da Cobrança Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) nas transações e o aumento da alíquota de Imposto de Renda (IR) de 10% para 20% no próximo ano.

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