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Analistas criticam comando do Fed

Diferenças entre Greenspan e Bernanke ficam mais evidentes

Por Nalu Fernandes
Atualização:

Os eventos desta semana indicam quão desafiador é para os bancos centrais gerenciar a política monetária e a comunicação em períodos de turbulência dos mercados. A avaliação é da equipe de pesquisa econômica do banco de investimentos Lehman Brothers (LB) para os Estados Unidos. Para os analistas da instituição, a resposta do Fed aos mercados, ontem, e o comunicado "esperar para ver" do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, o Copom americano), divulgados após a reunião da terça-feira, enfatizam as diferenças entre o ex-presidente do Fed Alan Greenspan e o atual, Ben Bernanke. Em resposta às dificuldades no mercado de crédito, a instituição prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA vai crescer apenas 1,9% neste ano. Quanto à política monetária, os analistas do LB afirmam que, nestes períodos de stress no mercado financeiro, "os BCs confrontam-se com escolhas difíceis usando ferramentas limitadas". Os analistas ponderam que os BCs, em linhas gerais, têm duas principais missões: controlar a inflação para dar suporte ao crescimento e garantir estabilidade ao sistema financeiro. "Estes objetivos são bastante diferentes e podem ser conflitantes, como parece ser o caso agora", diz o Lehman Brothers. Uma forma de lidar com estes dilemas, acreditam os especialistas, é usar as ferramentas de forma eclética e agir para ganhar tempo para obter mais informação. E é isso que parece estar acontecendo. Velhos hábitos são duros de mudar, dizem os analistas. "Os mercados estão ainda um pouco surpresos com a resposta do presidente Bernanke ao recente sofrimento do mercado." O Lehman Brothers discorda da percepção de que o corte do juro seja certo e prevê probabilidade inferior a 50%. "Bernanke quer dar ao mercado toda a oportunidade para encontrar uma base com ajuda mínima. Em particular, o comunicado do Fed (divulgado ontem) indica que prefere injeções de liquidez a corte do juro para abrandar o tremor atual de crédito." Os analistas do LB acreditam que o atual e o ex- presidente do Fed compartilham dos princípios de que, em funcionamento normal dos mercados, o Fed não deve reagir diretamente às oscilações de preços de ativos, a menos que haja impacto sobre a economia. Ambos "estão cientes de que essa abordagem cria um problema de risco moral - algumas vezes chamado, no passado, de ?Greenspan put? - segundo o qual os investidores são encorajados a correr riscos maiores, sabendo que eventualmente haverá ajuda do Fed". Em oposição, Bernanke e Greenspan discordam dos métodos pelos quais o Fed pode atingir os objetivos de combate à inflação. São essas diferenças, segundo o LB, que explicam parte da confusão dos mercados em relação às palavras e ações do Fed agora. O mercado esperava que o Fed retirasse o viés de inflação do comunicado como indicação para um corte de juro. Com a manutenção do viés, acharam que a turbulência não seria suficiente para deflagrar um corte. "Na verdade, as diretrizes (do Fed) indicam quão sério Bernanke está sobre conter as expectativas de inflação", ponderam os analistas. Em oposição, agora os participantes do mercado acreditam que em breve o Fed será forçado a reduzir o juro e julgam a atuação limitada do Fed como se o BC americano não tivesse conhecimento da magnitude da situação. "Não acreditamos que seja o caso. A volatilidade atual do mercado, embora problemática, não é de disfunção total. Mas, se a história se repetir como em 1998, o Fed cortará o juro, como teria sido sob a liderança de Greenspan."

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