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Analistas dizem que comunicado do BC indica corte de juros em 2009

Para especialistas, o fato de integrantes do Copom terem discutido queda de juros é sinal de mudança de direção do BC

Foto do author Márcia De Chiara
Por Irany Tereza , Monica Ciarelli (Broadcast), Flavio Leonel , Andrea Vialli , Márcia De Chiara , Renato Cruz e Paula Pacheco
Atualização:

A decisão tomada ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom) de manter inalterada a taxa básica de juros veio de acordo com a expectativa da maioria dos analistas do mercado financeiro. Mas o fato de o Banco Central (BC) informar que a possibilidade de redução da Selic foi discutida pela maior parte de seus integrantes sinaliza uma possibilidade maior de queda a partir dos primeiros meses de 2009. O ex-diretor do BC e sócio da consultoria MCM, José Júlio Senna, aprovou a decisão de manutenção da Selic, mas chama a atenção para a nota divulgada pelos diretores do comitê. Segundo o economista, a nota contradiz a decisão, pois aponta o fato de o grupo ter discutido amplamente a possibilidade de baixar os juros e ainda acena com a possibilidade de haver uma reunião a qualquer momento para que se avalie o cenário macroeconômico. "O comunicado não foi adequado, porque pode incentivar o mercado a apostar na queda dos juros e isso estimula ainda mais a depressão do real", analisa Senna. Ainda de acordo com o economista, segurar a atual taxa é a melhor maneira de o Copom ganhar tempo para analisar como se comportará a macroeconomia. Uma das informações mais esperadas é o que deve acontecer com a demanda interna. "Até que isso se defina, é mais provável que a decisão de redução só venha a partir de março ou abril", prevê. Para Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, o corte de juros pode vir antes do que se esperava. Segundo ele, se as expectativas de inflação se mostrarem sob controle, a redução da Selic poderia acontecer já na próxima reunião. "O Copom começa a avaliar a possibilidade de o impacto da crise na atividade econômica compensar o impacto da alta do dólar na inflação." O economista-sênior do BES Investimento, Flávio Serrano destaca que o cenário de incertezas para a economia global, mais uma vez, prevaleceu na decisão final. Serrano fazia parte da corrente majoritária, de 58 instituições, que aguardava a permanência da Selic no nível atual, conforme levantamento realizado pelo AE Projeções com 60 economistas. Para o especialista, o BC agora terá tempo para analisar como a economia, tanto em relação à atividade como em relação à inflação, fechará 2008. "A reunião que acontecerá em janeiro será ótima, pois o BC poderá observar, por exemplo, o ritmo da atividade neste último bimestre do ano", comentou. Na opinião de Carlos Langoni, ex-presidente da instituição, a decisão do BC foi acertada. Ele atribui à complexidade da discussão no cenário atual a demora para a tomada da decisão, mas acrescenta que o fato de ter havido unanimidade ao final da discussão é um bom sinal para o mercado. "O BC agiu corretamente. É preferível manter Selic inalterada agora, até porque não aconteceria nada com uma redução pequena. Os juros dos empréstimos permaneceriam caros." Para ele, pesou mais na decisão a questão cambial e os juros em patamar elevado vão contribuir para reduzir a pressão sobre o câmbio. "Há uma desvalorização exagerada e o BC não quer queimar reservas, o que alimentaria a especulação cambial." O economista-chefe da Ativa Corretora, Arthur Carvalho Filho, acredita que os próximos 45 dias até a primeira reunião do Copom em 2009 serão decisivos para que o BC possa traçar sua estratégia de política monetária para o ano que vem. "Hoje, a situação é de muita indefinição. É preciso esperar novos indicadores saírem para que se possa visualizar uma fotografia mais exata da situação brasileira", afirma. Na época da próxima reunião, lembra, o governo já terá dados sobre o comportamento da demanda no Natal e de segmentos importantes para se traçar o desempenho futuro da economia. A situação atual é tão delicada, que o economista adverte até para a possibilidade do Copom precisar elevar a taxa de juros no início do ano se o dólar causar um repique inflacionário e a atividade produtiva tiver uma queda menor do que se espera. "Se o dólar se mantiver na casa dos R$ 2,50 e a atividade se recuperar, o Banco Central terá que subir juros na contramão no restante do mundo. Assim, como aconteceu em 1999." Mesmo antes da reunião do Copom, a economista-chefe do banco ING, Zeina Latif, previa a manutenção da taxa nos 13,75%. "Existem pressões do câmbio que ainda vão aparecer na inflação", afirma. Ela atribui a desaceleração registrada pelo IPCA de novembro ao esforço de grandes companhias de cortar preços dos produtos para desovar estoques em razão da escassez de crédito. "Riscos inflacionários ainda existem." "Estávamos prevendo que o BC manteria os juros na reunião desta semana, mas antecipamos do segundo para o primeiro trimestre a perspectiva de corte na Selic", afirma o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros. Apesar de os indicadores de atividade mostrarem desaceleração, ele acredita que o momento não é oportuno para reduzir juros porque o comportamento do câmbio está muito incerto. Sua opinião é compartilhada pelo economista-chefe do banco HSBC, André Lóes. "O Copom tinha a necessidade de conciliar duas coisas: evitar o repasse da depreciação cambial para os preços e mostrar que entende que os efeitos da crise são importantes."

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