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Analistas explicam manutenção da Selic

A manutenção da Selic em 19% ao ano já era dada como certa pelos analistas de mercado. O cenário para o Brasil já era ruim, com fortes altas do dólar, e a perspectiva de recessão mundial e guerra envolvendo os EUA aumentaram as dificuldades.

Por Agencia Estado
Atualização:

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu há pouco pela manutenção da taxa básica de juros, Selic, em 19% ao ano. Segundo nota divulgada ao final da reunião, "o Copom concluiu que a política monetária continua adequada para assegurar a convergência da inflação às suas metas." Para o diretor de operações com clientes da Lloyds TSB Asset Management, Gilberto Poso, as incertezas depois dos atentados terroristas aos Estados Unidos deixaram os investidores ainda mais inseguros. "A Argentina já era um motivo para a pressão sobre o dólar. Com a situação norte-americana, tudo piorou." Neste cenário, a única maneira para tentar segurar o dólar seria uma alta muito forte dos juros, mas isso seria uma medida radical e temporária", afirma. Ontem, o presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, declarou que as taxas de juros não devem cair até o final deste ano. Segundo Poso, este é o cenário mais otimista - leia-se reação limitada dos Estados Unidos aos ataques terrorista e ausência de notícias piores na Argentina. "Caso isso se confirme, a taxa Selic deve permanecer em 19% ao ano até o final de 2001", avalia. Para o diretor de renda fixa da BankBoston Asset Management, Flávio Bojikian, a preocupação com a alta do dólar e o impacto que ela terá sobre os índices de inflação devem continuar no próximo ano. Em 2002, a meta de inflação é de 3,5%, também com possibilidade de alta ou baixa de dois pontos porcentuais. Segundo ele, como não há nenhuma certeza de que o dólar recue em 2002, também não é possível afirmar quando as taxas de juros voltarão a cair. "Há muitos motivos para que o dólar permaneça em patamares elevados" avalia o diretor do Lloyds Asset Management. Ele cita os principais: queda no volume de investimentos diretos; provável dificuldade das empresas em captar recursos no exterior; e fraco saldo da balança comercial. "Tudo isso, em um ano que o País precisa de US$ 50 bilhões para fechar suas contas, significa que a pressão sobre o dólar deve continuar e os juros poderão continuar em patamares elevados", avalia. Não havia espaço para queda A política de juros adotada pelo governo tem como principal objetivo o cumprimento da meta de inflação. Para este ano, ela deveria ficar em 4% com possibilidade de alta ou baixa de dois pontos porcentuais. O governo já admitiu que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para as metas de inflação, deve ultrapassar o teto de 6%. No acumulado do ano, até agosto, o Índice está em 5,06%. A alta do dólar, que eleva o preço dos insumos e produtos importados, vem pressionando os índices de inflação. Desde o início do ano, até hoje, o dólar oficial já subiu 38,41%. De acordo com analistas, altas gradativas de juros em um cenário de incertezas têm sido ineficazes para conter a escalada do dólar, ao mesmo tempo em que prejudicam o ritmo econômico do país. No início do ano, a taxa Selic estava em 15,75% ao ano. Chegou a ser reduzida para 15,25% ao ano em meados de janeiro. Mas as incertezas provocadas pela crise da Argentina, o racionamento de energia e o desaquecimento econômico dos Estados Unidos levaram o BC a adotar uma postura mais conservadora a partir de março deste ano, quando a Selic voltou a subir. De lá para cá, a alta foi de 3,75 pontos porcentuais - de 15,25% para 19% ao ano.

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