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Analistas prevêem novas 'degolas' de executivos nos EUA

Renúncias no Merrill Lynch e Citigroup poderão ser as primeiras de uma série.

Por Bruno Accorsi
Atualização:

As recentes renúncias dos titulares dos grupos bancários Citigroup e Merrill Lynch poderão ser as primeiras de uma série de ''degolas'' de executivos provocadas pela crise hipotecária nos Estados Unidos, na opinião de diferentes analistas econômicos americanos ouvidos pela BBC Brasil. Charles Prince, do Citigroup, acabou renunciando na semana passada. Sua posição como presidente e executivo-chefe estava abalada desde meados de outubro, quando ele anunciou que o banco lucrou 57% a menos no último trimestre devido à crise de crédito. A crise que vitimou o Merrill Lynch culminou em 30 de outubro, quando o então excecutivo-chefe, Stan O'Neal, renunciou, uma semana após ter anunciado que o grupo fechou o terceiro trimestre com uma perda de US$ 2 bilhões causada pela mesma crise. As principais causas por trás das quedas nos lucros sofridas pelas duas instituições estão associadas à inadimplência no pagamento dos créditos hipotecários de alto risco - as hipotecas chamadas de ''subprime'', cedidas a pessoas com um histórico de crédito duvidoso. ''Certamente novas cabeças poderão rolar. Centenas de bilhões de dólares foram perdidos'', afirma Chris Lowe, economista-chefe da First Tennessee Capital Markets. De acordo com o economista, há estimativas de que um total de US$ 1 trilhão tenha sido contraído em dívidas ligadas ao setor hipotecário de alto risco, que ele define como ''dívidas tóxicas''. ''Isso poderia implicar perdas de até US$ 250 bilhões. Por enquanto, nós só vimos cerca de 20% disso'', acrescenta. Robert E. Scott, economista-sênior do Economic Policy Institute, de Washington, endossa a previsão de que outros executivos poderão perder seus cargos. ''Eu não me surpreenderia se tivéssemos mais renúncias. Os problemas causados pelo setor de subprime deverão se acumular a partir do ano que vem e mesmo depois disso, à medida que hipotecas forem sendo renegociadas.'' Christian Menegatti, editor gerencial da RGE Monitor, uma empresa de consultoria em Nova York, concorda que outros executivos poderão perder seus cargos, mas afirma que esse não será o efeito mais grave da atual crise. ''Nós ainda não sabemos onde todas essas perdas estão escondidas. O importante é saber quão grandes elas são e de que forma poderão afetar a economia'', comenta. Menegatti acredita que as renúncias são naturais, dada a proporção das perdas, mas acha difícil atribuir a responsabilidade pelos prejuízos a indivíduos. Chris Lowe discorda da afirmação. ''Estas são pessoas que tomaram a decisão de colocar amplos recursos no que todos sabiam ser uma bolha no setor imobiliário. Mas eles estavam tirando muito dinheiro dessa bolha e decidiram não reduzir a exposição a que estavam sujeitos. Para piorar, eles ainda eram donos de algumas das estruturas de riscos que foram criadas.'' ''Os executivos deveriam estar cientes disso. Eles são responsáveis pela cultura corporativa que permitiu que isso acontecesse. Os acionistas ficaram satisfeitos quando eles foram convidados a se retirar. Os custos para os acionistas foram tremendos'', acrescenta. Robert E. Scott vai além nas críticas aos titulares das grandes corporações financeiras. ''Investigações vêm apontando que alguns executivos podem até ter promovido manipulações ilegais de títulos. Alguns teriam usado informação privilegiada para derrubar valores de ações. Portanto, as renúncias não são apenas uma forma de achar alguém para pôr a culpa.'' Os analistas acreditam que após as gigantescas perdas, serão empregados mecanismos de controle mais eficazes, a fim de prevenir que erros semelhantes votem a ocorrer, mas Chris Lowe crê que isso também traz riscos. ''Com mais responsabilidade, vem também maior cautela. Houve uma redução de crédito não apenas para quem contrai empréstimos de risco, mas também para mutuários que pegam empréstimos seguros.'' Christian Weller, economista-sênior do instituto de pesquisas de Washington Center for American Progress, acredita que a atual crise fará com que os credores se tornem mais cuidadosos, mas não significa que incidentes assim não voltarão a ocorrer. ''Nos próximos anos, credores, bancos ficarão mais cautelosos, mas assim que virem seus competidores optando por mercados mais arriscados, eles farão o mesmo. Veja as lições de emprestar para países em desenvolimento, a cada dez anos há ondas de empréstimos para nações em desenvolvimento, mas assim que estoura uma crise, esses países perdem suas camisas para saldar suas dívidas'', afirma. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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