Analistas preveem queda do preço do minério de ferro na China com aumento gradual da oferta

Estoques em queda nos portos chineses ajudam a elevar a cotação do insumo, mas projeções apontam para aumento nas extrações de minério de ferro pela Vale, o que deverá aliviar os preços

Publicidade

PUBLICIDADE

Por Matheus Piovesana
3 min de leitura

O salto das cotações do minério de ferro na China desde o último mês surpreendeu muitos analistas de mercado, que têm previsões bem mais conservadoras para os preços do insumo no fim do ano. Essas previsões não vêm sendo alteradas, o que mostra tendência de queda, por conta do aumento gradual na produção de grandes mineradoras, como a Vale. A dúvida é sobre o prazo e a intensidade da baixa.

No momento, a quantidade de minério disponível na China, principal mercado para o insumo, aponta preços em alta. Dados da Steelhome coletados pelo Bradesco BBI mostram que, na última semana, os estoques nos portos chineses caíram em 2 milhões de toneladas. Nas mineradoras chinesas, o estoque é o mais baixo dos últimos dois anos, segundo dados da Mysteel, também compilados pelo BBI.

Leia também

Nos cálculos de consultorias e bancos de investimento, o desequilíbrio entre a oferta restrita e uma demanda em alta na China não deve durar por todo o ano. A analista Gabriela Cortez, do Banco Inter, diz que uma boa parte da valorização do minério desde o ano passado é fruto de restrições de produção em todo o mundo, trazidas pela covid-19 e pela baixa da produção da Vale. "Porém, conforme a produção se eleve, se normalize, os preços tendem a cair", diz.

Aumento na quantidade de minério extraído pela Vale pode ser essencial para determinar preço do insumo. Foto: Marcos Arcoverde/Estadão

Daniel Sasson, chefe de análise de commodities do Itaú BBA, afirma que os preços médios esperados pela casa para este ano e para 2022 deixam clara a expectativa de uma baixa nos preços. Em 2021, o Itaú BBA projeta minério a um preço médio de US$ 155 a tonelada, e para 2022, de US$ 120 a tonelada. "Dado que o preço médio do fim do primeiro semestre vai ficar acima de US$ 170, nossa estimativa implica em queda relevante no segundo semestre."

Nos dois casos, a expectativa é de que a produção de aço da China se normalize, reduzindo a demanda por minério. De outro lado, espera-se que a Vale aumente a quantidade de insumo que extrai de suas minas. Essa combinação reduziria naturalmente os preços da commodity. No entanto, a projeção vem sendo feita desde o ano passado, e a expectativa foi contrariada até aqui pela resiliência da economia chinesa e pelas tensões entre o país e a Austrália.

Neste ano, a Vale espera produzir de 315 milhões a 335 milhões de toneladas de minério - no ano passado, produziu 300 milhões. A mineradora também espera agregar mais 23 milhões de toneladas à sua capacidade produtiva, que desde a tragédia de Brumadinho (MG), em janeiro de 2019, foi significativamente reduzida. No fim do ano que vem, viriam mais 50 milhões de toneladas, o que faria com que a mineradora brasileira pudesse produzir 400 milhões de toneladas.

Continua após a publicidade

Reposição, e não expansão

Apesar da perspectiva de maior oferta, é consenso entre analistas que os investimentos das grandes mineradoras globais servem para repor capacidade após o esgotamento de alguns projetos, e não para aumentar a produção de forma definitiva. Isso torna os desembolsos consideravelmente menores do que em meados da década passada, marcada por pesados aportes no setor em nível global. No Brasil, o maior exemplo é o megaprojeto S11D, construído pela Vale no Pará, e que custou US$ 14,3 bilhões.

"Temos épocas de alta e de baixa. Na década passada, após uma época de minério em quase US$ 197 a tonelada, a cotação foi caindo até chegar a US$ 42 em 2015", diz Roberto Galery, chefe do Departamento de Engenharia de Minas (Demin) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). "As grandes mineradoras do Brasil fizeram novos projetos com um custo de capital altíssimo. Montaram as indústrias para um preço de US$ 197, e tiveram de pagar com o minério a US$ 42", diz.

Em relatório assinado com os analistas Ricardo Monegaglia e Edgard Pinto de Souza, Sasson, do Itaú BBA, calculou que em 2012, os investimentos de Vale, Fortescue, Rio Tinto e BHP chegaram a US$ 60 bilhões, maior número do último ciclo de expansão. Em 2020, caíram para US$ 20 bilhões.

"Olhando para os projetos em andamento nas operações de minério de ferro das quatro, a maior parte dos projetos da Austrália tenta repor esgotamento de reservas", escreveram. "Ao mesmo tempo, a Vale está em vias de reiniciar produções fechadas ou restritas desde o rompimento da barragem de Brumadinho."

Os preços atuais de minério atrairão novos investimentos, mas eles devem vir de mineradoras menores, que têm projetos de construção mais rápidos. "No Brasil tem muitas pequenas minerações, que estão entrando no mercado", diz Galery, da UFMG. Segundo ele, elas não exportam, mas vendem minério para as maiores, como a Vale e a CSN Mineração, complementando suas produções.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.