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Analistas vêem virada brusca no cenário

Com aprofundamento da crise nos EUA, otimismo com a economia brasileira começa a ceder

Por Marcelo Rehder
Atualização:

O aprofundamento da crise nos Estados Unidos começa a provocar uma virada no otimismo de economistas e empresários a respeito do desempenho da economia brasileira neste ano, com redução nas estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). "Nunca houve uma virada de ano, pelo menos que eu me lembre, em que a reversão de expectativas fosse tão forte como a de agora", diz o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Júlio Sérgio Gomes de Almeida, hoje consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). "Dos fogos pelo ano que passou à apreensão pelo que pode vir, a mudança foi muito brusca." No novo cenário internacional, as projeções dos economistas para o crescimento do PIB baixaram de 5% para entre 4% e 4,5%, contrariando o ainda otimista ministro da Fazenda, Guido Mantega, que mantém a projeção de 5% feita antes da deterioração do quadro externo. Para Gomes de Almeida, o cenário que se tinha para a economia ganhou contornos bem menos favoráveis em poucas semanas. Segundo ele, se levar em conta apenas os fatores internos, como as forças da indústria, a oferta de crédito farto e o crescimento do emprego e da renda, as condições estariam dadas para se manter um crescimento de 5,5%, repetindo o desempenho esperado para 2007. Mas as mudanças nas condições externas tornam inevitável uma revisão do PIB. "O perigo de que o Banco Central (BC) venha a aumentar a taxa de juros, devido à inflação dos alimentos e aos problemas da retração da economia americana, nos levam a pensar numa taxa menor, na faixa de 4%", diz o economista. Um dos temores é que o agravamento da crise americana aumente a aversão ao risco e acelere ainda mais a saída de recursos estrangeiros do País, o que pressionaria a taxa de câmbio. O dólar muito valorizado seria mais um fator a empurrar para cima os índices de inflação, que já preocupam o BC. "A hipótese de que o Brasil entre em um ciclo recessivo não tem fundamento, mas é muito provável que a taxa de crescimento seja mais moderada por conta dos sinais de turbulência, que estão cada vez mais nítidos", diz Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo. Para ele, não se pode desconsiderar a importância que os Estados Unidos ainda têm na economia mundial. "Sozinho, o PIB americano representa 25% da economia global, enquanto os principais países emergentes juntos têm uma participação de 11% do bolo, e seu crescimento sempre esteve atrelado ao desempenho dos Estados Unidos." Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), afirma que nenhum país está imune aos efeitos da crise americana. Segundo ele, o Brasil, numa escala mundial, é menos afetado que a média porque a fatia dos EUA nas exportações do País é baixa, de 15%. "Em vez de 5%, vamos crescer 4,5% este ano."

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