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Economista e sócio da MB Associados

Opinião|Andar de lado e enxugar gelo

O desemprego ainda se elevará até o início do ano, quando projetamos taxa superior a 16%

Atualização:

Este é o último artigo do ano de 2020, um período totalmente dominado pela surpresa do aparecimento da pandemia, bem como pelos seus importantes impactos negativos na vida das pessoas e na economia. 

Apesar da melhora nas vendas, o comércio varejista brasileiro já deixou de faturar R$ 286,4 bilhões em decorrência da crise provocada pela pandemia. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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O ponto positivo é que o Natal chegará com uma esperança, trazida pelo início da vacinação em vários países do mundo e que também chegará ao Brasil, começando por São Paulo, que fez um belo trabalho com o Butantã.

Entretanto, após o bom número na variação do PIB do terceiro trimestre, passaremos por um período mais difícil agora e no início do ano. Vários fatores concorrem para isso.

O consumo das famílias deve desacelerar bastante por conta do fim dos pagamentos do coronavoucher, o que deixará milhões de pessoas com o caixa reduzido no fim do ano. Devemos lembrar que, para 2021, a única coisa garantida é o Bolsa Família, que paga menos de R$ 200 e atinge aproximadamente 14 milhões de pessoas. 

A forte aceleração recente da inflação de alimentos também ajuda a reduzir o poder de compra das pessoas. Na verdade, já começaram a aparecer pressões em outros itens, como energia elétrica, higiene e limpeza. Mais ainda, as projeções mostram o IPCA em 12 meses crescendo continuamente pelo menos até maio, quando, nas nossas projeções, a inflação estará bem acima de 5%.  Em paralelo, a taxa de desemprego, já bastante alta, ainda se elevará até o início do ano, quando projetamos um número superior a 16%.

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Finalmente, os casos de coronavírus voltaram a crescer e, com eles, os óbitos, cuja média móvel (de uma semana) atingiu um número próximo de 650 por dia. Com isso, muitos Estados e municípios voltaram a restringir a circulação e, consequentemente, o movimento de compras. 

Não é, pois, surpresa que várias indicações na ponta começam a relatar queda de vendas no varejo. Por exemplo, dados da GetNet mencionam uma queda superior a 5% para as vendas do comércio em novembro. Ao mesmo tempo, os produtores de material de limpeza relatam que, após o crescimento acumulado de 6,7% nas vendas até setembro, houve uma queda acumulada de 8% em outubro e novembro, devolvendo todos os ganhos do ano. Este quadro deve se manter no início de 2021.

Das outras fontes de demanda, o comércio exterior não parece adicionar algo mais do que já vem ocorrendo, dado o bom desempenho das commodities. Da mesma forma, ainda não existe nenhum sinal de crescimento mais significativo nos investimentos, como poderia ter sido o caso se reformas, privatizações, concessões e segurança jurídica tivessem andado de forma mais significativa.

Conforme era esperado por muita gente, e por decisão política, toda a pauta relevante no Congresso ficou para o próximo ano, exceto a necessária aprovação da LDO, sem o que o governo pararia em janeiro. Com o recrudescimento das discussões para as mesas da Câmara e do Senado, resultante da decisão do Supremo de não permitir a reeleição da antiga direção, tudo parou e não é improvável que a pauta legislativa só seja retomada após fevereiro. 

É forçoso reconhecer que não existe nenhum movimento mais significativo, no Executivo e no Legislativo, na direção da discussão de reformas, do ajuste fiscal e de como compatibilizar programas de transferências de renda com corte de despesa e trajetória construtiva na dívida pública. 

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Embora boa parte do mercado financeiro faça força para acreditar que tudo vai funcionar, o fato é que nos próximos meses seguiremos enxugando gelo e andando de lado, ainda lidando com a pandemia e com um governo ruim, muito ruim. 

Opinião por José Roberto Mendonça de Barros
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