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Angra vira a maior exportadora do país

Logística da Petrobrás faz município concentrar exportações da produção da Bacia de Campos, mesmo sem produzir nenhum petróleo

Por Nicola Pamplona , TEXTOS , Fábio Motta e FOTOS
Atualização:

Nem só de iates luxuosos e barcos de pesca vive hoje o tráfego marítimo de Angra dos Reis, balneário turístico no litoral sul-fluminense, a 150 quilômetros do Rio. O fluxo de grandes petroleiros é cada vez maior na região, reflexo de mudanças na logística de petróleo da Petrobrás, que levaram a cidade ao posto de maior exportadora do País. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento (Secex), Angra dos Reis exportou US$ 5,064 bilhões entre janeiro e julho deste ano, um crescimento de 110% com relação ao mesmo período do ano anterior. Em 2010, a cidade ultrapassou tradicionais exportadores como São Paulo e Santos na lista dos municípios com maior receita em comércio exterior do País.Do total exportado por Angra, 99,36% referem-se a petróleo bruto e 0,43% a combustíveis e lubrificantes para os petroleiros. Ou seja, praticamente não há outro bem exportável na cidade. E, curiosamente, Angra dos Reis não produz uma gota de petróleo: todo o óleo que passa pelo município vem de campos produtores em alto mar, principalmente na Bacia de Campos.Angra se tornou hoje uma espécie de hub exportador de petróleo, concentrando a produção da Bacia de Campos e transferindo-a a grandes petroleiros que levam a commodity para países importadores, principalmente China, Índia e EUA. Com essa estratégia, a Petrobrás liberou os dois maiores terminais do País, São Sebastião (SP) e Madre de Deus (BA), para abastecimento ao mercado interno.Movimento. Segundo dados da Transpetro, que opera o Terminal da Baía de Ilha Grande (Tebig), o município movimentou, em 2009, 40% do volume de petróleo exportado pela Petrobrás. Este ano, o número subiu a 60%. A tendência é que a concentração seja ainda maior, a partir de investimentos de R$ 920 milhões na ampliação do terminal, que hoje já opera também no sistema "ship to ship", com a transferência do petróleo entre navios em alto mar."Queremos que a Petrobrás concentre aqui também as exportações do pré-sal", diz o secretário de atividades econômicas da prefeitura de Angra, Alexandre Tabet. A atividade não gera grande volume de empregos, diz ele, mas é responsável pelo crescimento exponencial na arrecadação da cidade com royalties do petróleo - parte da receita é calculada sobre o volume movimentado no terminal.Angra é, este ano, o sexto maior arrecadador com royalties do País, com uma receita acumulada entre janeiro e julho de R$ 51,4 milhões. "São recursos importantes para ajudar o município a reverter a destruição causada pelas chuvas", comenta Tabet. Na virada do ano, a cidade viveu uma tragédia por conta de deslizamentos de terra, que provocaram cerca de 40 mortes.Pesca afetada. O crescimento da atividade petrolífera, porém, é motivo de preocupação em outro setor econômico importante no município: a pesca. "Os navios e rebocadores estão roubando cada vez mais o espaço dos pescadores", diz o diretor da Cooperativa dos Produtores de Pescado de Angra dos Reis (Propescar), Julio Magno Ramos. Além disso, há reclamações a respeito de problemas ambientais causados pela lavagem de tanques de navios com água do mar, negada pela Transpetro. "Não somos contra o petróleo, mas queremos ter participação nas discussões sobre o planejamento do uso da baía", diz Ramos, que pleiteia a criação de um fundo, com dinheiro dos royalties, para ajudar os pescadores. "Os navios maiores sempre têm a preferência e, se vejo um deles, não posso jogar minha rede", explica o pescador, alegando que a receita obtida com a pesca fica apenas no município, com a compra de gelo, combustível e mantimentos para as embarcações, além dos bens de consumo pessoal dos pescadores.O Brasil exportou este ano uma média de 623,5 mil barris por dia, volume superior ao registrado pelo Equador e próximo ao do Catar, dois países-membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

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