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Ano termina sem muita luz lá fora

Por Alberto Tamer
Atualização:

O Natal foi bom no Brasil. As vendas nos shoppings aumentaram 3,5% e as lojas mais simples estavam cheias. A livraria da minha preferência foi obrigada a manter as portas abertas até meia-noite para atender ao afluxo dos clientes que não paravam de entrar, refletindo o movimento de outras também. Lá fora, o ano vai cessando aos poucos, como um barco que navega lentamente, à luz de lanterna armada na popa. Só ilumina o passado. Aqui, não temos muito com que nos queixar. Como os outros emergentes, só começamos a sentir a crise nos últimos três meses, a partir de outubro, com a falência do Lehman Brothers. E ela havia se iniciado em agosto do ano passado, quando explodiu a bolha imobiliária nos Estados Unidos. Vamos fechar o 2008 aí perto de 6%. Como a China, somente agora as exportações começam a crescer menos. Como ela, também voltamos a intensificar esforços para estimular o mercado interno. É o que nos resta fazer, após ter liquidez ao sistema. O QUE DIZEM OS LEITORES Pelos e-mails que recebi sobre a coluna de Natal, foi possível sentir um pouco o ânimo dos consumidores e empresários. Estes me dizem que estão cautelosos, mas não tiveram um ano que poderiam chamar de ruim. Estão se preparando para o presente. Sabem que não vão ter um ano como este e, me dizem, concentram mais atenções na administração financeira, que exige cuidado maior. Eles sabem que vão exportar menos e buscam mais espaço no mercado interno. Os e-mails dizem mais: que confiam no que o governo vem fazendo para estimular a demanda. Acham que vai dar certo. Já há sinais disso. Eles não alimentam nenhuma ilusão quanto ao mercado externo, para importar ou exportar. O QUE HÁ LÁ FORA E, nesse sentido, o fim de ano projeta um quadro externo de incerteza que não se deve diluir no correr de apenas alguns meses. Não é só porque a economia americana e européia, que representam 50% do PIB mundial, estão entrando em recessão. É que a crise financeira não foi ainda de todo debelada, apesar de já terem sido injetados mais de US$ 2 trilhões para capitalizar o sistema neste ano, só nos Estados Unidos. O Tesouro ainda tem US$ 350 bilhões dos US$ 700 bilhões autorizados pelo Congresso, mas os analistas afirmam que ainda é pouco; vai ser preciso mais, muito mais. Quanto? Ninguém ousa prever. Sabe-se apenas que serão mais alguns trilhões de dólares. ESTÁ TUDO NEBULOSO A desregulamentação, as dívidas não registradas em balanço de bancos, seguradoras e agências financeiras hipotecárias, nos fundos de hedge; a falta de fiscalização por parte do Tesouro...Tudo isso cria um quadro nebuloso que, ainda agora, não permite avaliar o que ainda pode acontecer.De repente, surgem nuvens negras que os governos conseguem dissolver para logo mais serem surpreendidos por outras que ninguém soube prever. Isso está sendo agravado pela internacionalização do sistema e a globalização do mercado. Pela primeira vez em 70 anos, uma crise localizada nos Estados Unidos contaminou com tanta rapidez a Europa e repercute no Japão e nos países emergentes da Ásia. Não se trata mais agora de saber quanto, mas onde essas dívidas estão escondidas. Em conseqüência, o mercado financeiro internacional continuará retraído.Haverá ainda por algum tempo menos recursos para financiar empresas e o comércio exterior, ele mesmo já atingido pela dinâmica da desaceleração econômica. O QUE AJUDA, NÃO AJUDA Os dois aspectos positivos - redução dos preços das commodities agrícolas e do petróleo - têm um efeito apenas moderador sobre a inflação. Em contrapartida, enfraquece a economia dos países exportadores desses produtos. Não seria tão grave se esses países, quase todos integrantes do grupo dos emergentes, não fossem exatamente os que até agora vêm sustentando o crescimento da economia mundial, tentando evitar que a recessão se aprofunde. Se eles, que ainda continuam crescendo em média 6%, fracassarem, será difícil evitar a depressão. Como se vê, estamos diante de um quadro internacional dominado por fatores conflitantes.Isso deverá persistir pelo menos no decorrer do primeiro semestre que se inicia em uma semana. A solução alternativa é persistir de forma mais ativa no socorro ao sistema financeiro e estimular ao máximo o aumento da demanda interna dos países que mais pesam na economia mundial: Estados Unidos e Europa. Voltaremos a esse tema nas próximas colunas. Felizmente, é isso o que Obama pretende fazer assim que ocupar a Casa Branca. E, mais felizmente ainda, é que o Brasil já começou a fazer isso enquanto eles discutem, prometem, planejam e suas economias afundam na recessão. *E-mail: at@attglobal.net

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