BRASÍLIA - O anúncio do programa Pró-Brasil provocou perda de R$ 43 bilhões no valor de mercado das empresas listadas na Bolsa de São Paulo e o aumento do risco-Brasil. O lançamento do programa pelo governo causou, isoladamente, um aumento de 22 pontos no risco país, medido pelo CDS de prazo de cinco anos.
Os dados constam em documento elaborado pela Secretaria de Política Econômica (SPE), obtido pelo Estadão/Broadcast, que serviu para subsidiar a posição do ministro da Economia, Paulo Guedes, contra o desenho do programa que prevê uma injeção de recursos públicos para acelerar o crescimento.
Segundo a nota “Impactos do anúncio do programa Pró-Brasil sobre os mercados e sobre a economia”, o aumento na percepção de risco também levou à alta da curva de juros de 0,2% para as taxas superiores a três anos. A nota diz que “apenas o anúncio” do Pró-Brasil, mesmo sem a implementação, já implicou em custos substanciais à sociedade, uma vez que causa incerteza e piora as expectativas.
No documento, a SPE se posiciona contrária ao anúncio do Plano Pró-Brasil, cujo objetivo é estimular o crescimento através de aumento substancial de investimentos públicos em infraestrutura. “Os resultados deixam claro de forma inequívoca que qualquer política que vise estimular o crescimento através de um aumento substancial de gastos terá efeito contrário”, conclui a nota.
No dia do anúncio do Plano Pró-Brasil, o economista Adolfo Sachsida, que comanda a SPE, foi o primeiro da equipe econômica a expor publicamente o desconforto com o seu lançamento.
A SPE diz que a situação fiscal do país é extremamente complicada, com um nível de dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) entre os mais altos dos países emergentes. Para a SPE, a crise provocada pelo novo coronavírus, à medida que tende a reduzir o PIB e elevar a dívida pela perda de arrecadação e aumento temporário de gastos, deve aumentar ainda mais a relação dívida/PIB, o que implica em um elevado custo de rolagem da dívida.
“Estratégias de elevar o crescimento com base no investimento público em infraestrutura podem funcionar em economias com dívida/PIB e carga tributária em níveis muito menores, porém a situação fiscal atual do país inviabiliza completamente esse tipo de estratégia”, alerta a SPE.
Ruína
O estudo da SPE é mais um capítulo do mal-estar provocado pelo lançamento do programa. A declaração de Guedes na quarta-feira, 30, acusando ministros de querererem “bater carteira” do governo com o Pró-Brasil, já tinha incomodado nos bastidores.
O Pró-Brasil levou ao rompimento de Guedes com o ministro de Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. Ex-integrante da equipe econômica, Marinho acabou ficando pra trás com a negociação direta entre o ministro de Infraestrutura, Tarcísio Freitas, e Guedes.
A percepção no Ministério de Desenvolvimento Regional (MDR), segundo apurou a reportagem, é que todo apoio que existia ao plano de Marinho "ruiu rapidamente".
Os técnicos, porém, seguem trabalhando no plano de Marinho internamente. O argumento na pasta é que a divulgação "enviesada" de um documento do MDR acabou atrapalhando a comunicação do plano, que seria dimensionado em acordo com a Casa Civil e a Economia.
Uma fonte ouvida pela reportagem lembra que, na época do governo Fernando Henrique Cardoso, todo mundo que entrou em choque com o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, um "superministro" dos oito anos da gestão FHC, acabou saindo do governo.
Diante da pressão, a ordem no MDR tem sido deixar a poeira abaixar, sem entrar novamente em rota de colisão com a Economia.