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Anúncio do Pró-Brasil provoca perda de R$ 43 bilhões no valor de mercado de empresas 

Cálculo da Secretaria de Política Econômica aponta ainda que lançamento do programa aumentou o risco país; documento serviu para subsidiar posição de Guedes, que é contra o plano

Foto do author Adriana Fernandes
Por Adriana Fernandes e Idiana Tomazelli
Atualização:

BRASÍLIA - O anúncio do programa Pró-Brasil provocou perda de R$ 43 bilhões no valor de mercado das empresas listadas na Bolsa de São Paulo e o aumento do risco-Brasil. O lançamento do programa pelo governo causou, isoladamente, um aumento de 22 pontos no risco país, medido pelo CDS de prazo de cinco anos. 

B3, a Bolsa de Valores de São Paulo Foto: Amanda Perobelli/Reuters

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Os dados constam em documento elaborado pela Secretaria de Política Econômica (SPE), obtido pelo Estadão/Broadcast, que serviu para subsidiar a posição do ministro da Economia, Paulo Guedes, contra o desenho do programa que prevê uma injeção de recursos públicos para acelerar o crescimento.

Segundo a nota “Impactos do anúncio do programa Pró-Brasil sobre os mercados e sobre a economia”, o aumento na percepção de risco também levou à alta da curva de juros de 0,2% para as taxas superiores a três anos. A nota diz que “apenas o anúncio” do Pró-Brasil, mesmo sem a implementação, já implicou em custos substanciais à sociedade, uma vez que causa incerteza e piora as expectativas.

No documento, a SPE se posiciona contrária ao anúncio do Plano Pró-Brasil, cujo objetivo é estimular o crescimento através de aumento substancial de investimentos públicos em infraestrutura. “Os resultados deixam claro de forma inequívoca que qualquer política que vise estimular o crescimento através de um aumento substancial de gastos terá efeito contrário”, conclui a nota.

No dia do anúncio do Plano Pró-Brasil, o economista Adolfo Sachsida, que comanda a SPE, foi o primeiro da equipe econômica a expor publicamente o desconforto com o seu lançamento.

A SPE diz que a situação fiscal do país é extremamente complicada, com um nível de dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) entre os mais altos dos países emergentes. Para a SPE, a crise provocada pelo novo coronavírus, à medida que tende a reduzir o PIB e elevar a dívida pela perda de arrecadação e aumento temporário de gastos, deve aumentar ainda mais a relação dívida/PIB, o que implica em um elevado custo de rolagem da dívida.

“Estratégias de elevar o crescimento com base no investimento público em infraestrutura podem funcionar em economias com dívida/PIB e carga tributária em níveis muito menores, porém a situação fiscal atual do país inviabiliza completamente esse tipo de estratégia”, alerta a SPE.

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Ruína

O estudo da SPE é mais um capítulo do mal-estar provocado pelo lançamento do programa. A declaração de Guedes na quarta-feira, 30, acusando ministros de querererem “bater carteira” do governo com o Pró-Brasil, já tinha incomodado nos bastidores.

O Pró-Brasil levou ao rompimento de Guedes com o ministro de Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. Ex-integrante da equipe econômica, Marinho acabou ficando pra trás com a negociação direta entre o ministro de Infraestrutura, Tarcísio Freitas, e Guedes. 

A percepção no Ministério de Desenvolvimento Regional (MDR), segundo apurou a reportagem, é que todo apoio que existia ao plano de Marinho "ruiu rapidamente". 

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Os técnicos, porém, seguem trabalhando no plano de Marinho internamente. O argumento na pasta é que a divulgação "enviesada" de um documento do MDR acabou atrapalhando a comunicação do plano, que seria dimensionado em acordo com a Casa Civil e a Economia.

Uma fonte ouvida pela reportagem lembra que, na época do governo Fernando Henrique Cardoso, todo mundo que entrou em choque com o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, um "superministro" dos oito anos da gestão FHC, acabou saindo do governo.

Diante da pressão, a ordem no MDR tem sido deixar a poeira abaixar, sem entrar novamente em rota de colisão com a Economia. 

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