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Apesar da crise, imigrantes não querem voltar, indica pesquisa

Estudo feito para a BBC mostra uma redução nos fluxos de migrantes e de remessas.

Por BBC Brasil
Atualização:

Apesar de fortemente afetados pela crise econômica global que atingiu de maneira intensa os países desenvolvidos, a maioria dos imigrantes econômicos abrigados nesses países preferiu permanecer a voltar aos seus locais de origem, segundo indica uma pesquisa preparada com exclusividade para o Serviço Mundial da BBC. O estudo, feito pela pela organização americana Migration Policy Institute (MPI), também indica que a crise reduziu o fluxo de migrantes em busca de melhores condições pelo mundo. Os dados levantados pela pesquisa mostram ainda que os imigrantes estão entre os grupos mais atingidos pela crise e que as remessas de dinheiro enviadas por eles aos seus países sofreram uma queda na maioria das regiões. Apesar dessa queda nas remessas, esse envio de dinheiro vem ganhando importância relativa para os países que a recebem, já que outras fontes de ingressos de divisas vêm se contraindo. Brasil é exceção Apesar das tendências globais apontadas pela pesquisa, há algumas exceções como o caso do Brasil, como aponta o vice-presidente da MPI e co-autor do estudo, Michael Fix. Imigrantes brasileiros, principalmente nos Estados Unidos e no Japão, estão retornando em grande número ao Brasil, mas apesar disso as remessas de dinheiro ao país vêm aumentando. Para Fix, uma das principais razões para o retorno de um grande número de imigrantes brasileiros ao país é econômica, já que a economia do Brasil vem se saindo relativamente melhor do que a dos países de destino dos imigrantes. "Em estudos anteriores, verificamos que as decisões dos imigrantes sobre retornar ou não aos seus países de origem tinham mais relação com as condições econômicas em seus países natais do que nos seus países de destino", afirma Fix. Outra questão apontada por ele para justificar o retorno em grande número dos imigrantes brasileiros é o fato de que muitas de suas ocupações nos países de destino foram mais afetadas pela crise econômica global. Esse seria o caso, por exemplo, da construção civil nos Estados Unidos, onde há uma grande concentração de imigrantes brasileiros. Segundo a MPI, 21% dos imigrantes brasileiros nos Estados Unidos estavam empregados na construção civil, em comparação com os 8% dos trabalhadores americanos empregados pelo setor. O fato de um número menor de imigrantes estar enviando uma quantidade maior de dinheiro ao Brasil poderia ser também uma consequência do bom momento da economia brasileira, na avaliação de Fix. "É possível que parte desse dinheiro não esteja sendo usado para a compra de produtos essenciais, mas enviado para aproveitar o melhor clima para investimentos no Brasil", diz ele. Tendên cia global O estudo preparado pela MPI para a BBC observa que "não há uma única tendência global que capture a forma como a recessão afetou os fluxos de migração" desde o início da crise econômica global. "Os efeitos têm nuances e são variados, dependendo em grande parte da característica dos fluxos (permanente, temporário, ilegal e humanitário); se eles são para ou a partir de um país de destinação; e a região do mundo envolvida", observa o documento. Apesar disso, para traçar um panorama da situação global dos imigrantes, o estudo avaliou os principais corredores de migração pelo mundo - do México para os Estados Unidos, do Leste Europeu recém-integrado à União Européia à Grã-Bretanha e à Irlanda, do Leste Europeu e do norte da África para a Espanha, de/para Índia, Bangladesh, Filipinas e Nepal para/de Estados do Golfo Pérsico, e de áreas rurais para cidades na China. De acordo com o estudo, em 2005 havia 195 milhões de imigrantes no mundo, um crescimento de mais de duas vezes e meia desde 1960, quando havia 75 milhões de imigrantes pelo mundo. Pelas estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), há hoje no mundo entre 20 e 30 milhões de imigrantes ilegais, o que representa de 10% a 15% do total de imigrantes no mundo. A maior parcela de imigrantes, tanto legais quanto ilegais, está nos Estados Unidos, um dos países mais afetados pela crise global. Um em cada cinco imigrantes de todo o mundo está no país, que abriga apenas um em cada 20 habitantes do globo. O governo americano estima em 11 milhões o número total de imigrantes ilegais. Para a MPI, muitos dos trabalhadores imigrantes foram mais fortemente atingidos pela crise por uma série de fatores: baixo conhecimento da língua local e baixa instrução; concentração em setores mais afetados por ciclos de expansão e recessão, como a construção civil; o fato de que muitos desses imigrantes têm contratos temporários ou acertos informais; e o aumento da discriminação em tempos de crise. "Os trabalhadores contratados mais recentemente, assim como os trabalhadores de nacionalidades que entraram no mercado de trabalho mais recentemente, também podem não ter as redes sociais e profissionais que podem ajudar a amortecer o impacto da recessão", afirma o estudo. Segundo a MPI, apesar de os imigrantes representarem um em cada seis trabalhadores nos Estados Unidos, eles representavam, no início da crise, um em cada dois novos trabalhadores nos Estados Unidos e quase sete em cada dez novos trabalhadores na Grã-Bretanha. Remessas Outra questão analisada pelo estudo da MPI para a BBC foi o comportamento das remessas internacionais após o início da crise. A conclusão geral do estudo é de que na maioria dos casos houve uma queda acentuada dessas remessas, mas que outras fontes de divisas para os países de origem dos imigrantes caíram ainda mais no período, aumentando a importância relativa dessas remessas. Segundo o levantamento do estudo, o fluxo global de remessas enviadas por imigrantes deve ter uma queda de 7% neste ano, comparado com uma estimativa de 10% de queda no comércio internacional e de 57% nos investimentos estrangeiros diretos. O estudo observa que entre 2000 e 2006 as remessas cresceram de maneira substancial na América Latina e no Caribe, na Ásia e na Europa, com um crescimento menos vigoroso no Oriente Médio e na África. Esse crescimento desacelerou em 2006 e 2007 na América Latina, principalmente por conta do efeito da crise no setor de construção nos Estados Unidos, e foi praticamente inexistente em 2007 e 2008. Com o alastramento da crise para a Europa e a Rússia, as remessas para a Ásia Central e para o Leste Europeu também estagnaram entre 2007 e 2008. No leste e no sul da Ásia, as remessas continuaram a crescer nesse período, ultrapassando a América Latina e o Caribe como a principal região de destino das remessas. O Brasil é novamente uma exceção nessa tendência mundial. Estimativas do Banco Mundial indicam um aumento de 16% nas remessas ao Brasil entre 2007 e 2008, de US$ 4,4 bilhões para US$ 5,1 bilhões. Como comparação, nesse mesmo período, as remessas ao México tiveram uma queda de 3%, de US$ 27,1 bilhões para US$ 26,3 bilhões. Apesar do aumento das remessas, elas ainda têm uma participação relativamente pequena no PIB brasileiro - 0,3% em comparação aos 2,7% do México, 7% no Equador ou do extremo do Tajiquistão, onde as remessas de imigrantes representam 45,5% do PIB. Gráficos BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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