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Apesar de Bovespa estar na baixa, ainda é cedo para voltar a investir

Para especialistas, o mercado deve apresentar muita volatilidade em 2014; se quiser aplicar, investidor precisa ter horizonte de pelo menos dois anos

Por Yolanda Fordelone e Gustavo Santos Ferreira
Atualização:

SÃO PAULO - O mercado de ações no Brasil está em queda. Mas a regra clássica de investir na Bolsa durante a baixa e vender na alta não vale neste momento. Apesar do recuo de 15,5% do Ibovespa em 2013 e do mau começo deste ano (veja o gráfico), analistas creem que investimentos na Bovespa só devem ser considerados num horizonte de resgate de longo prazo, acima dos 18 meses.

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Em 2014, as turbulências do mercado devem se manter. As reduções nas injeções mensais de dólares do banco central dos Estados Unidos nos mercados diminuirão o fluxo de investimentos. Há também o possível corte na nota de crédito do Brasil, que, caso ocorra, afugentará aplicações. Pesam ainda a desconfiança em relação aos emergentes e o risco de desaceleração econômica na China, importante mercado para empresas nacionais, como a Vale.

"No Brasil, a palavra é volatilidade", diz o gestor de renda variável da Concórdia, Thiago Tregier. "A Bolsa só reagirá quando o cenário interno melhorar e, com ele, as perspectivas para o PIB." O resultado da Bolsa, para Rodrigo Vazquez, planejador financeiro certificado pelo IBCPF, dependerá do desempenho macroeconômico do País. "A Bolsa cresce quando o PIB sobe, mas não deve haver nenhuma melhora expressiva neste ano", diz.

Não se pode negar as oportunidades de compra de algumas ações, hoje vendidas pela metade do valor patrimonial das empresas, como no caso da Petrobrás. Mas o sobe e desce assusta. Assim, a sugestão é clara: "O investidor só deve colocar na Bolsa o capital que não vai precisar em menos de dois anos", diz Vazquez.

O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, tem opinião semelhante. Embora corrobore a recomendação de que devemos comprar na baixa e diga que os preços das ações da Bovespa estão mais descontados do que deveriam, pondera: "Fatores externos e domésticos, como as eleições presidenciais, sugerem volatilidade no curto prazo e, para um investidor pequeno, pode ser arriscado".

Hoje, o investidor estrangeiro está se livrando de suas ações no País, vendendo-as por preço inferior ao que elas realmente valem - e isso derruba as cotações. Seus investimentos têm sido levados para mercados considerados mais seguros, como o americano, cujas bolsas têm maiores retornos. O índice S&P 500, por exemplo, tem alta de 21% em 12 meses. O Ibovespa, por sua vez, registra queda de 17% no período. Das 73 ações no pregão, só 12 estavam em alta até o dia 13 (veja o gráfico).

Petrobrás. Para alguns setores, como os de energia elétrica e petróleo, a atuação do governo tem contado negativamente. O mercado vê com maus olhos o "intervencionismo" da equipe econômica. No caso específico da Petrobrás, acredita-se que a política de preços dos combustíveis deveria ser independente da perseguição à meta de inflação. O peso do poder de decisão do governo na empresa pode ser medido pelo cargo desempenhado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, na estatal: ele é presidente do Conselho de Administração.

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No dia do último reajuste de preços, em dezembro, as ações da empresa tombaram 10%. As altas da gasolina e do diesel não bastaram para tirar a defasagem dos preços locais em relação aos praticados no exterior. Essa diferença faz com que a empresa acumule prejuízo com importações, ao subsidiar o consumo interno.

De acordo com o diretor do Centro de Energia e Recursos Naturais da Ernst & Young, Heron Miguens, o cenário não é positivo para companhia em pelo menos dois anos. São três os fatores domésticos prejudiciais, diz: (1) interferências do governo; (2) baixos níveis de produção, associados ao alto custo de exploração do petróleo; e (3) a tensão de um ano de eleições como este.

A desconfiança dos investidores com a economia brasileira joga contra a empresa, diz Miguens. Como a Petrobrás é a maior companhia nacional, o humor do mercado em relação ao Brasil sempre respinga sobre ela. E o momento, como se sabe, não é de risos. Só em 2014, seus papéis preferenciais já caíram 15%. Estão cotados na faixa dos R$ 14, algo inédito desde 2008.

Bancos. Dentro do Ibovespa, além de Petrobrás e Vale (queda de 26% em 12 meses), as ações de bancos não tinham bom desempenho até janeiro. A primeira explicação é que, por serem ações líquidas, há forte relação entre os papéis e o momento da economia. A saída de estrangeiros da Bolsa impacta fortemente o preço dos ativos. "A segunda questão é o pagamento dos planos econômicos, algo ainda não julgado na Justiça e que trouxe pressão sobre o setor", avalia a analista Karina Freitas, da Concórdia.

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Os dados já divulgados em fevereiro, porém, são bons, diz o analista da Coinvalores Felipe Silveira. Com boas perspectivas, a recomendação é de compra, sempre considerando que, neste ano, a ação pode ainda ter volatilidade. Silveira só faz uma ressalva, para Santander e Banco do Brasil. "O Santander demorou para cortar custos, se comparado ao que outros bancos fizeram", diz.

"A estratégia do BB fez o índice de inadimplência subir no final do ano passado. A inadimplência do banco ainda é inferior à média, mas cresceu enquanto a média caiu", afirma.

As ações do setor já reagem. Os papéis do Itaú Unibanco, que estavam em tendência de queda, passaram a subir após a divulgação do balanço do banco. Figuram entre as maiores altas do Ibovespa em 2014.

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Telecom. Dentro do Ibovespa também se destacam as ações do setor de telecomunicações, com Oi, Telefônica Brasil e TIM no campo positivo. "Questões pontuais influenciam cada papel, como processos societários no caso da Oi e da TIM e o histórico de boa pagadora de dividendos da Telefônica", analisa Karina.

Para o setor, porém, especialistas têm indicado manutenção, já por receio de as ações terem se valorizado muito. Ou seja, quem já tem o ativo deve mantê-lo na carteira e quem está de fora não deve comprá-lo.

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