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Apesar de crescer durante pandemia, Mercado Livre cortará investimentos

Setor financeiro avançando a ritmo lento motivou empresa a cortar os R$ 4 bilhões que seriam aportados no País em 2020; na área de logística, contratações foram aceleradas

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Por Luciana Dyniewicz
Atualização:

Nem mesmo uma das empresas mais resilientes para atravessar a crise causada pela pandemia da covid-19 deve concretizar seu plano de investimentos neste ano. Apesar de continuar crescendo nas últimas semanas, quando a economia em geral praticamente parou, o Mercado Livre não deve aportar os R$ 4 bilhões que havia anunciado para o País em 2020, segundo o vice-presidente executivo da companhia, Stelleo Tolda.

Ainda não há definição de quanto desse orçamento deixará de ser executado, diz o executivo. Estão ameaçados principalmente recursos que seriam usados para promover a carteira digital do grupo, ferramenta que permite o consumidor pagar compras feitas tanto no Mercado Livre como em outros sites ou estabelecimentos.

Os pagamentos com QR Code, que só pode ser feitos em compras físicas, estão sofrendo mais, diz Tolda. Foto: Werther Santana/Estadão

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“Temos mantido o plano de investimento na parte de logística, mas é provável que não invistamos os R$ 4 bilhões que tínhamos anunciado. Incentivos para o uso da carteira digital em restaurantes, a gente suspendeu. Incentivos para pessoas irem a farmácias, a gente manteve. Estamos sendo seletivos”, diz Tolda.

A carteira digital da empresa faz parte dos negócios do Mercado Pago, braço financeiro do grupo que tem também maquininhas de cartão de crédito e débito e que vinha acelerando o ritmo de crescimento do grupo como um todo. No último trimestre do ano passado, por exemplo, enquanto a receita com as vendas do site cresceu 80% na comparação com o mesmo período de 2018, a receita que exclui essas vendas avançou 90%, em um movimento puxado pelo negócios de pagamentos.

Tolda destaca que a carteira digital e a área de maquininha da empresa continuam crescendo, mas em ritmo menor do que em meses anteriores. Segundo ele, porém, os pagamentos com QR Code, tecnologia lançada em setembro de 2018 e uma das grandes apostas do Mercado Pago, está sofrendo mais – a ferramenta só pode ser usada em compras feitas fisicamente.

As dificuldades que o braço financeiro do grupo enfrentarão foram, inclusive, mencionadas em relatório do Itaú Unibanco que colocava o Mercado Livre como uma das empresas do varejo brasileiro mais bem posicionadas para enfrentar a crise devido a sua base diversificada de vendedores. 

“As perspectivas de crescimento do Mercado Pago sofrerão significativamente com a redução de fluxos nas principais cidades onde o Mercado Livre opera. As maiores cidades de Argentina, Brasil e México estão adotando medidas de distanciamento social e, na maioria dos casos, já fecharam lojas não essenciais, o que obrigou o Mercado Pago a suspender seu plano de expansão para 2020”, diz o documento. 

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O Credit Suisse, no entanto, afirmou, também em relatório, que a queda nas transações com QR Code devem ser compensadas pelo aumento nas vendas no site do Mercado Livre. O banco suíço apontou ainda que a pandemia deve mudar o modo de comportamento do consumidor, acelerando o crescimento do e-commerce em áreas em que ele ainda é tímido, como consumo de luxo e de alimentos – uma transformação que beneficia o Mercado Livre.

Apesar de o grupo não ter, por ora, planos de explorar o segmento de luxo, já está se movendo em direção a outras áreas que estão avançando na pandemia. Entre 24 de fevereiro e 24 de março, o número de pedidos de produtos alimentício e de limpeza feitos no site cresceu 14% e o ticket médio dessas compras, 22%, segundo relatório do Itaú feito com base em dados do Mercado Livre.

O crescimento do comércio online durante a pandemia tem feito a empresa acelerar a contratação de funcionários na área de logística. A companhia não divulga o total de novos empregados, mas já atingiu o número previsto para ser alcançado em novembro de 2020. 

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A força das vendas online, porém, parece não ter sido suficiente para convencer o mercado financeiro. Enquanto o índice Nasdaq recuou 8,6% desde 20 de fevereiro, um dia antes de as bolsas começarem a derreter no mundo todo por causa da pandemia, as ações do Mercado Livre negociadas na Nasdaq caíram 18,9%.

Tolda, no entanto, destaca que a covid-19 vai transformar profundamente os hábitos do consumidor, e as empresas digitais deverão se recuperar mais rapidamente. “Não estamos totalmente imunes aos impactos dessa pandemia. (...) Mas uma tendência que virá é a maior digitalização do e-commerce e dos serviços financeiros, isso beneficia as empresa mais digitalizadas e preparadas.”