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Elevar os gastos pode ser 'caminho para uma derrota' nas eleições, diz Guedes

Ministro da Economia reconheceu em evento que a indefinição sobre o Auxílio Brasil, como será chamado o sucessor do Bolsa Família, tem causado ruídos no mercado financeiro; ministro também afirmou que a economia brasileira está 'bombando'

Foto do author Eduardo Gayer
Por Idiana Tomazelli e Eduardo Gayer
Atualização:

SÃO PAULO E BRASÍLIA - No momento em que integrantes da ala política do governo defendem a renovação do auxílio emergencial a vulneráveis, o ministro da Economia, Paulo Guedes, alertou que gastar mais dinheiro “pode ser caminho para uma derrota eleitoral”

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“As eleições vêm aí, e as pessoas ficam alucinadas em véspera de eleição. Todo mundo fica nervoso, todo mundo quer ganhar voto, todo mundo quer gastar dinheiro, e isso pode ser caminho para uma derrota eleitoral”, disse Guedes durante palestra nesta terça-feira, 28, no 5º Fórum Nacional do Comércio, promovido pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).

O presidente Jair Bolsonaro deve concorrer à reeleição em 2022. De olho na campanha, o governo tem trabalhado para tirar do papel a ampliação do Bolsa Família. Mesmo assim, a nova política social contemplaria 16,5 milhões de famílias – um número bem menor do que o alcance do auxílio emergencial, que chega a 39 milhões.

A escalada inflacionária foi reconhecida pelo ministro Paulo Guedes, mas que jogou a responsabilidade no colo do Banco Central Foto: Dida Sampaio/Estadão - 13/9/2021

O ministro da Cidadania, João Roma, disse na segunda-feira ao Estadão/Broadcast que o tema da prorrogação “está na mesa”, embora nenhuma decisão tenha sido tomada. “É preciso que haja um esforço do Estado brasileiro para proteger 25 milhões de cidadãos”, disse Roma, em referência ao público que hoje recebe o auxílio emergencial, mas ficaria fora do novo Bolsa Família.

Nesta terça, mais cedo, porém, o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, disse que o governo tem “fortes restrições” para renovar o auxílio emergencial. Segundo ele, a ajuda foi um “tratamento extraordinário” para lidar com o aumento da vulnerabilidade e da pobreza diante dos efeitos da pandemia da covid-19, mas não deveria ser a solução para lidar com questões estruturais, como o próprio desemprego.

Durante o evento, Guedes reconheceu que a indefinição sobre o Auxílio Brasil, como será chamado o sucessor do Bolsa Família, tem causado ruídos no mercado financeiro, que teme uma guinada populista e irresponsabilidade fiscal.

“Tem uma certa incerteza que precisa ser removida. Precisamos de um Bolsa Família em torno dos R$ 300, e nós temos que fazer isso, de novo, com responsabilidade fiscal”, disse o ministro.

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Hoje, o Bolsa Família paga em média R$ 190 por família. O reajuste, porém, só é viável com a resolução do impasse em torno dos precatórios, dívidas judiciais a serem pagas pela União e que somam R$ 89,1 bilhões – ocupando todo o espaço que estava reservado para a política social turbinada dentro do teto de gastos, a regra que limita o avanço das despesas à inflação.

Guedes disse que é preciso aprovar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que muda a regra de pagamento dos precatórios, para liberar espaço no teto, e a reforma do Imposto de Renda, uma vez que a tributação sobre lucros e dividendos será a fonte de financiamento do programa. “Precisamos dessa aprovação dupla. Se aprovarmos isso, mercados se acalmam, Bolsa volta a subir”, disse Guedes.

“Com essas duas peças, você tem o Bolsa Família e o mercado sossega. Porque o medo do mercado é justamente que haja uma falta de compromisso fiscal”, reafirmou o ministro.

Apesar de desemprego e inflação altos, Guedes diz que PIB brasileiro está 'bombando'

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Apesar de os indicadores econômicos mostrarem desemprego elevado e uma inflação alta que corrói o orçamento das famílias, Paulo Guedes, também afirmou na noite desta terça que a economia brasileira está "bombando" e "voando".

"O Brasil está bombando, esses 5,5% [de crescimento do PIB] não é brincadeira. E os mesmos que previram que o Brasil iria cair 10% e caiu 4%, que previram o Brasil iria ficar lá embaixo e voltou em V, que previram que esse ano não iria ter crescimento e nós vamos crescer 5,5%, eles estão fazendo rolagem da desgraça. Desgraça agora é o ano que vem, ano que vem o Brasil não vai crescer nada. Vão estar errados de novo [...] Essa ideia de que o Brasil não vai crescer no ano que vem é política, é blá blá blá”, disse o ministro no mesmo evento.

"Nós voltamos em V", voltou a afirmar o ministro. "Eu acho que a economia está voando. Ela está vindo com força, os juros vão subir um pouco, para tentar frear a inflação, mas as duas coisas são indissociáveis, o crescimento está contratado".

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Contudo, o País ainda tem 14,4 milhões de desempregados, a inflação já passou dos dois dígitos no acumulado em 12 meses até a metade de setembro - o IPCA-15 registrou alta de 10,05% no período. 

De acordo com projeções do mercado compiladas pelo mais recente boletim Focus, divulgada na segunda-feira, o índice oficial de preços do País, o IPCA, deve chegar a 8,45% em 2021; a desocupação deve fechar em 13% e o avanço do PIB deve ser de 5,04%.

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A escalada inflacionária foi reconhecida pelo ministro, mas que jogou a responsabilidade no colo do Banco Central. "A inflação está subindo? Gaveta 18, BC independente, é o gato que caça esse rato", declarou. 

Guedes também afirmou no evento que os programas criados pelo governo durante a pandemia são muito elogiados no exterior. "Do fundo do poço até hoje, criamos 3 milhões de empregos", ressaltou o ministro. "A pandemia foi terrível. Muito medo, muito receio, não se sabia o que era o futuro", acrescentou. Guedes lembrou ainda que o País vive uma crise hídrica "quando saiu", nas palavras dele, da segunda onda da pandemia.

O chefe da Economia também reconheceu a participação do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF) na criação de mecanismos para enfrentar os impactos econômicos da covid-19. "Não faltou dinheiro para saúde, mas não houve abuso, não virou gasto permanente", defendeu Guedes, que também chamou os empresários de "a força do Brasil".

O ministro ainda afirmou que as reformas econômicas foram mantidas, apesar da dificuldade do governo em avançar com os projetos da tributária e da administrativa, além dos projetos de privatizações. "Não vamos parar, vamos seguir fazendo reformas até o último dia", afirmou. "Estamos tomando medidas estruturais que são necessárias."