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Apesar de economia estagnada, venda de imóveis cresce 10% no 1º trimestre

Mesmo com desemprego em alta e revisões para baixo do crescimento do PIB, setor reduziu estoques e aumentou lançamentos, em função de uma demanda que está reprimida há cinco anos, aponta associação; resultado, no entanto, ficou aquém do esperado

Por Douglas Gavras
Atualização:

Apesar da paralisia da economia, do desemprego alto e da perspectiva de que o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre tenha sido negativo, o mercado imobiliário aumentou lançamentos e conseguiu vender um número de imóveis residenciais quase 10% maior nos três primeiros meses do ano, em comparação com o mesmo período de 2018, segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic).

'A partir de março, o mercado deu uma patinada, reflexo da faltade articulação em Brasília', dizAntonio Setin. Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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Ainda que positivos, os resultados de lançamentos e vendas deixaram uma sensação agridoce no setor – se por um lado, as empresas comemoram o aumento nas vendas, a expectativa era de um início de ano bem melhor. Com a crise entre os Poderes, que impacta no calendário de reformas e reduz a segurança tanto do empresário quanto do consumidor, a impressão é a de que 2019 deve ser um ano de crescimento, mas em um ritmo ainda fraco.

De janeiro a março, foram lançadas 14,7 mil unidades residenciais, de acordo com a Cbic, alta de 4,2% em relação ao primeiro trimestre de 2018. Nesse período, foram vendidos 28,7 mil imóveis, ante 26,1 mil nos três primeiros meses do ano anterior, alta de 9,7%.

“É um resultado positivo que sem dúvida deve ser comemorado, mas, dada a queda que o setor teve durante a recessão, a fraqueza do mercado no ano passado e a esperança de que a eleição reduzisse as incertezas, a expectativa era de que as vendas tivessem crescido pelo menos 15% no período”, afirma José Carlos Martins, presidente da entidade. “As construtoras esperavam que, passadas as incertezas de 2018, a agenda de reformas seria tocada com prioridade, a economia embalaria e o primeiro trimestre seria melhor.”

Martins diz que a alta nas vendas, de 9,7% nesse período, se deve, sobretudo, a uma demanda por imóveis que está reprimida há cerca de cinco anos. Além da procura tradicional por novos imóveis que ocorre sempre, com o nascimento de filhos, a decisão de um jovem sair da casa dos pais ou de um casal que resolve se casar.

A secretária executiva Aline Martins e o analista de TI Daniel Reynaldo, ambos com 28 anos, são um exemplo disso. Em busca de um imóvel há cerca de um ano e meio, os dois resolveram aproveitar o feirão que uma construtora promoveu no início do ano para tentar financiar um apartamento.

“A crise acabou não afetando o setor em que Daniel trabalha e resolvemos aproveitar a abertura que as construtoras têm dado para negociação. Acabamos conseguindo um desconto de pouco mais de 6% no imóvel, que já está pronto. Também foi fácil conseguir o financiamento com o banco”, diz Aline.

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Sinal amarelo

Na última segunda-feira, o Boletim Focus, do Banco Central, apontava que a previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2019 havia sido rebaixada pela 13.ª vez seguida, indo para 1,23%. Em janeiro, analistas chegaram a projetar o PIB em 2,57%. A reversão de expectativas, com o baixo desempenho da indústria, do setor de serviços e do comércio, acenderam um sinal amarelo no setor imobiliário.

Depois do primeiro turno da eleição e quando o segundo já se consolidava, o mercado imobiliário começou a melhorar, diz Antonio Setin, presidente da incorporadora que leva seu sobrenome. “De novembro a fevereiro, foi excepcional para vendas, com redução do estoque e aumento dos lançamentos. A partir de março, o mercado deu uma patinada, reflexo imediato da falta de articulação em Brasília. O início do segundo trimestre está mais frio.”

Ainda assim, ele estima que a empresa lance mais empreendimentos este ano do que no em 2018, somando R$ 700 milhões em Valor Geral de Vendas (VGV). Esse número mostra por quanto a incorporadora projeta vender todos os imóveis de um novo empreendimento.

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“Nós – e boa parte do mercado – estamos otimistas, mas é um otimismo com cautela. Não dá para sair lançando empreendimentos, como se o mundo estivesse cor-de-rosa, porque não está. A esperança que eu tinha de que 2018 seria melhor e que já tinha adiado para 2019, agora joguei para 2020.”, diz Setin.

“É muito raro uma pessoa comprar um imóvel sem tomar crédito. Para pedir um financiamento, o comprador precisa ter confiança de que o futuro será bom.”, diz Vinícius Mastrorosa, diretor da Even. Apesar de um primeiro trimestre abaixo do esperado, a empresa também deve lançar mais este ano.

Ele diz que, com o avanço da agenda de reformas, como a da Previdência e tributária, a economia deve dar sinais mais claros de recuperação, que tendem a se refletir no setor.

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São Paulo

Mais dinâmico, o mercado paulistano teve resultados melhores do que o restante do País no primeiro trimestre. Dados do Secovi-SP, que reúne empresas do setor, mostram que foram vendidas 6,79 mil unidades de janeiro a março – alta de 17% ante o mesmo período de 2018. Os lançamentos, por sua vez, cresceram 21%.

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“O mercado de São Paulo conheceu o fundo do poço em 2016 e agora tem números positivos para mostrar. De janeiro a abril, já empregamos mais gente do que em todo o ano de 2018. Se as reformas caminharem, a melhora do mercado será sentida mais rapidamente”, diz Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi-SP.

“De janeiro a abril, dobramos o número de imóveis vendidos em relação a 2018. A expectativa era triplicarmos, mas foi um resultado expressivo”, diz Marcos Bigucci, da construtora MBigucci, que atua em São Paulo e no ABC Paulista. “O começo do ano não foi como o esperado, mas estamos no caminho.”

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