PUBLICIDADE

Publicidade

Apesar do otimismo de Lula, Rodada Doha continua travada

Principais obstáculos são EUA, sua agricultura e a resistência em cortar subsídios

Por Agencia Estado
Atualização:

Destoando da avaliação feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o fato de a Organização Mundial do Comércio (OMC) estar perto de um acordo, diplomatas, negociadores e funcionários da entidade em Genebra não conseguem ver sinais de avanço no processo, enquanto fica cada vez mais evidente que número cada vez maior de governos começa a perder a paciência. Nesta segunda-feira, 5, os quatro principais atores das negociações - Estados Unidos, Europa, Índia e Brasil - se reuniram em Genebra para tentar destravar o processo. Nenhum resultado concreto conseguiu ser obtido. O principal obstáculo é a agricultura e a resistência dos Estados Unidos em cortar seus subsídios enquanto os europeus e indianos não abrirem seus mercados. Lançada em 2001, a rodada foi suspensa em julho do ano passado diante do impasse. Em janeiro, voltou a ser retomada, mas até agora não conseguiu mostrar avanços. "Estamos todos comprometidos com o sucesso da OMC. Mas esperamos que outros países retribuam em suas ofertas de abertura o que já colocamos sobre a mesa de negociações", afirmou Peter Mandelson, comissário de Comércio da Europa, após uma série de reuniões nesta segunda. Enquanto isso, em Brasília, Lula apontava que um acordo na OMC poderia estar perto. Em Genebra, onde o processo ocorre, praticamente todos reconhecem que um entendimento ainda está distante. "Não sei de onde as pessoas estão otimistas", afirmou Crawford Falconer, presidente das negociações agrícolas da OMC. Para os Estados Unidos, impasse está longe de um fim. "Temos um longo caminho pela frente", afirmou Sean Spicer, porta-voz da Representação de Comércio da Casa Branca. Já o chanceler Celso Amorim acredita que Washington deve de fato mostrar liderança no processo e destacou que essa será uma das mensagens de Lula ao presidente americano George W. Bush, no final desta semana. Mas Amorim está convencido de que "avanços estão sendo feitos e estamos aproximando as posições". Segundo ele, "todos estão comprometidos e há uma maior convergência hoje. (...) Espero que possamos produzir um impulso renovado em relação à OMC no encontro entre os dois presidentes". Segundo o ministro, uma dos resultados da conversa entre Bush e Lula poderá ser um compromisso de que os dois vão falar com chefes-de-governo de outros países para mobilizar os esforços para a conclusão da rodada. Países irritados Mas enquanto nenhum resultado é produzido, um número cada vez maior de países se mostra irritado diante do fato de as negociações estarem ocorrendo apenas entre quatro governos e de forma secreta. "Não sabemos o que está ocorrendo. Se não houver resultados, a paciência dos países irá se esgotar", alertou Falconer. "Eu acho que vou tirar férias", afirmou um embaixador latino-americano. Já outros se queixam de que Brasil, Índia, Estados Unidos e Europa estejam negociando entre si, sem pensar nas posições dos mais de cem países da OMC. Os argentinos, por exemplo, temem que os quatro atores estejam aceitando uma redução da ambição da liberalização agrícola para poder acomodar um acordo. Os americanos, porém, negam que irão "atropelar" os interesses dos demais países no processo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.