PUBLICIDADE

Apetite pelo risco financeiro está de volta nos Estados Unidos

Bancos renegociam até seguros de vida enquanto governo tenta aumentar controle sobre o sistema financeiro

Por Gustavo Chacra e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

Um ano após a quebra do banco de investimento Lehman Brothers, grandes nomes do mercado financeiro americano viraram história e outros saíram fortalecidos. Novos investimentos arriscados surgiram e outros foram mantidos, apesar de o presidente Barack Obama ter dito em seu discurso, que não haverá "complacência".

 

PUBLICIDADE

Alguns desses investimentos podem levar a futuras crises. Os empréstimos do tipo subprime - para clientes de alto risco - diminuíram com o aumento do endividamento dos clientes. Mas empresas ainda financiam alguns clientes que não possuem crédito. Essas dívidas, como no passado, ainda são vendidas no mercado de derivativos.

 

Um novo tipo de operação virou moda: seguros de vida são empacotados em blocos e vendidos para bancos e fundos. Em uma ação bizarra, o valor que o comprador ganhará com esse investimento depende de quando o proprietário da apólice morrerá, deixando claro que os investidores seguem buscando riscos onde eles estiverem.

 

As operações de alta frequência, em que computadores potentes lançam ordens de compra e venda em milionésimos de segundo, ficaram mais comuns. Com essas operações, alguns bancos conseguem elevar artificialmente e com mais velocidade o preço de uma ação, além de ter a capacidade de verificar a posição de outros no mercado sem que sejam notados.

 

O governo tenta regulamentar o mercado de derivativos, tentando colocar a operação sob o controle da SEC, a xerife do mercado americano. O problema é que os investidores estão sempre à frente do Estado na hora de descobrir novas modalidades de risco.

 

Depois da crise, o governo apresentou um plano para controlar os bônus pagos a executivos de bancos. Ele prevê conceder ao conselho de administração o direito de votar qual deve ser o valor. As agências reguladoras podem também proibir práticas que incentivem riscos em troca de bônus em bancos. O projeto já passou pela Câmara e será votado no Senado.

 

Recentemente, a restrição ao bônus recebeu o inesperado apoio do presidente do banco Goldman Sachs, Lloyd Blankfein, que recebeu em 2007 uma das mais elevadas gratificações da história de Wall Street. "Existe pouca explicação para o pagamento de compensações exageradas e discricionárias quando a instituição financeira perde dinheiro ao longo do ano", disse o executivo.

Publicidade

 

No balanço de um ano da crise em Wall Street aparecem como perdedores grifes como a seguradora AIG, os bancos de investimentos Lehman Brothers e Merrill Lynch e as financiadoras Freddie Mac e Fannie Mae.

 

Alguns personagens ficaram marcados como vilões. Bernard Madoff acabou desmascarado em seu esquema de pirâmide e está na cadeia. Richard Fuld Jr., ex-presidente do Lehman Brothers, refugiou-se em Idaho, onde morre de medo de ser vítima de ataques de pessoas que perderam dinheiro com a quebra do banco.

 

Alan Greenspan, ex-presidente do Fed (BC dos EUA), foi severamente criticado por manter a taxa de juros baixa por muito tempo, o que teria inflado a bolha imobiliária. Milhares de funcionários de bancos e fundos de investimento perderam o emprego e integram o batalhão de um em cada dez americanos da população economicamente ativa que está sem trabalho.

 

A Bolsa de Valores, apesar ainda estar longe dos patamares do período anterior à crise, segue tendência de alta desde março, quando atingiu o seu ponto mais baixo.

 

Se os vilões já foram determinados, falta descobrir se o atual presidente do Fed, Ben Bernanke, o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, e o seu antecessor, Henry Paulson, serão alçados para o status de heróis ao conseguirem livrar os EUA de uma depressão.

 

Alguns analistas afirmam que a sangria seria menor se o Lehman fosse salvo há um ano. Os três (Geihtner dirigia o Fed de Nova York) teriam tentado evitar o desastre no fatídico fim de semana do grande pânico, mas conseguiram impedir só a quebra da Merrill Lynch.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.