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Aplicação da "agenda positiva" está lenta, dizem analistas

País tende a crescer este ano, mas a retomada pode perder fôlego por causa da paralisia nas ações governo, segundo analistas.

Por Agencia Estado
Atualização:

Embora a equipe econômica venha se esforçando para acelerar sua "agenda positiva", a execução das medidas está sendo considerada lenta e põe dúvidas sobre o ritmo do crescimento em 2004. "Este início de ano foi frustrante", disse o ex-secretário de Política Econômica Edward Amadeo, sócio da consultoria Tendências. "O que foi feito na macroeconomia no ano passado é suficiente para o Brasil crescer de 3% a 4% neste ano, mas o problema é que, se a estratégia não melhorar, o crescimento perderá fôlego, porque ele depende do investimento." "O governo tem a disposição de implantar uma agenda positiva, que é a agenda microeconômica, mas a questão é que o ritmo está muito lento", concorda o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro (PTB-PE). "É algo que lamentamos." O economista e consultor Raul Velloso entende que a agenda microeconômica precisa avançar muito este ano, mas tudo caminha devagar. A questão, avalia ele, é que está próximo o momento em que o Banco Central não terá mais espaço para reduzir a taxa Selic, depois que ela chegar perto dos 13%. Depois do caso Waldomiro, cobranças A lentidão que incomoda os economistas parece ser compartilhada até pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Com o início da crise provocada pelas denúncias de corrupção envolvendo o assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, ele passou a cobrar mais pressa de sua equipe. Como resultado, nesta semana foi anunciado um pacote para a construção civil no valor de R$ 2,8 bilhões, que Amadeo considerou "uma exceção" na paralisia instalada desde o fim do ano passado. Mas, na avaliação do próprio setor, é algo que deve ter efeitos práticos só a partir de agosto. Também foi anunciada a liberação de R$ 3 bilhões para a infra-estrutura. "De duas, uma", alertou Velloso. "Ou esse dinheiro não será de fato liberado, ou o Palocci vai ter dificuldade em cumprir a meta de superávit primário neste ano." A semana terminou com uma vitória do governo no Senado, com a aprovação das duas medidas provisórias que regulam o setor elétrico. Porém, mais do que o anúncio das medidas da "agenda positiva", cujas linhas gerais estão delineadas desde o início de 2003, sente-se falta de sinalizações que convençam os agentes econômicos a passarem da expectativa para a ação. Nesse sentido, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), de manter os juros em 16,5%, foi um balde de água fria, avalia o presidente da CNI. E, para aumentar sua preocupação, ele não vê o governo discutindo medidas de curto prazo para irrigar a economia. Falta de poupança e investimento Amadeo não acha que a falta de crescimento possa ser creditada ao BC, mas à falta de poupança e investimento no País. E esses dois elementos, suspeita o economista, são retraídos pela aparente divisão do governo quanto a seus objetivos para a economia. "Que as hesitações nessa área estão empacando o crescimento, não há dúvida." É o caso, por exemplo, da discussão sobre a autonomia operacional do BC. "Ela vinha bem no ano passado, mas neste ano foi classificada como discussão acadêmica", disse Amadeo. Outro debate importante, a lei que definirá o papel das agências reguladoras, sumiu do mapa depois que um primeiro anteprojeto, elaborado pela Casa Civil, foi alvo de críticas. "Boa parte da agenda microeconômica envolve mudanças de conceito, portanto, é muito difícil convencer o Congresso e até parcelas do próprio governo", concorda o ex-secretário de Política Econômica José Guilherme Reis. A Lei de Falências, um dos itens mais importantes da agenda microeconômica, foi discutida por mais de uma década na Câmara até ser votada no ano passado. Mas falta ainda o Senado. A discussão desse tema é difícil, segundo Reis, porque a nova lei amplia as garantias de quem oferece o crédito. O objetivo é garantir empréstimos a custo mais baixo. "Mas surgiu um entendimento que a nova lei pretende dar todas as garantias para os banqueiros", comenta. Isso foi problema no governo passado e é problema agora.

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