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Apoio das elites divide candidatos na Argentina

Por Agencia Estado
Atualização:

"O nosso não é um plano para as elites", assinala orgulhosa a candidata da esquerdista Argentinos por uma República de Iguais (ARI), Elisa Carrió, ao referir-se a um documento de dez pontos sobre sua futura política econômica, que terá papel central numa maior e melhor distribuição dos recursos. Do outro lado da disputa, os justicialistas Carlos Menem e José Manuel de la Sota lutam para atrair as elites, e assessores econômicos de De la Sota já não descartam a dolarização - até agora uma bandeira exclusiva da candidatura de Menem - como possível solução para o futuro do país. Elisa, que ocupa o primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, tenta nos últimos dias apagar o que se converteu na principal crítica de seus inimigos: que, além de seu lema "Que se retirem todos", não tem uma proposta econômica. Por isso, o ARI apresenta um documento de dez pontos que trata das principais questões de uma eventual futura gestão de governo. O primeiro ponto se chama "choque distributivo", e fala de criar um subsídio universal para a infância, outro para os maiores de 65 anos, e um seguro de emprego para os desempregados, que inclua capacitação, além de prever uma recomposição salarial. Também propõe uma reativação produtiva por setores, uma redução do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que incide sobre o consumo, atualmente em 21%, e um maior abertura da economia, via redução de impostos de importação, coisa que hoje se torna possível por causa da desvalorização do peso. O ARI é a favor de frear a redução do gasto público, que segundo o partido é baixo, se comparado a outros países. O partido propõe, de fato, uma elevação paulatina, porém à medida que a economia seja reativada. Extremos - Elisa e seu principal assessor econômico, Rubén Lo Vuolo, defendem o atual tipo de câmbio - flutuante com intervenções do Banco Central -, apesar de serem favoráveis a um peso menos desvalorizado em relação ao dólar (hoje está em 3,60 pesos por dólar) e uma paridade mais estável, que proporcione maior previsibilidade ao setor privado. Porém, não deixam claro como obter isso com o atual nível de reservas internacionais de US$ 8,5 bilhões. O ARI não dá muita importância às preocupações com o corralito, e propõe vincular a devolução dos depósitos a créditos. O partido também quer voltar a dolarizar os passivos dos grandes devedores, os quais acusa de terem se beneficiado da pesificação de dívidas adotada pelo governo de Eduardo Duhalde. Ao contrário de Menem e De la Sota, os partidários de Elisa Carrió dão também grande importância aos bancos públicos. Quem não tem nenhum problema em identificar-se com as elites e com o governo dos Estados Unidos é o ex-presidente Carlos Menem. Longe de admitir os custos dos dez anos de conversibilidade e paridade do peso com o dólar em seus dois governos anteriores, Menem já volta a insistir na conversibilidade, senão diretamente com uma dolarização. O ex-presidente também não necessita apresentar um futuro ministro de Economia, já que depois de dez anos de governo a população argentina conhece muito bem suas idéias liberais, de extrema abertura e flexibilidade total para a entrada de capitais estrangeiros. Afinal de contas, foi ele quem trouxe ao governo, projetou e depois afastou o ex-ministro Domingo Cavallo, que se tornou seu inimigo político. Diante dos extremos que representam Elisa pela esquerda e Menem pela direita, De la Sota aspira ocupar um espaço moderado, de centro. Se bem que seu principal assessor econômico, Humberto Petrei, deixa claro que hoje não há suficientes reservas internacionais no Banco Central para aplicar já uma dolarização como a que propõe Menem, embora não a descarte. "Por um tempo deve-se manter a flutuação do peso. Uma vez resolvidos os temas fiscais, que são o problema central, poderíamos pensar em algum outro esquema. Se a sociedade quiser, poderia haver vantagens com a dolarização. Faz desaparecer a incerteza e reduz a taxa de juros. Porém, hoje não há reservas suficientes para isso. Se houvesse um maior nível de reservas, se poderia dolarizar", assegurou Petrei ao jornal argentino Clarín.

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