Publicidade

Apoio do BNDES começa a fazer efeito

Dinheiro do banco melhora perfil da dívida de frigoríficos e atrai investidores

Por Raquel Landim
Atualização:

Os "anabolizantes" do BNDES estão fazendo efeito e os frigoríficos brasileiros começam a cair nas graças do mercado internacional. O suporte do banco melhorou o perfil da dívida das empresas e deixou os investidores mais seguros.Duas importantes agências de risco melhoraram a classificação do JBS. A Fitch Ratings deixou as ações a três passos do grau de investimento, que é o patamar que o mercado considera que não há risco de calote. Para a Standard & Poor"s, o risco oferecido pelo JBS hoje é o mesmo da americana Tyson Foods.É uma mudança significativa de percepção, porque os investidores enxergavam JBS e o concorrente Marfrig com desconfiança. As principais preocupações são o alto nível de endividamento e a consolidação das aquisições. O JBS comprou mais de 30 empresas nos últimos anos, enquanto o Marfrig adquiriu 14 companhias fora do País.Para a analista sênior da Fitch Ratings, Gisele Paolino, a compra da Pilgrim"s Pride, uma das maiores produtoras de carne de frango dos EUA, diversificou os negócios da JBS. "É um ramo com risco alto, porque existem restrições sanitárias e surtos de doenças. Ao atuar em carne bovina e carne de frango, o JBS minimiza esse problema", explica.A atuação do BNDES, no entanto, tem sido fundamental. O banco estatal comprou quase todas as debêntures lançadas pelo JBS para adquirir a Pilgrim"s. As debêntures são títulos de dívida, mas o mercado não interpretou como uma pressão sobre o fluxo de caixa da empresa."Consideramos como emissão de capital, porque são papéis conversíveis em ações. Foi um veículo para que o BNDES entrasse como sócio da filial americana do JBS, que tem capital fechado", disse Gisele.Cauê Pinheiro, analista da SLW Corretora, explica que a operação do BNDES reduz a despesa financeira e melhora a margem de lucro da empresa, pois o banco empresta dinheiro a um custo que o mercado não estaria disposto a oferecer. "O BNDES é um parceiro importante, porque as empresas não correm o risco do apetite do mercado", disse. As duas companhias estão tomando recursos no mercado internacional. O JBS está em processo de captar US$ 700 milhões, enquanto o Marfrig concluiu em abril uma oferta de bônus de US$ 500 milhões.Os investidores locais também avaliam que existe uma boa oportunidade de lucro no curto prazo. Segundo Rafael Cintra, analista da Link Investimentos, as ações estão relativamente desvalorizadas, porque foram afetadas pela crise na Europa.Dúvidas. A lua de mel entre o mercado e os frigoríficos, contudo, é recente e persistem dúvidas. O JBS ainda não conseguiu abrir o capital de sua filial nos Estados Unidos.A empresa já adiou duas vezes a empreitada. Na primeira tentativa, alegou que o mercado externo estava ruim, mas prometeu a oferta para o primeiro semestre deste ano. Na divulgação mais recente de resultados, descartou qualquer possibilidade da operação ocorrer antes de 2011, mas não revelou os motivos. Outro ponto de desconfiança é o motivo de o mercado não comprar as debêntures dessas empresas. O BNDES subscreveu 99,2% dos R$ 3,5 bilhões em debêntures do JBS e se comprometeu a adquirir os R$ 2,5 bilhões do Marfrig. Em nota enviada pela assessoria de imprensa, o BNDES afirma que esse tipo de papel é para "investidor qualificado" e que "os fundos de investimento não estão autorizados a subscrever títulos híbridos". Outro fator que explicaria o desinteresse é a liquidez. O prazo das debêntures é de cinco anos, enquanto as ações podem ser vendidas qualquer dia. "As debêntures fazem mais sentido para investidores com visão de longo prazo", diz o BNDES.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.