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Após 14 anos, credores do Bamerindus começam a receber R$ 4,3 bilhões

Parte desse valor começa a ser paga na segunda-feira; Fundo Garantidor de Crédito vai comprar ações de minoritários para encerrar processos

Por David Friedlander
Atualização:

Depois de 14 anos de brigas na Justiça, o antigo Bamerindus finalmente vai abrir a carteira e começa a pagar R$ 4,3 bilhões em dívidas nesta segunda-feira. O banco, em processo de liquidação, deve ao todo cerca de R$ 10 bilhões. Tem hoje metade desse valor em caixa e vai usar quase tudo para pagar parte das dívidas com seus maiores credores.

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Entre os que vão receber primeiro estão a Caixa Econômica Federal, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Fundo Garantidor de Crédito (FGC). A dívida dos três, somada, atinge R$ 5,7 bilhões. Mas, neste momento, eles vão receber 25% do total.

Os outros dois grandes credores, o Banco Central e o Tesouro Nacional, não recebem agora, mas ficarão com os recursos à disposição. Isso porque o Tesouro ainda discute o valor de seu débito, algo em torno de R$ 400 milhões, enquanto o BC, que aceitou receber seus R$ 2,4 bilhões de forma parcelada, ainda precisa homologar oficialmente tal decisão. Fora os grandes, todos os credores com dívidas na casa dos R$ 50 mil também serão pagos a partir de segunda-feira.

O início dos pagamentos é o primeiro passo para levantar a liquidação do Bamerindus, emperrada há anos por ações na Justiça. Terceiro maior banco privado do País, ele era controlado por José Eduardo de Andrade Vieira, ex-senador e ministro nos governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.

O processo é conduzido pelo FGC, que é o maior credor do Bamerindus. Criado pelo sistema financeiro para garantir o depósito de clientes de bancos quebrados, o fundo destravou o processo de liquidação por meio de um acordo com os acionistas minoritários do banco.

Pelo acerto, o FGC vai comprar as ações dos sócios minoritários do Bamerindus, operação estimada em R$ 50 milhões. Em troca, os acionistas minoritários vão retirar seus processos na Justiça, o que permitirá o desbloqueio de ativos que vão a leilão para fazer os próximos pagamentos a credores.

Alguns membros da família Andrade Vieira estão dentro do acordo. Com José Eduardo, o ex-controlador, foi feito um acerto diferente. Ele também vai abrir mão dos processos contra a intervenção no Bamerindus, mas seu interesse é colaborar com o encerramento do processo para desbloquear seus bens, de sua família e de antigos diretores do banco, indisponíveis desde a intervenção. Se, quando o processo chegar ao fim, sobrar algum dinheiro depois que todos os credores forem pagos, Andrade Vieira poderá recebê-lo.

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Quebra. Como outros grandes bancos de seu tempo, entre eles o Nacional e o Econômico, o Bamerindus não conseguiu se adaptar aos padrões de uma economia sem inflação, na segunda metade dos anos 90.

Em 1997, com um buraco bilionário nas contas, sofreu intervenção do BC. Na época, o Bamerindus foi incluído no Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), criado pelo governo para financiar os bancos saudáveis que comprassem os concorrentes quebrados. Os ativos bons do Bamerindus foram vendidos ao britânico HSBC, pelo valor simbólico de R$ 1. Os empréstimos que o banco tinha para receber e os imóveis viraram massa falida.

Os R$ 5 bilhões que o Bamerindus tem hoje em caixa são resultado da cobrança das dívidas que ficaram na massa falida. Depois do primeiro pagamento, os liquidantes do Bamerindus colocarão imóveis e créditos tributários à venda na tentativa de levantar pelo menos parte dos R$ 5 bilhões que faltam para liquidar o passivo e assim enterrar de vez o Bamerindus.

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