Após Bolsonaro anunciar aumento em taxa de banco, dólar dispara e fecha em alta de 1,17%

Presidente decidiu elevar a tributação dos bancos para bancar a desoneração de PIS/Cofins sobre o óleo diesel e o gás de cozinha; na máxima, moeda americana bateu em R$ 5,73

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Por Redação
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O dólar teve um dia de forte alta nesta terça-feira, 2, após o presidente Jair Bolsonaro aumentar os impostos sobre os bancos para bancar a desoneração dos combustíveis. Na máxima do dia, a moeda bateu em R$ 5,73. Para conter esse avanço, o Banco Central precisou fazer uma nova intervenção no câmbio, por meio da venda de dólares à vista. Mesmo assim, ele fechou em alta de 1,17%, a R$ 5,6660. A mesma tensão não pesou na Bolsa brasileira, que teve ganho de 1,09%, aos 111.539,80 pontos, enquanto as ações dos principais bancos fechou em alta.

Na segunda-feira, 1º, o presidente Jair Bolsonaro decidiu elevar a tributação dos bancos para bancar a desoneração de PIS/Cofins sobre o óleo diesel e o gás de cozinha, medidas prometidas por ele à sua base de apoiadores após sucessivos reajustes no preço dos combustíveis. Com isso, a Contribuição sobre o Lucro Líquido (CSLL) a ser paga pelos bancos passou de 20% para 25%. O valor é válido até o final do ano. 

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A quebra da promessa de Bolsonaro, de que não elevaria impostos, veio em um momento já delicado para os investidores estrangeiros, já incomodados com o fato do presidente ter interferido na Petrobrás, após também dizer que não o faria. Operadores relataram forte fluxo de saída de capital externo hoje, em meio à desconfiança com o atual governo.

O presidente Jair Bolsonaro Foto: Dida Sampaio/Estadão

Com a alta de hoje, o dólar já acumula valorização de quase 9,2% em 2021 ante o real, a pior moeda dos emergentes. A moeda para abril fechou em alta de 0,70%, a R$ 5,6870.  Em outros emergentes, como Rússia, México e África do Sul, a moeda americana caiu hoje.

"Percebo que, aos poucos, está havendo uma clara mudança de política econômica neste governo. Pela primeira vez, começo a ficar desconfiado/desconfortável", comenta o estrategista e sócio da TAG Investimentos, Dan Kawa, em sua análise diária. Os sinais, avalia, são de que o liberalismo econômico "ficou de lado" e o populismo começa a ganhar o espaço. A elevação do CSLL dos bancos, avalia Kawa, é "fiscalmente correta, mas politicamente populista", o que contribui para aumentar a insatisfação dos mercados.

A agência de classificação de risco Moody's considera a elevação da carga tributária do setor financeiro um "evento negativo" para o crédito e a rentabilidade dos bancos brasileiros em 2021. "Impostos mais elevados aumentarão a pressão sobre a rentabilidade dos bancos brasileiros em 2021, que já vem sendo desafiada por taxas de juros baixas e pelas incertezas em relação ao impacto da pandemia sobre os negócios", afirmou a vice-presidente sênior da Moody's, Ceres Lisboa, em nota.

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Com isso, o Banco Central fez, no começo da tarde, o segundo leilão da moeda americana do dia - de US$ 1,095 bilhão, depois de vender US$ 1 bilhão de manhã. No entanto, a medida não ajudou completamente a aliviar a pressão sobre o real, já que o cenário fiscal do País ainda é monitorado pelos investidores, que veem com pessimismo o conteúdo que será votado da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) Emergencial no Senado, agendada para amanhã.

A consultoria internacional TS Lombard avalia que o texto, já desidratado em relação à versão original, não deve trazer alívio fiscal de curto prazo, o que só sinaliza a necessidade de mais reformas. O relator da PEC, senador Marcio Bittar (MDB-AC)), manteve os gatilhos para contenção de despesas, mas retirou de seu parecer a desvinculação de gastos com saúde e educação, desidratando o texto ainda em mais alguns pontos, mas não fez mudanças no Bolsa Família. Líderes do Senado querem tirar as despesas do programa do teto este ano, que somam R$ 34,9 bilhões, mas o Ministério da Economia é contra.

Bolsa

Na Bolsa, no entanto, o impacto foi diferente do visto no câmbio, com o Ibovespa as ações dos principais bancos do País fechando em alta, apesar da queda vista na parte da manhã.  O presidente da Febraban, Isaac Sidney, afirmou em vídeo gravado pela instituição, ao qual o Estadão/Broadcast teve acesso, que deposita confiança nas palavras do ministro da Economia, Paulo Guedes. Sidney diz ter recebido ligação de Guedes hoje, às 7h, para o aumento do imposto. A medida tem validade por seis meses e vai exigir um "sacrifício" do setor, segundo o executivo.

Além disso, a alta do índice, ao contrário do câmbio, ganhou densidade com a declaração do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), à Febraban, de que não é bom elevar alíquota de imposto fora da reforma tributária. A fala ajudou a acalmar o mercado acionário brasileiro. Com isso, as ações de Itaú UnibancoBanco do BrasilBradesco ON Santander Brasil inverteram o sinal e fecharam altas de 4,04%, 3,84%, 1,71% e 3,14%, respectivamente.

A alta do setor de siderurgia também ajudou a levantar o índice. Hoje,  Vale ON teve ganho de 3,07% e CSN, de 2,56%. Na mínima do dia, a Bolsa caía aos 107,3 mil pontos, enquanto na máxima, foi aos 112 mil pontos, mas não conseguiu manter o patamar. Na semana, o Ibovespa acumula ganho de 1,37%, com perdas no ano a 6,28%./ ALTAMIRO SILVA JÚNIOR, LUÍS EDUARDO LEAL E MAIARA SANTIAGO

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