
03 de novembro de 2020 | 19h51
Atualizado 04 de novembro de 2020 | 18h55
Pouco mais de quatro meses após partir para uma briga pública com a XP Investimentos, o Itaú Unibanco anunciou nesta terça-feira, 3, um plano para segregar a maior parte das ações que detém na corretora em uma nova companhia, além da anunciar planos de vender 5% das ações que permaneceriam em suas mãos no mercado financeiro. Segundo fontes de mercado, seria uma estratégia da instituição para, aos poucos, deixar de ser sócia da XP.
O maior banco da América Latina se tornou sócio da corretora fundada por Guilherme Benchimol há três anos, ao comprar 49,9% do negócio em uma operação vista à época como um movimento de proteção contra a emergência de plataformas de investimentos digitais e com estratégia ousada de captação de clientes. O negócio, apesar da recente rusga pública, virou um dos investimentos mais rentáveis da história do Itaú.
Hoje, o Itaú tem 46% da XP – a fatia do banco foi diluída após a bem-sucedida abertura de capital da corretora na Nasdaq, pregão da Bolsa de Nova York dedicado a negócios de tecnologia. Depois de pagar R$ 12 bilhões para ficar com quase metade da XP há três anos, o Itaú Unibanco hoje tem uma participação um pouco menor que é avaliada em R$ 130 bilhões – mais de dez vezes o valor investido.
O estudo divulgado hoje é visto por fonte de mercado como uma porta de saída para o Itaú. O banco entregar a maior parte dos papéis – 41%, de um total de 46% – aos acionistas do banco. Essas ações irão para uma nova companhia, por enquanto batizada pelo banco de “Newco”. Essa sociedade teria como único objetivo a alocação das ações que o banco possui na XP.
A participação dos acionistas nessa nova sociedade respeitaria a participação de cada um no banco. Parte da participação da XP irá, portanto, para Iupar e Itaúsa – instituições que, juntas, possuem 46% do Itaú Unibanco e são controladas, em grande parte, pelas famílias Setubal, Villela e Moreira Salles (a Itaúsa tem capital aberto e, por isso, mais acionistas).
Mesmo com a cisão que levaria à alocação de 41% da participação do Itaú nessa nova companhia, restariam 5% nas mãos do banco. Conforme os estudos em andamento, essa participação remanescente poderá ser vendida por meio de uma oferta de ação. O Itaú disse, ontem, que esse movimento deve gerar um aumento do Índice de Basileia do banco.
O Itaú informa que a referida venda, se concretizada, vai “ depender das condições aplicáveis de mercado”. O negócio ainda estará sujeito à aprovação do conselho de administração, que avaliará detalhadamente as condições a elas aplicáveis e seus efeitos. O banco também ressaltou ontem que esse movimento não ocorrerá durante o ano de 2020.
A rusga entre Itaú e XP ocorreu com uma campanha publicitária lançada em horário nobre, na Rede Globo, pela qual o Itaú criticava um dos pilares do negócio da XP: a distribuição via agentes autônomos. O banco questionou a remuneração desses profissionais, feita por meio do comissionamento, o que poderia fazer esse profissional indicar ao seu cliente um produto com a melhor remuneração para ele – e não necessariamente para o cliente.
A XP prontamente reagiu. A corretora usa como “mantra” que seu principal concorrente são os grandes bancos, que concentram grande parte dos investimentos dos brasileiros. Roberto Setúbal e João Moreira Salles já foram do conselho de administração da XP, mas deixaram o posto antes da abertura de capital da companhia.
Procurada pelo Estadão para comentar o anúncio do Itaú, a XP não quis se pronunciar.
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03 de novembro de 2020 | 20h00
Atualizado 03 de novembro de 2020 | 22h11
O Itaú Unibanco registrou lucro líquido recorrente de R$ 5,03 bilhões no terceiro trimestre de 2020, cifra 29,7% menor em relação ao mesmo período do ano passado, quando totalizou R$ 7,16 bilhões. Em relação ao trimestre anterior, porém, houve uma alta de 19,6% no resultado, o que pode ser visto como um sinal de retomada da economia em relação ao período mais agudo da pandemia de covid-19.
O resultado também mostra menores despesas de provisão para créditos de liquidação duvidosa, especialmente no banco de atacado do Itaú. No intervalo entre janeiro e setembro, o lucro líquido do Itaú atingiu R$ 13,15 bilhões, redução de 37,6% em relação ao mesmo período do ano passado.
“A melhora de resultados neste trimestre reflete uma sensível recuperação da atividade econômica, ao mesmo tempo em que ainda contempla a necessidade de provisionamento para fazer frente à possibilidade de maior inadimplência no futuro”, disse, em comunicado, o presidente do Itaú Unibanco, Cândido Bracher. Na semana passada, a instituição anunciou que ele será substituído por Milton Maluhy Filho, hoje vice-presidente de finanças do banco.
A carteira de crédito total do banco alcançou R$ 847 bilhões no terceiro trimestre, aumento de 4,3% em relação ao período imediatamente anterior. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o aumento foi de 20,4%. Segundo o banco, o destaque foi o crescimento das carteiras de crédito imobiliário, de veículos e micro, pequenas e médias empresas.
O patrimônio líquido do Itaú era de R$ 130,6 bilhões ao fim de setembro, 3,8% maior em um ano. No trimestre, cresceu 3,3%. No terceiro trimestre, o maior banco da América Latina ultrapassou a marca recorde de R$ 2,11 trilhões em ativos totais, alta de 21,4% em um ano.
Assim como ocorre com outros grandes bancos brasileiros, uma dúvida do mercado sobre o Itaú se refere aos empréstimos que tiveram os vencimentos prorrogados do início da pandemia e que agora começam a vencer. É esse dado que poderá mostrar se o banco precisará ou não de novas provisões (reservas) para reduzir o impacto dos calotes.
A inadimplência de curto prazo começou a subir no terceiro trimestre, com o fim da carência de alguns contratos. Segundo o balanço, no entanto, esse avanço foi pequeno, de 0,2 ponto porcentual em relação ao 2.º trimestre: de julho e setembro, o índice foi de 1,9%.
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