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Após duas altas, setor de serviços cai 1,9% em janeiro, aponta IBGE

Este foi o pior desempenho desde março do ano passado, quando houve recuo de 2,7%

Foto do author Thaís Barcellos
Por Daniela Amorim (Broadcast), Thaís Barcellos (Broadcast) e Maria Regina Silva
Atualização:

O volume de serviços prestados teve um recuo de 1,9% em janeiro ante dezembro de 2017, na série com ajuste sazonal, segundo os dados da Pesquisa Mensal de Serviços, informou nesta sexta-feira, 16, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mês anterior, o dado foi revisado de um avanço de 1,3% para alta de 1,5%. Este foi o pior desempenho desde março do ano passado, quando houve recuo de 2,7%.

A taxa acumulada pelo volume de serviços prestados no ano ficou negativa em também em 1,3%. Foto: Sérgio Castro/Estadão

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O resultado de janeiro ante dezembro fora do intervalo é muito pior do que a mediana das estimativas do mercado financeiro, captadas pelo Projeções Broadcast. As previsões na série com ajuste sazonal variavam de recuo de 0,80% a crescimento de 1,00%. A mediana encontrada a partir de 15 expectativas ficou negativa em 0,30%.

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Desde outubro de 2015, o órgão divulga índices de volume no âmbito da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). Antes disso, o IBGE anunciava apenas os dados da receita bruta nominal, sem tirar a influência dos preços sobre o resultado. Por esse indicador, que continua a ser divulgado, a receita nominal caiu 2,3% em janeiro ante dezembro. Na comparação com janeiro do ano passado, houve alta na receita nominal de 1,2%. 

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Setores. As quedas foram disseminadas entre as atividades pesquisadas na passagem de dezembro de 2017 para janeiro de 2018.

Os serviços prestados às famílias recuaram 0,6% em janeiro ante dezembro; os serviços de informação e comunicação caíram 0,2%; serviços profissionais e administrativos encolheram 1,4%; e transportes e correio tiveram uma perda de 3,0%.

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"Foram os serviços de transportes que puxaram essa queda nos serviços em janeiro, porque recuaram 3,0%", apontou Rodrigo Lobo, analista da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE.

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O único segmento a escapar do vermelho foi o de outros serviços, que avançou 3,8% em janeiro ante dezembro. "Foram corretores e agentes de seguro e a atividade auxiliar dos serviços financeiros, que inclui operações de cartões de débito e caixas eletrônicos", exemplificou Lobo.

O agregado especial das Atividades turísticas apresentou elevação de 0,3% na passagem de dezembro para janeiro, a terceira taxa positiva seguida, acumulando um ganho de 3,3% no período.

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Nível. O setor de serviços ainda opera 12,4% abaixo do pico de atividade registrado em novembro de 2014, segundo os dados da Pesquisa Mensal de Serviços. Ao mesmo tempo, o patamar atual está apenas 1,5% acima do ponto mais baixo da série, que foi alcançado em março de 2017.

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"Os serviços ainda estão muito mais próximos do ponto mais baixo do que do pico de operação", ressaltou Rodrigo Lobo. "Os serviços encolheram 11% nos três últimos anos, ensaiaram algum tipo de melhora, e agora há espalhamento dessas quedas. Os serviços caem em todos os tipos de comparação. Apesar da queda, os serviços não devolvem integralmente o ganho de 2,5% acumulado em novembro e dezembro do ano passado", completou.

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Segundo ele, a base de comparação mais elevada explica o ajuste nos serviços em janeiro. O volume tinha crescido 1,0% em novembro, seguido de nova alta de 1,5% em dezembro. "Observamos um maior número de fechamento de contratos em dezembro de 2017 de maneira espalhada entre as atividades", justificou o analista do IBGE.

Avaliação. Para Lobo, o setor de serviços ainda não apresenta uma trajetória de recuperação clara.

"O setor de serviços é mais lento na resposta à recuperação da atividade econômica. São diversos fatores que precisam estar crescendo ou favoráveis pra justificar um aumento no volume dos serviços", explicou Lobo.

Segundo ele, as expectativas dos empresários tem que estar alinhadas com um ambiente de crescimento econômico, em um ambiente político mais estável, que incentive investimentos. Lobo citou ainda que a indústria precisaria de uma com recuperação "mais duradoura e confiável", acompanhada de uma retomada também do comércio.

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"Nem nos serviços prestados às famílias, esse pequeno aumento da renda e redução incipiente do desemprego não são suficientes para gerar uma reversão nessa atividade", completou Lobo.

"Esse indicador mantém a trajetória ascendente iniciada em abril do ano passado, mas essa trajetória ocorre em função de taxas negativas menos intensas, do que propriamente uma sequência de taxas positivas", lembrou.

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Análise. A queda era esperada por causa da sazonalidade, mas o "tombo" foi maior por causa das condições ainda desfavoráveis do mercado de trabalho, avalia o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. O economista tinha a menor expectativa da pesquisa do Projeções Broadcast. Além disso, diz Agostini, o resultado interanual (-1,3%) indica que o setor deve seguir com dificuldade de retomada.

Segundo ele, embora o resultado na margem seja dessazonalizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os modelos para o ajuste sazonal são dos EUA, e, por isso, algumas vezes não refletem as características brasileiras, o que era o caso de janeiro, por exemplo, segundo ele. Além do desemprego e da sazonalidade, o economista cita também o mau desempenho da indústria no mês (-2,4%) para explicar o resultado desfavorável de Serviços, principalmente no segmento de Transportes (-3,0%).

Contudo, completa Agostini, a contração do volume de Serviços prestados ante igual mês de 2017 indica que a atividade, pelo menos em janeiro, está pior do que no ano passado. "Está ficando menos pior, mas ainda está ruim, o que indica que a atividade ainda deve mostrar dificuldade de retomada", explica, reforçando que a fragilidade de recuperação de Serviços se deve ao baixo emprego e renda.

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"O setor de Serviços representa mais de 50% do PIB. Quando cai, demora a se recuperar. As movimentações são suaves e dependem de uma recuperação consistente da economia e do emprego e da renda, que é a expectativa para esse ano", completa ele que espera 2,8% para o PIB deste ano.

O economista não alterou sua projeção preliminar para o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, de alta de 0,4% ante o quarto trimestre, depois dos dados negativos das atividades em janeiro. O varejo ampliado caiu 0,1%.

"É ruim porque são resultados negativos em um processo de recuperação. Mas a economia teve forte queda entre 2014 e 2016 e não é porque crescemos em 2017 que só teremos números mensais positivos em 2018. Não é uma inflexão na curva é só um ajuste natural", sustenta Agostini, que calcula que o resultado de Serviços em fevereiro deve ser positivo.

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Para o economista Vitor Velho, da LCA Consultores, o desempenho foi ruim pois é o primeiro indicador do segmento do ano. Além disso, acrescenta, a queda foi espalhada entre as categorias da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS). "O resultado veio bem pior do que as expectativas e a queda foi disseminada.

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O economista da LCA ressalta que os dois principais serviços tiveram desempenho desfavorável no primeiro mês do ano no confronto com igual mês de 2017: serviços de informação, com recuo de 5,0%, e serviços de tecnologia da informação e comunicação, que caíram 4,8%. Em dezembro nessa mesma base comparação, lembra, os resultados mostram expansão de 2,3% e de 2,6%, respectivamente. "Transportes, que são mais ligados à indústria, ainda ficaram no positivo, mas diminuíram a intensidade de alta [de 4,8% para 4,0%]. Não é uma desaceleração tão grande, mas dada a relevância do setor, é um resultado ruim", diz.

Velho é cauteloso ao afirmar se os dados da PMS sugerem um primeiro trimestre desfavorável para a atividade de serviços e consequentemente para a retomada como um todo. "Ainda é cedo para dizer isso. É apenas um primeiro dado. A PMS tem muito dessa volatilidade, pois tem muitos segmentos heterogêneos. Pode ser que os próximos dados tenham resultados melhores. É precoce contemplar estimativas mais pessimistas, mas os dados da PMS não são muito animadores", analisa.

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