O governo brasileiro confirma que vai partir finalmente em busca de novos acordos comerciais e não descarta nem mesmo retomar um diálogo entre o Mercosul e os Estados Unidos. Outra prioridade será um acordo com a União Européia. Mas Bruxelas alerta que os problemas na Rodada Doha não desaparecerão e, portanto, também prevê um processo difícil. Veja também: 'O fio não agüentou', diz Amorim sobre fracasso de Doha Negociações da Rodada Doha fracassam com impasse agrícola Os problemas que levaram as negociações ao fracasso Vencedores e perdedores após colapso de Doha Principais datas que marcaram a rodada Veja a reação no Brasil após o fracasso das negociações da OMC "A OMC era a prioridade, pois só aqui é que poderíamos tratar de subsídios. Mas agora vamos ter de nos concentrar em coisas que dão resultados. Não posso ficar pendurado aqui por mais quatro anos", afirmou o chanceler Celso Amorim. Questionado como veria a OMC a partir de agora, o ministro foi direto: "de longe". Para muitos nesta terça-feira, 29, em Genebra, o fracasso da Rodada Doha coloca em risco credibilidade da OMC como o centro focal das negociações internacionais. Países em diversos cantos do mundo já alertam que irão buscar soluções bilaterais e os acordo entre regiões prometem se proliferar. "Eu sempre disse que o processo com a UE recomeçaria", afirmou Amorim. Ele reconhece que o processo terá de partir de uma nova base. Mas a comissária de Agricultura da Europa, Marianne Fischer Boel, alerta que os problemas continuarão. "O que foi problemático aqui também será entre o Mercosul e a UE", alertou. Sobre um acordo com os EStados Unidos, Amorim deixa claro que o modelo da ALCA não poderá ser repetido. Mas admite conversar. "Vamos ver com o Mercosul", disse. "Eu não excluo essa possibilidade. Mas não como vinha sendo proposto, com leis de patentes e investimentos. Não será fácil. Mas se houver uma tentativa realista, porque não", afirmou Amorim. No Brasil, a Fiesp já tem uma agenda de acordo que gostaria de ver negociado, enquanto África do Sul, asiáticos e latino-americanos devem buscar o mesmo caminho. Já a França alerta que também bloqueará essas iniciativas se elas signifiquem a abertura de seus setores agrícolas. "Não podemos mais apenas reagir ao cenário internacional. Precisamos ser ativos e buscar acordos", afirmou Mario Marconini, diretor de Relações Internacionais da Fiesp. Em sua agenda está a retomada de um acordo com a Europa, além de maiores acessos aos próprios mercados vizinhos, entre eles Peru e Colômbia. Na Confederação Nacional da Indústria (CNA), a pressão é para que o governo passe a buscar acordo e retomar a negociação entre o Mercosul e a UE. O processo foi interrompido em 2004, depois que as duas regiões não conseguiram se entender no preço que os sul-americanos precisariam pagar pelas concessões no setor agrícola europeu. Desde então, a esperança era de que a Rodada Doha fosse concluída e que, a partir daí, uma base fosse criada para o entendimento regional. Mas com o fracasso de ontem, tanto o Mercosul como a UE terão de repensar sobre que bases negociarão. "Vamos ter de recomeçar do zero todas nossas negociações, já que as bases são outras", afirmou Nestor Stancanelli, negociador-chefe da Argentina. Para ele, nenhum acordo vai conseguir ser concluído antes do final de 2009. "Haverá um congelamento da situação internacional", afirmou. O embaixador da França na OMC, Phillip Gros, também alertou que o fracasso de Doha não significa que os acordo bilaterais serão mais fáceis. "Nos países democráticos, os governos precisam levar em consideração a opinião pública. Hoje, essa opinião pública pressiona por certas medidas protecionistas e precisamos respeitá-las se um governo pretende representar a população", afirmou. Os franceses estão entre os mais protecionistas em toda a Europa e recebem metade dos subsídios dados pela UE por ano. Para o secretário de Comércio da África do Sul, Rob Davies, a busca por entendimentos bilaterais será o foco de sua agenda a partir de agora. "Vamos precisar consolidar nossas relações com outros países emergentes por meio de acordos. Isso será fundamental nos próximos anos", afirmou Davies.