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Após fusões, mineração deve investir US$ 32 bi

Nos últimos dois anos, foram 22 operações envolvendo companhias brasileiras, que estão ampliando a produção

Por Nicola Pamplona
Atualização:

A onda de fusões e aquisições que há pelos menos dois anos varre o mercado brasileiro de mineração está longe de chegar ao fim, apontam especialistas ouvidos pelo Estado. Segundo cálculos da consultoria KPMG, foram 22 operações envolvendo companhias brasileiras entre 2006 e 2007, volume superior ao dos seis anos anteriores. Esse movimento, provocado pela disparada nos preços das commodities minerais, deve render ao País investimentos de pelo menos US$ 32 bilhões em ampliação da capacidade de produção até 2011. Os entrevistados são unânimes em afirmar que novos negócios serão anunciados nos próximos meses, principalmente no segmento de minério de ferro, responsável por 43% dos investimentos previstos para o setor, segundo dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Um exemplo são as negociações entre a siderúrgica Usiminas para aquisição do Grupo J.Mendes, que produz 6 milhões de toneladas por ano, seguindo tendência de verticalização das atividades já posta em prática pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). "As empresas estão investindo brutalmente na identificação de novas jazidas", diz o presidente do Ibram, Paulo Camillo Penna. "Ou elas investem em exploração, que tem prazo de 10 anos para dar resultado, ou compram empresas menores e aplicam capital para expandir a produção." A segunda alternativa tem maior visibilidade, mas Penna diz que a busca por novas reservas também está em alta, com investimentos estimados em US$ 350 milhões em 2007. "É quase quatro vezes o registrado em 2002." O ciclo de investimentos e consolidação é dividido entre os mais diversos minerais, mas o mercado de minério de ferro ganhou novas cores depois que a Vale esbarrou nos limites impostos pelos órgãos de defesa da concorrência para a sua expansão no País. Enquanto a maior mineradora nacional alça vôos no exterior - primeiro com a compra da canadense Inco, agora com a proposta pela anglo-suíça Xstrata -, seu quintal começa a ser invadido por concorrentes estrangeiros e nacionais, além da recém-criada MMX, controlada pelo empresário Eike Batista. O exemplo mais recente foi a chegada da Anglo American ao segmento, com a aquisição de projetos da MMX por US$ 5,5 bilhões. A multinacional, que já explorava níquel no País, pretende atingir, em dez anos, a capacidade de produção de 100 milhões de toneladas de minério de ferro, volume equivalente ao de Carajás, a maior mina da Vale. No início de 2007, sua compatriota London Mining já havia comprado a Minas Itatiaiucu, projeto mais modesto, de onde pretende extrair 17 milhões de toneladas por ano. As siderúrgicas, por sua vez, buscam maior independência dos grandes conglomerados mineiros, avalia o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Marco Polo de Mello Lopes. Dona da mina de Casa de Pedra, a CSN comprou, em 2007, a Companhia de Fomento Mineral (CFM). Já a Usiminas pretende atingir a auto-suficiência no suprimento do insumo com a J. Mendes. "A concentração das mineradoras levou a grandes aumentos de preço, motivando a busca por suprimento próprio", explica. "Outros grandes grupos podem chegar, como é o caso da Rio Tinto", aponta o analista do setor de mineração do Banco Brascan, Rodrigo Ferraz. O grupo, hoje sofrendo pressões para uma fusão com a BHP, controla uma mina em Corumbá, em Mato Grosso do Sul, mas tem dificuldades para expandir o projeto em razão de restrições para a atuação de estrangeiros em áreas de fronteira. De todo modo, o mercado não descarta a possibilidade de associação com uma companhia menor. HORA DE COMPRAR O analista do Brascan, porém, lembra que as melhores chances de aquisição estão se esgotando. Além disso, a corrida por novos ativos inflacionou o mercado. Na compra da MMX, por exemplo, a Anglo American pagou US$ 150 por tonelada, considerando os números atuais da empresa. Em 2007, quando comprou a CFM, o valor pago pela CSN foi de US$ 81 por tonelada. Na opinião de Penna, as empresas devem agilizar os investimentos para aproveitar o bom momento do mercado mundial. Apesar dos temores de desaceleração da economia americana, a tendência é de que o ciclo de alta nos preços se mantenha por mais alguns anos. "O principal fator de aumento da demanda é a China", lembrou, na semana passada, a presidente mundial da Anglo American, Cynthia Carrol. O presidente do Ibram acrescentaria à lista a Índia, a Coréia e até a Alemanha. Em relatório divulgado no início do mês, o Banco Credit Suisse elevou a previsão para o reajuste do minério de ferro este ano, que pode chegar a 55%, ante os 35% projetados inicialmente. Para o banco, o mercado deve ter este ano um déficit de suprimento entre 20 milhões e 25 milhões de toneladas.

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