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Após JBS, BNDES faria auditoria em operações com Odebrecht, mas plano pode ser abortado

Com resultado da auditoria, que apontou inexistência de indícios de irregularidade e, ao mesmo tempo, com polêmica devido ao custo, de R$ 48 mi, avaliação é que “não faz sentido” gastar recursos com esse tipo de auditoria externa

Por Idiana Tomazelli e Patrik Camporez
Atualização:

BRASÍLIA - A conclusão da auditoria nas operações do BNDES com a JBS levaria a instituição a um segundo passo nas investigações: a apuração de eventuais indícios de irregularidades nos contratos com a Odebrecht. Esse era o cronograma original acertado pelo banco de fomento no ápice dos escândalos de corrupção e acusações de “caixa-preta”, em 2017. O plano, porém, pode ser abortado, segundo apurou o Estadão/Broadcast

A Odebrechtentrou com pedido de recuperação judicial em junho de 2019 e teve seu plano aprovado neste ano. Foto: Mariana Bazo/Reuters

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Após a auditoria nas operações da JBS apontar inexistência de indícios de irregularidade e, ao mesmo tempo, gerar polêmica devido ao custo de R$ 48 milhões revelado pelo Estado, a avaliação interna no banco é que “não faz mais sentido” gastar recursos com esse tipo de auditoria externa.

O acerto foi feito em 2017 entre o BNDES e a KPMG, seu auditor independente. Na esteira das delações de executivos da Odebrecht e da JBS, a KPMG sinalizou que não estava confortável com os resultados das apurações internas do banco (a partir de comissões instauradas pela ex-presidente Maria Silvia Bastos Marques) e que poderia não assinar as demonstrações contábeis da instituição.

A assinatura do auditor funciona como uma espécie de “selo” de que os registros são fidedignos e confiáveis. No auge das investigações da Operação Lava Jato, no fim de 2014, a Petrobrás deixou de publicar o seu balanço após o auditor independente se recusar a assinar o documento. O episódio teve repercussão extremamente negativa sobre a companhia, que acabou divulgando, no início de 2015, um balanço não auditado ainda sem registrar as perdas com a corrupção na empresa.

Diante do ocorrido com a Petrobrás, o BNDES avaliou que teria muito a perder caso a KPMG não assinasse seu balanço. Como o auditor sinalizou que o compromisso com uma auditoria externa sobre as operações mais problemáticas resolveria o impasse, o banco acertou o cronograma.

A JBS foi o foco inicial porque a delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista era a mais recente e explosiva. Para isso, foi aproveitado um contrato já existente com a Cleary Gottlieb Steen & Hamilton LLC, que assumiu a auditoria forense após o primeiro escritório internacional que tinha contrato com o BNDES alegar impossibilidade por “conflito de interesse”. O banco optou por uma banca do exterior para garantir que os resultados seriam reconhecidos pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que também voltou suas atenções para as operações suspeitas.

Ao fim do trabalho com as operações da JBS, viria a auditoria sobre as operações com a Odebrecht. Em uma reunião do Conselho de Administração do BNDES, em 12 de novembro de 2018, a diretoria do banco destacou que a auditoria forense em relação às exportações relacionadas à Odebrecht “não foi incluída no escopo do contrato em epígrafe, pois o volume já conhecido de dados a analisar extrapola a margem (de custo) existente no Contrato OCS n° 270/2015”. Segundo a ata da reunião, a diretoria citou a necessidade de contratar uma nova auditoria, em separado, para a avaliação das operações com a Odebrecht.

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Segundo apurou a reportagem, o BNDES chegou a fazer uma pesquisa de preços para a nova auditoria, mas não houve avanço. Agora, a avaliação é de que esse segundo passo não deve vingar “por não ser necessário”.

De acordo com uma fonte ouvida pelo Estadão/Broadcast, a contratação do Cleary para analisar as operações com a JBS foi feita porque a KPMG demandou uma avaliação externa, e nenhum outra empresa quis assumir o trabalho de auditar o BNDES em meio ao furacão das delações devido a “riscos de reputação”.

Agora, após o depoimento de quase 60 funcionários do banco, análise de centenas de milhares de documentos e um período de paralisia no banco, a avaliação interna é que o período mais crítico de desconfiança já foi vencido.

Procurada, a KPMG no Brasil informou que “por motivos de cláusulas de confidencialidade que regem a profissão de auditor está impedida de se manifestar sobre casos envolvendo empresas auditadas ou que já foram auditadas pela firma”. O BNDES não se pronunciou. 

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