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Após três meses de alta, vendas do varejo ficam estáveis em julho

Para economistas, mesmo sem crescimento, resultado reforça análises de que retomada da economia está realmente em curso

Por Daniela Amorim (Broadcast) e Maria Regina Silva
Atualização:

RIO - Após três meses apresentando resultados positivos na comparação com o mês imediatamente anterior, em julho o volume de vendas manteve o patamar de junho e registrou variação nula (0,0%).  O resultado veio em linha com a mediana das estimativas do mercado financeiro (zero), calculada com base no intervalo de previsões dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam desde uma queda de 0,90% a alta de 0,60%. Na comparação com julho de 2016, sem ajuste sazonal, as vendas do varejo tiveram alta de 3,1% em julho de 2017, também em linha com a mediana das estimativas. Nesse confronto, as projeções iam de uma expansão de 2,10% a 4,00%. As vendas do varejo restrito acumularam crescimento de 0,3% no ano e queda de 2,3% em 12 meses.

Setor de hipermercadosobteve variação positiva (0,7%), após um recuo de 0,3% em junho Foto: José Patrício/Estadão

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A explicação para esse resultado é o fato de várias atividades terem repetido o volume de vendas do mês anterior, o que não ocorreu com hipermercados – setor que obteve variação positiva (0,7%), principal impacto positivo sobre o desempenho do varejo no mês, após um recuo de 0,3% em junho.

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O aumento no volume vendido pelo segmento impediu uma queda no comércio varejista como um todo, que ficou estável (0,0%) em relação a junho. O arrefecimento da inflação e o aumento na massa de salários em circulação na economia ajudaram a venda de bens essenciais, como os alimentos, afirmou Isabella Nunes, gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE.

"A atividade do varejo começa a se recuperar a partir do segundo trimestre, especialmente o segmento de supermercados. É a atividade que está mostrando uma sequência de resultados positivos, beneficiada pelo aumento da massa real de salários. É mais do que uma alta na renda, a massa de renda real vem crescendo por causa do aumento da ocupação", apontou Isabella. Os demais avanços foram registrados por Tecidos, vestuário e calçados (0,3%); e Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (4,4%). Na direção oposta, houve perdas em Combustíveis e lubrificantes (-1,6%); Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-0,4%); e Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,2%) pressionaram negativamente.

As atividades de Móveis e eletrodomésticos (0,0%) e Livros, jornais, revistas e papelaria (0,0%) acompanharam o resultado geral e também mostraram estabilidade.

No varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, houve aumento de 0,2% nas vendas em julho ante junho. Houve redução de 0,8% das vendas em Veículos e motos, partes e peças, mas foi compensada pelo avanço de 0,9% em Material de construção. "Esse avanço de material de construção é para consumo das famílias, não tem a ver com grandes obras, com obras do governo. O cimento está caindo muito de preço. As vendas são para pequenas reformas, para pequenas obras", explicou Isabella.

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Retomada. A Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) reforça que a retomada do consumo está em curso e não se deve a apenas fatores pontuais, avalia o economista Marco Caruso, do Banco Pine. "Tem uma história que não é só de curto prazo. É uma retomada que tem fundamentos", afirma. De acordo com o economista, nesse cenário de retomada, o Produto Interno Bruto (PIB) pode até crescer 1% em 2017. "Um intervalo de alta do PIB entre 0,5% e 1% seria justo", diz. Por enquanto, o Pine estima crescimento de 0,6% para o PIB este ano, pois não descarta a possibilidade de o dado do terceiro trimestre ficar ligeiramente negativo. "Pode devolver um pouco da alta do segundo trimestre", conta.

Ao avaliar o resultado de agosto, o economista João Morais, da Tendências Consultoria Integrada , afirma que não só questões pontuais como os saques das contas inativas do FGTS estão ajudando as vendas varejistas, mas que há fatores macroeconômicos apontando para recuperação do consumo. Segundo ele, o retorno do crédito, a inflação e o juro baixos além da alta real dos salários são alguns dessas questões a impulsionar as vendas varejistas. "Daqui para frente, essa melhora deve ser puxada ainda mais pelo canal do crédito e pela retomada do emprego", estima. Diante da expectativa de retomada econômica por meio do consumo, a Tendências Consultoria Integrada prevê crescimento de 0,7% do PIB em 2017. Já as vendas do varejo restrito devem subir 2,4% depois do recuo de 6,2% em 2016. Morais ressalta que ainda é difícil imaginar quanto tempo levará para recuperar o nível do pré-crise. "Porém, não necessariamente significará uma economia fraca", pondera. Morai lembra que nos últimos anos, no fim do processo 2013/2014, o consumo das famílias ficou muito "anabolizado" por políticas que não eram sustentáveis. "O Pais pagou a conta de uma única vez, e a economia caiu 8% em dois anos. É natural que leve algum tempo para recuperarmos isso, mas o importante é que agora os sinais são de retomada baseada em fundamentos", afirma.

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