Desta vez não houve dificuldade alguma em interpretar o "coponês" da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou a taxa básica de juros em 0,5 ponto para 13,75% ao ano. Tanto que os analistas, já estimulados pela inflação de maio, bem acima da esperada, produziram imediatas revisões altistas em suas previsões para a trajetória futura da taxa básica de juros. Poucos mantiveram a hipótese anterior, que indicava uma última elevação de 0,25 ponto, em julho, para encerrar o atual ciclo de alta em 14% ao ano. Um número bem maior avançou agora para 0,50 ponto no próximo Copom e um terceiro grupo ainda esticou o fim do ciclo para setembro, com a taxa estacionando em 14,5%. Esses movimentos atenderam a mensagens, reforçadas pela ata de ontem, na direção unívoca de que o Banco Central fará o que for necessário com a política de juros para fazer a inflação descer ao centro da meta em fins de 2016. A ata não deixa dúvidas dessa intenção, depois de repetir que os esforços no combate à inflação "ainda se mostram insuficientes", ao acrescentar, pela primeira vez, a menção de que é preciso "determinação e perseverança" para impedir a transmissão da inflação a prazos mais longos. Embora essa intenção venha sendo reiterada pelo BC, em sua comunicação e em declarações de seus diretores, o mercado ainda não comprou a ideia e mantém estimativas para a inflação, no final do próximo ano, de 5,5%, um ponto acima do centro da meta. É na busca de recuperar a credibilidade perdida que o BC acena com uma aposta dobrada nos juros. Existem, no entanto, problemas com essa estratégia. Como o próprio BC reconhece na ata, o vetor inflacionário essencial do momento deriva do realinhamento dos preços administrados, muitos dos quais representam importantes componentes dos custos de produção. Combatê-los com instrumentos desenhados para enfrentar pressões de demanda, ainda mais em face de uma economia já em baixa, embute riscos de exagerar na dose.