Bitcoin à parte, a Bolsa brasileira foi a boa surpresa dos investimentos financeiros de 2017. A valorização do Índice Bovespa no ano foi de 26,86% (veja gráfico e tabela).
A partir deste fato estatístico, duas são as principais perguntas a fazer: como se explica esse desempenho excelente num ano economicamente fraco e o que esperar da Bolsa em 2018, ano em que se esperam resultados melhores da economia.
O comportamento do mercado de ações em geral se antecipa aos fatos, porque é feito de apostas sobre o futuro. Esta pode ser uma frase um tanto desgastada pela repetição, mas nem por isso deve ser desprezada. Começando por aí, pode-se dizer que a Bolsa refletiu a expectativa de que a economia começaria a reagir e, com ela, viria a retomada dos negócios.
Mas isso está longe de ser tudo. O principal fator que estimulou as bolsas em todo o mundo – e não só no Brasil – foi o quadro global relativamente favorável, sem crise grave e de recuperação da atividade econômica, que impulsionou as aplicações de risco. Houvesse turbulência, o comportamento das bolsas seria outro. Fazem parte desse cenário risonho, a nunca vista abundância de recursos disponíveis nos mercados e a persistência de juros muito baixos nos Estados Unidos, na Europa e no Japão.
É o que explica em boa parte a valorização do mercado de ações nos grandes centros financeiros. O Índice Dow Jones (Nova York) valorizou-se no ano (até esta quinta-feira) 25,23%; Frankfurt, 13,06%; e o Índice Nikkei (Japão), 17,43%.
Porém, a evolução da economia brasileira também ajudou a empurrar a Bolsa. O câmbio relativamente estável, as safras recordes de grãos, o tombo da inflação, a vertigem dos juros e, em consequência disso, a forte queda das aplicações em renda fixa empurraram os investidores para o mercado de maior risco. O efeito do aumento da procura por ações refletiu-se na alta dos seus preços.
Agora, à segunda pergunta. As condições globais favoráveis tendem a persistir. Os grandes bancos centrais poderão aumentar em alguma coisa os juros, mas ninguém espera tranco nenhum. Ou seja, apesar da boa valorização dos mercados de ações, a tendência é de que a procura por ativos de risco deve continuar relativamente elevada, especialmente porque os juros deverão continuar achatados. Apenas um grave fato geopolítico, como uma nova guerra ou o estouro de uma bolha financeira, hoje fora dos radares, poderia mudar esse quadro básico.
Os ventos no Brasil não sopram numa só direção. A retomada da atividade econômica e, portanto, o melhor desempenho esperado das empresas cujas ações são cotadas em bolsa são condições inegavelmente positivas.
Mas há outras. Os juros tendem a se manter achatados e, com eles, achata-se também o retorno das aplicações de renda fixa. Nessas condições, o aplicador olha para o rendimento da caderneta e dos fundos de investimento, franze a testa, e se sente mais tentado a arriscar em alguma proporção seu patrimônio.
Dois importantes fatores podem aumentar as incertezas e, portanto, ameaçar a valorização dos ativos de renda variável, entre os quais as ações. O primeiro deles é a deterioração das contas públicas e o grande atraso das reformas que poderiam mudar o jogo negativo. O segundo é a evolução do quadro político. Ninguém sabe o que será das eleições presidenciais de 2018. O eventual fortalecimento de um candidato oportunista e sem compromisso com a saúde da economia pode produzir turbulências e o afundamento das cotações das ações. Mas, antes disso, a Bolsa passará por um evento muito importante: o resultado do julgamento em segunda instância do ex-presidente Lula, agendado para o dia 24 de janeiro.
Como ficou dito no início desta Coluna, Bolsa é aposta. Quem aplica acredita que mais coisa boa do que ruim acontecerá na economia e na política do Brasil em 2018. Quem fica de fora, ou não quer enfrentar riscos ou aposta em que haverá turbulências.