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Aquisição de usinas será mais seletiva

Cenário do setor sucroalcooleiro continua difícil por conta do ciclo de baixa dos preços

Por Monica Scaramuzzo
Atualização:
 

As operações de fusões e aquisições no setor sucroalcooleiro serão muito seletivas nos próximos meses, afirmaram fontes do mercado financeiro ouvidas pelo ‘Estado’. “As consultas foram retomadas, mas os potenciais compradores estão atrás de barganhas”, afirmou uma fonte. 

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Entre 2005 e 2008, o setor viveu um forte movimento de expansão e consolidação, atraindo investidores estrangeiros e nacionais, estimulado pelo aumento do consumo do etanol, que viveu um boom com a forte demanda por carros flex. Depois da crise de 2008, muitas usinas quebraram e dezenas delas encerraram suas atividades.

“Há um movimento recente de usinas que decidiram vender separadamente seus ativos de cogeração para reduzir a alavancagem”, diz Antonio Rogerio Ferreira, superintendente de fusões e aquisições e mercado de equity do Banco Fator. Foi o caso do grupo francês Albioma que adquiriu, em abril, 65% da operação de cogeração do grupo sucroalcooleiro Jalles Machado, de Goiás. “CPFL Renováveis e Tractebel também adquiriram divisão de cogeração de usinas em um passado recente.”

No fim do ano passado, a Brookfield comprou por cerca de R$ 1,4 bilhão os negócios de energia renovável da Energisa. Dentro desse pacote, estava incluída a divisão de cogeração do grupo sucroalcooleiro Tonon Bionergia, que se desfez do negócio, em duas etapas, para reduzir sua dívida. Na semana passada, a Tonon teve rating (nota) de crédito rebaixado pela agência de classificação de risco Fitch. Procurada, nenhum porta-voz da companhia foi encontrado para comentar o assunto.

Além da Tonon, também recebem classificações da Fitch a Raízen, Biosev, Jalles Machado, a Usina São João Açúcar e Álcool e Grupo Virgolino de Oliveira (GVO).

“A venda de um ativo de cogeração faz sentido”, diz Claudio Miori, analista sênior de açúcar e etanol da Fitch. “Esse negócio tem uma grande capacidade de geração de caixa, comparado ao de açúcar e álcool.”

Miori lembra que o negócio de açúcar e álcool ainda está passando por um momento difícil, de liquidez apertada e crédito restrito. “O ‘business’ cogeração tem receita previsível, mas não é ‘core’ (negocio principal) das usinas, representando, em média, de 7% a 10% da receita total”, diz. 

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Mesmo com o anúncio do governo no início deste ano da volta da Cide e aumento da mistura do etanol na gasolina, de 25% para 27,5%, o que dá fôlego às usinas, os preços internacionais do açúcar vão seguir pressionados pela superoferta global, de acordo com Miori.

Para Alexandre Figliolino, diretor do Itaú BBA, há um grupo de usinas que não está entre os dez maiores do setor e que também não faz parte dos que pediram recuperação judicial que pode atrair investidores. “Em teoria, todas as usinas estão à venda há muito tempo. A questão é que há uma diferença enorme entre o preço que se pede e o quanto os possíveis compradores estão dispostos a desembolsar.” Segundo ele, o cenário atual não indica que operações de fusões e aquisições ocorram no curto e médio prazos.

 

Potencial. Das cerca de 380 usinas em operação no País, 170 delas vendem energia a partir da biomassa no mercado, afirma Zilmar José de Souza, consultor de bioeletricidade da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica). 

A capacidade instalada das usinas é de 9.339 MW, incluindo consumo próprio, o equivalente a cerca de 70% da Usina de Itaipu. Vale lembrar que a energia produzida com o bagaço é sazonal, de abril a dezembro, período de colheita da cana e também de estiagem no País. Até 2021, a capacidade instalada das usinas poderia atingir 22 mil MW. 

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