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Argentina convoca embaixador do Brasil para explicar entrave

Restrições que o governo brasileiro impôs aos alimentos argentinos na última semana são um sinal de retaliação

Por Marina Guimarães e da Agência Estado
Atualização:

As relações comerciais entre os dois principais sócios do Mercosul andam complicadas. Brasil e Argentina não se entendem somente em Genebra, onde são debatidas negociações com a Organização Mundial do Comércio (OMC), como reconheceu uma fonte oficial argentina à Agência Estado, na semana passada.

 

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A distância entre os países vizinhos levou a medidas unilaterais da Argentina contra as importações de produtos brasileiros desde o ano passado, que foram, finalmente retaliadas pelo Brasil na última semana. Agora, o chanceler Jorge Taiana convocou o embaixador brasileiro em Buenos Aires, Mauro Vieira, para dar explicações sobre as restrições que o Brasil impôs aos alimentos argentinos.

 

Vieira se reunirá nesta tarde com o secretário de Relações Econômicas Internacionais, Alfredo Chiaradía, na sede da Chancelaria argentina, em Buenos Aires. "Vamos transmitir ao embaixador, a preocupação do governo pela interrupção do fluxo comercial com o Brasil, já que vários caminhões com produtos perecíveis estão sendo demorados em diferentes fronteiras com o país vizinho sem aviso prévio", informou o chanceler Jorge Taiana à imprensa local após uma solenidade no Palácio San Martín, realizada nesta última segunda-feira à noite.

 

Na quinta-feira, 22, sem ter sido informada ainda sobre a imposição de licenças não-automáticas para a importação brasileira de alguns alimentos argentinos, Cristina mandou um recado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para repetir uma velha reclamação do país. "Uma associação estratégica deve ter vantagens para os dois sócios, para que realmente seja concebida e tratada", disse a presidente durante discurso na solenidade de lançamento do novo caminhão da Iveco (Fiat), em Córdoba.

 

Embora dirigida ao Brasil, a frase mais parecia uma própria carapuça, já que a Argentina vem brecando a entrada de produtos brasileiros desde 2008, afetando 14% da pauta exportadora do sócio. Tanto que, conforme mostrou a AE naquele mesmo dia, o Brasil perdeu para a China a liderança histórica no mercado argentino de calçados e têxteis e está a ponto de perder o de eletrodomésticos.

 

"O maior prejudicado com as barreiras argentinas é o Brasil porque China e outros países asiáticos e México estão ocupando o lugar do Brasil no mercado", afirmou o analista setorial Alejandro Ovando, da consultoria Investigações Econômicas Setoriais (IES). Mesmo assim, na ocasião de seu discurso, Cristina disse que falaria com "o principal sócio do Mercosul (Brasil) para que suspenda as proibições à entrada de caminhões argentinos" no mercado brasileiro.

 

A referência de Cristina foi ao Finame, uma linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) destinada a empresas de micro e pequeno porte para financiar a aquisição de máquinas e equipamentos nacionais novos, incluindo caminhões. O crédito é brando, com até 60 meses de prazo, mas só pode ser concedido para a compra, nesse caso, de caminhões brasileiros.

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A Argentina reclama que os caminhões de sua indústria sejam incluídos no programa brasileiro, não só em função do acordo comum automotivo, mas também por uma questão de reciprocidade. Os benefícios fiscais e créditos concedidos pelo governo de Cristina ao setor nacional não discrimina a indústria brasileira.

 

Represálias

 

As barreiras argentinas contra o Brasil atingem mais de 100 produtos e são justificadas por Cristina para que a indústria nacional possa enfrentar a crise sem fechar postos de trabalho. O objetivo da presidente argentina é substituir importações e fortalecer a indústria de seu país. Porém, a falta de recondicionamento por parte dos industriais em suas empresas e de investimentos, a produção local não é do tamanho que o governo argentino almeja.

 

E a fatia deixada pelos produtos brasileiros acaba sendo mordida por terceiros países. A barreira imposta pelo governo brasileiro é equivalente às que vêm sendo adotadas pela Argentina e afeta a farinha de trigo, vinho, alho, azeite, azeitona, rações para animais e outros produtos alimentícios.

 

"O pior da crise já passou. A Argentina conseguiu preservar seus postos de trabalho. Portanto, considero que o momento é de negociar o fim destas barreiras de ambos os lados", avaliou uma alta fonte do governo argentino em conversa com a AE. A fonte reconheceu que muitas das medidas adotadas pelo governo de seu país foram "exageradas e equivocadas". "Quando uma medida ruim é tomada e não se retrocede nela, outras medidas seguem o seu caminho e todos acabam perdendo", sintetizou.

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