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Argentina e Selic desestabilizam mercados

A inclusão do euro num novo mecanismo cambial argentino confundiu os investidores, que se assustaram. A instabilidade dos mercados norte-americanos e as denúncias contra o senador Jader Barbalho pioraram a situação. Já se esperava uma alta da Selic, mas ela agora parece certa.

Por Agencia Estado
Atualização:

Já se esperava tensão e instabilidade nessa semana por causa das especulações em torno da reunião mensal do Comitê de Política Monetária (Copom), que começa hoje e termina amanhã, para decidir o novo patamar da Selic, a taxa básica referencial de juros, atualmente em 15,75% ao ano. Mas o anúncio argentino de inclusão do euro num novo mecanismo cambial do peso aumentou os temores de que a Argentina esteja à beira de um colapso e o pessimismo descontrolado tomou conta dos negócios. Inclusão do euro confundiu e preocupou No final de semana, o governo argentino anunciou que o mecanismo de paridade entre o dólar e o peso será modificado. O projeto de lei, que deve ser enviado hoje pela manhã ao Congresso, cria uma cesta de moedas composta por euros e dólares na mesma proporção, como parâmetro do valor do peso. Segundo o ministro da Economia, Domingo Cavallo, a média aritmética das cotações das duas moedas comporá o valor do peso, num mecanismo ainda não totalmente compreendido pelos analistas, uma vez que não é possível fazer média de duas moedas diferentes. A lei, porém, só entraria em vigor quando o euro atingir a cotação de US$ 1,00. Ontem, a taxa de câmbio de fechamento foi de US$ 0,8880. Desde 23 de fevereiro do ano passado, menos de dois meses depois do lançamento da moeda européia, o euro vem sendo negociado abaixo da paridade. Assim, a mudança é relativamente inócua, já que nem se imagina quando seria implantada. Cavallo argumenta que a medida trará novos empréstimos com custo menor, pois os juros da zona do euro são mais baixos que os norte-americanos. Mas a grande maioria dos débitos do país estão denominados em dólares e pode demorar muitos anos até que a dívida tenha uma composição homogeneamente repartida entre as duas moedas ou, alternativamente, pode exigir um esforço enorme de negociação com os credores internacionais para a conversão de títulos em dólar para euro. De qualquer forma, da maneira como está sendo apresentada, essa reforma é estrutural e de longo prazo, empalidecendo frente aos inúmeros problemas emergenciais que a economia do país enfrenta. Também ainda não ficou claro qual será o mecanismo exato que regerá o cálculo dessa média aritmética. O ministro garante que o novo regime cambial não implica desvalorização, apenas um novo regime de flutuação. Com a participação do euro, o peso pode até se valorizar em relação ao dólar, o que seria um problema para a competitividade dos produtos argentinos. Nos bastidores, muitos analistas acreditam que Cavallo usa dessa medida sem finalidade prática imediata para desviar as atenções dos problemas mais emergenciais. Na quarta-feira, o ministro virá a São Paulo para tentar esclarecer as muitas dúvidas. Copom, bolsas instáveis nos EUA e denúncias assustam Por todas essas razões, o mercado ficou muito apreensivo com o anúncio. Houve uma corrida dos investidores ao dólar para proteger seus recursos, tanto na Argentina como no Brasil, onde os efeitos de uma crise no país vizinho também devem ser sentidos. Na véspera da reunião do Copom, com os mercados norte-americanos instáveis e em meio a mais denúncias contra o presidente do Senado, Jader Barbalho, a reação foi negativa. Já se falava em uma alta da Selic na semana passada, devido ao aumento da inflação. O cenário internacional instável torna o dólar uma alternativa segura para os investidores, o que tem mantido suas cotações muito acima do previsto neste ano. Com isso, os preços ? especialmente de produtos importados e nacionais exportáveis ? começam a subir. Segundo especialistas, o efeito será ainda maior a partir de maio. Dessa maneira, os juros deveriam subir para compensar a alta da inflação e também para reduzir o crescimento econômico, de modo a segurar os preços e até a demanda por importados. Depois do susto dado pelo governo argentino, formou-se um consenso de que a Selic subirá. A maioria acredita num aumento de 0,5 ponto porcentual, mas há quem aposte em elevação de até 1 ponto porcentual. De qualquer forma, ontem os juros futuros dispararam, assim como o dólar, que atingiu a cotação de fechamento mais elevada desde a criação do Real. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) também despencou. A instabilidade dos mercados norte-americanos colabora para o pessimismo, num momento em que cresce a idéia de que a economia dos EUA entra num ciclo recessivo ou que, no máximo, entrará numa lenta recuperação no segundo semestre. Além disso, a continuação das disputas envolvendo os Senadores Antônio Carlos Magalhães e Jader Barbalho, presidente do Senado, traz uma possibilidade de crise política desconfortável. O último lance foram as denúncias de envolvimento de Barbalho com José Borges, acusado de irregularidades na gestão de recursos da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).

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