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Argentina faz dólar disparar no Brasil

O agravamento da situação da Argentina tem impacto direto no mercado de câmbio no Brasil. Os investidores fazem operações de hedge, ou seja, compram dólares. O aumento da procura eleva as cotações. A balança comercial também prejudica o cenário.

Por Agencia Estado
Atualização:

Desde o início do dia, a cotação do dólar vem subindo. Em relação aos últimos negócios de ontem, a alta é de 1,05%, sendo cotado a R$ 1,9300 na ponta de venda dos negócios há pouco. É o patamar máximo registrado hoje. Ontem, a moeda norte-americana já havia ultrapassado a barreira de R$ 1,90 e chegou a atingir R$ 1,91. No acumulado do mês de outubro, a moeda norte-americana, segundo as cotações oficiais do Banco Central (BC) já atinge uma valorização de 2,65%. De acordo com Marcelo Alain, economista-chefe do Banco Inter American Express, a tendência de alta verificada nos últimos dias é resultado de um aumento da procura por dólares. "Os investidores pessoa física e os bancos fazem operações hedge, ou seja, buscam proteção na compra de dólares ou ativos indexados à moeda dos EUA", afirma. O motivo para isso, segundo Alain, é a instabilidade no cenário externo. O Brasil é atingido pela depreciação do cenário político e financeiro da Argentina. Isso porque tem fortes relações comerciais com a Argentina. Uma queda no poder de compra do país vizinho tem impacto direto nas exportações brasileiras. Além disso, o Brasil é um País que precisa de financiamento externo, ou seja, ele precisa captar dinheiro no exterior para fechar suas contas. "A piora do quadro Argentino faz com que os investidores externos exijam que o governo brasileiro pague juros mais elevados na venda de seus papéis. As elevadas taxas funcionam como um prêmio ao risco assumido na compra dos títulos brasileiros. Isso significa que, quanto maior o risco, mais altos serão os juros", explica Luiz Rabi, economista-chefe do BicBanco. Rabi também acredita que o resultado da balança comercial nos meses de setembro e outubro contribuiu para a alta do dólar, em função do grande volume de importação de matéria-prima. Em setembro, o déficit - importações maiores que exportações - foi de US$ 320 milhões. Em outubro, até o dia 20, o déficit já está em US$ 437 milhões. "As indústrias estão preparando-se para aumentar a produção agora no final do ano na expectativa de um aumento das vendas, e por isso estão importando mais matéria-prima", justifica Rabi. Dólar em alta pode exigir atuação do BC Em novembro de 1999, o dólar comercial oscilava em torno de R$ 1,92. Na avaliação do economista-chefe do BicBanco, a moeda norte-americana funciona como um termômetro da situação. Ele acredita que, caso a situação da Argentina piore ainda mais, essa cotação pode chegar a R$ 1,95. Dólar em alta pode puxar a inflação. Um dos motivos é o encarecimento da matéria-prima importada e, até mesmo, dos produtos importados. De acordo com Rabi, o BC pode atuar para segurar essa alta da moeda norte-americana, vendendo dólares ou colocando títulos cambiais, caso perceba que pode haver uma pressão inflacionária. Porém, ninguém sabe qual a avaliação do BC sobre, a partir de que patamar, haveria esse risco. A expectativa é de aumento da instabilidade no mercado de câmbio nos próximos dias. Aliada à situação incerta da Argentina, a alta do preço do petróleo também pode provocar um agravamento do cenário. Marcelo Maneo, diretor de gestão de carteira da Lloyd´s Asset Management (LAM), lá previa um patamar de R$ 1,90 para o dólar no final do ano. "Se a instabilidade continuar, o dólar pode subir ainda mais", afirma.

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