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Argentina manterá estratégia para baixar o dólar

Por Agencia Estado
Atualização:

A estratégia de venda de dólares ao público com preço regulado e através de mais instituições permitiu ao Banco Central alcançar a primeira queda do dólar - de $3,30 na abertura e $3,00 no fechamento. Além disso, o BC recomprou, no mercado atacadista, US$ 10 milhões ao preço de 2,90. Os técnicos do BC avaliaram que a baixa do dólar foi motivada pela grande oferta de divisas que apareceu no mercado atacadista por causa das liquidações das exportações e da venda dos excedentes dos bancos acima de 5% do que possuíam em carteira no dia 15 de março. Esta oferta foi suficiente para atender a enorme demanda do público no mercado varejista. O esquema deverá continuar hoje e nos próximos dias, até meados de abril, período em que os bancos ainda estarão se desfazendo dos excedentes calculados em cerca de US$ 400 milhões. Já os exportadores possuem US$ 2 bilhões de divisas que precisam ser liquidadas. Com estes dólares, o BC espera normalizar o abastecimento do mercado de câmbio com uma oferta sustentável e, com isso, acalmar a situação e reduzir a histeria popular em busca de dólares. Ânimo Tanto na Casa Rosada quanto na equipe econômica, a primeira baixa do dólar foi comemorada com respiros de alívio. O resultado animou o BC que pediu aos bancos a inclusão de mais sucursais na rede de vendas de preços regulados. Também as casas de câmbio, que estão negociando a moeda por "conta e ordem" do BC, deverão abrir as portas meia hora mais cedo, às 11 horas. Enquanto aguarda a queda do dólar, ou pelo menos, a estabilização do mercado de câmbio, o governo estuda medidas para atacar outra frente de aumentos, a dos preços generalizados. As medidas deverão ser lançadas após o feriado da Semana Santa que se somará ao 1º de abril, data em memória aos caídos nas Malvinas (Guerra das Malvinas). A equipe econômica estuda o aumento das taxações às exportações e a redução do IVA (Imposto sobre Valor Agregado), de 21% para 15%, em alguns produtos alimentícios. Dentre as alternativas estudadas, a taxação às exportações seria de 10% para matérias primas, 5% para os manufaturados industriais e agropecuários e 20% para o petróleo. O gás (GLP) também seria taxado. O imposto para as exportações será usado pelo governo para cobrir o déficit fiscal do ano. A arrecadação mínima deverá ser de 6 bilhões de pesos. Especulação O Banco Central argentino queimou US$ 442 milhões de suas reservas entre os dias 18 e 22 (último dado oficial divulgado ontem ao final do dia) para segurar a cotação do dólar, que, na segunda-feira, disparou para quase 4,00 pesos nas casas de câmbio. Estas estão obrigadas, a partir de hoje, a informar as suas posições de câmbio assim ao final de suas operações diárias. O BC quer ainda saber quais eram as posições das casas de câmbio no dias 30 de novembro e 31 de dezembro de 2001 e dos dias 31 de janeiro, 28 de fevereiro, 14 de março e 18 de março deste ano. A autoridade monetária vai cruzar esses dados para saber se foi a especulação exacerbada que fez o dólar disparar de 2,5 pesos, no início da semana passada, para quase 4,00 pesos na segunda-feira. No mês, entre os dias 1º e 22, o BC detonou US$ 889,00 milhões de suas reservas internacionais, que caíram de US$ 13,788 bilhões para US$ 12,899 bilhões para conter a disparada da moeda norte-americana. Apesar disso, o Banco Central argentino não conseguiu segurar a alta do dólar. Desde o dia 11 de janeiro, quando o BC decidiu suspender o prolongado feriado bancário e cambial, as reservas líquidas do BC caíram US$ 1,6 bilhão, de cerca de US$ 14,5 bilhões para US$ 12,899 bilhões, e, mesmo assim, a moeda norte-americana não conseguiu sequer se aproximar de 1,70 peso como queria e estimava a equipe econômica do ministro de Economia, Jorge Lenicov. Hiperinflação No início da semana passada, o presidente do BC, Mario Blejer, declarou que se o dólar disparasse acima de 2,80 pesos o risco da hiperinflação estaria detonado. Na entrevista concedida a correspondentes estrangeiros, Blejer disse ainda que, se as negociações com o FMI fracassassem, a Argentina teria de fazer outro plano econômico, porque o atual funcionaria somente com o apoio do Fundo. Blejer disse ainda que existia um ponto de inflexão para o dólar, entre 2,50 pesos e 2,80 pesos, a partir do qual os preços começariam a se acelerar, podendo levar a uma hiperinflação, "difícil de segurar". Para Lenicov, o teto tolerável para o câmbio era de 2,53 pesos por dólar, mas, ontem, fechou em 3,00 pesos, com depreciação de 72% desde o fim da conversibilidade. Corrida O aumento dos preços no varejo na última semana já chega a 45%, de acordo com a Associação de defesa do Consumidor. A carne subiu 10% apenas entre segunda-feira e ontem, enquanto o trigo e o milho dispararam 30%. Embora a inflação acumulada nos dois primeiros meses do ano tenha subido só 5,5%, o comportamento dos preços este mês deve sinalizar o risco da hiperinflação temida pelo governo. Alguns analistas acreditam que a queima de reservas se justifica desde que ela permita segurar a cotação da moeda norte-americana, mas as constantes intervenções são muito ruins para o país se o efeito for inócuo, como vem ocorrendo desde a desvalorização da moeda. "Se não houver um acordo com o FMI nos próximos 40 dias a atual política é insustentável", disse Rafael Ber, da Argentine Research. Para Daniel Artana, economista chefe da Fundação de Investigações Latino-americanas (Fiel), que chegou a fazer parte, por pouco tempo, da equipe do então ministro Ricardo López Murphy, a única forma de aliviar a pressão sobre o peso seria um plano fiscal e monetário sustentável, acompanhado de um acordo com o FMI. "Todo o que se faça além disso será inócuo", afirmou Artana. Leia o especial

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