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Argentina oferece incentivos para atrair capital

Por Agencia Estado
Atualização:

A Argentina, que recebeu apenas 4% dos US$ 80 bilhões dos investimentos estrangeiros diretos (IED) destinados à América Latina e o Caribe em 2001, está oferecendo incentivos fiscais e vantagens tributárias para empresas que queiram investir no país. O subsecretário de Relações Econômicas Internacionais da Província de Buenos Aires, Gonzalo Sabaté, disse hoje em São Paulo que a Argentina precisa de capital de giro para recuperar a sua indústria. Sem dar detalhes sobre as vantagens ou concessões que vêm sendo oferecidas pela Argentina para atrair capital externo, Sabaté afirmou que o setor privado argentino está aberto a iniciar "uma segunda fase de integração no Mercosul". O subsecretário disse que os empresários argentinos estão abertos a discutir a criação de cadeias produtivas, proposta brasileira colocada em cima da mesa de negociações bilaterais já há alguns anos pelo embaixador José Botafogo Gonçalves e nunca vingou. Embora falando em nome apenas de Buenos Aires, província que concentra cerca de 50% das exportações totais do país e 70% das vendas de produtos industrializados para o Brasil, Sabaté explicou que o parque industrial argentino encontra-se hoje com mais de 40% de sua capacidade ociosa. "Precisamos capitalizar as nossas indústrias", disse o subsecretário durante o seminário "Argentina - Oportunidades acima da crise". Na década de 90, a Argentina foi um dos países que mais atraiu investimentos, e as multinacionais foram os agentes mais dinâmicos no processo de reestruturação da economia do país, transformando radicalmente o panorama empresarial. Mas, a partir da metade de 1998, quando a economia argentina se expandiu pela última vez, os investimentos diretos no país começaram a cair paulatinamente. Entre 1995 e 2000, por exemplo, a Argentina captava ainda 17%, em média, dos investimentos direcionados à região, de acordo com a Cepal (Comissão para América Latina e o Caribe). Porém, entre 2000 e 2001, o IED já havia caído de US$ 11,665 bilhões para apenas US$ 3,181 bilhões. Insegurança jurídica O maior problema para os investimentos, porém, é a insegurança jurídica que se instalou no país desde o confisco dos depósitos (corralito financeiro) dos argentinos, em dezembro do ano passado, e depois da moratória decretada pelo país em janeiro deste ano. "Trata-se de um velho tema sobre o qual os investidores sempre perguntam, mas acredito que, nos próximos meses, com o fim do corralito, o problema poderá estar resolvido", disse Sabaté. Os empresários brasileiros, porém, não acreditam. O representante de uma entidade que congrega empresas voltadas para o Mercosul, que preferiu não ser identificado, disse à Agência Estado que ninguém mais confia na Argentina, pelo menos enquanto as regras não ficarem claras e as instituições argentinas passarem a respeitar contratos. Informado sobre a preocupação do setor privado brasileiro, decorrente da insegurança jurídica na Argentina, o subsecretário respondeu, claramente constrangido, que esse "problema é mais um dos vários que o ministro de Economia do país está obrigado a resolver". Fuga de capitais Estudo da Comissão de Investigação sobre Fuga de Capitais, da Câmara de Deputados da Argentina, mostra que os recursos de argentinos depositados no exterior até o final de 2001 somavam US$ 127 bilhões. Dessa cifra, de acordo com o documento, US$ 73,33 bilhões saíram da Argentina no período em que a conversibilidade esteve em vigor (entre abril de 1991 e janeiro de 2002). O estudo, realizado com base em diferentes fontes de informação, principalmente oficiais, como a Divisão Nacional de Contas Internacionais, conclui ainda que a "fuga de capitais do país não decorre apenas de crises financeiras, mas se trata de um componente estrutural". Um exemplo disso são os números que surgem da fase prévia ao "corralito financeiro" (confisco dos depósitos), período em que os depósitos foram menores que nos picos registrados nos períodos de crises externas, como os US$ 14,11 bilhões que saíram do país logo depois da "Tequila" (crise mexicana em dezembro de 1994), em 1995. Fora esse período, a fuga de capitais na Argentina se manteve constante. Em 1996, por exemplo, saíram US$ 5,4 bilhões, ou 2,1% do PIB. Em 1997, a saída de recursos do país somou US$ 6,62 bilhões, o equivalente a 2,4% do Produto, que, naquele ano, havia crescido 8,1%, de acordo com o estudo. "Esse números permitem ver que o componente estrutural da fuga de capitais se mantém."

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