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Argentina pede ajuda para não cair no abismo

Ministro faz apelo à OEA e diz que só aceita conversar comcredores nos mesmos termos das renegociações anteriores

Por Cláudia Trevisan
Atualização:

WASHINGTON - O governo da Argentina pediu ontem à comunidade internacional e aos organismos multilaterais que atuem de maneira "urgente" para evitar que o país caia num "precipício" e seja obrigado a suspender o pagamento de sua dívida externa pela segunda vez em 13 anos. "Há um problema de prazos. Estamos em um momento no qual a Argentina tem 28 dias para evitar um calote", disse o ministro da Economia, Axel Kicillof, na Organização dos Estados Americanos (OEA). "Queremos soluções urgentes, não apenas declarações", ressaltou. Em entrevista concedida depois do encontro, Kicillof defendeu a criação de um mecanismo internacional para regular os processos de quebra dos países, que se aplique não só à Argentina. "É necessário que a reestruturação não seja um processo sem fim." O encontro na OEA foi convocado a pedido da Argentina, que iniciou uma ofensiva em busca de apoio político depois de ser derrotada na Justiça americana no confronto com os detentores de bônus que não participaram da reestruturação de sua dívida em 2005 e 2010. Com exceção de Estados Unidos e Canadá, todos os integrantes da organização votaram a favor de resolução em apoio ao país apresentada por Brasil e Uruguai. Por exigência dos EUA, foi suprimido da proposta o item que pedia a criação de um mecanismo internacional para regulação de dívidas soberanas, com o objetivo de facilitar sua reestruturação de maneira "ordenada" e "previsível". Kicillof e o ministro das Relações Exteriores, Héctor Timerman, afirmaram que o país está disposto a negociar com os credores que recorreram ao Judiciário, desde que nos mesmos termos dados aos que aceitaram a troca de bônus feita depois do calote de 2001, que implicou perdas de quase 70% . "Se eles quiserem entrar hoje na troca, ela continua aberta, nas mesmas condições dadas aos 92,4% dos credores. Não vamos aceitar a extorsão. Vamos negociar e não vamos nos suicidar", declarou Timerman. Ambos fizeram ataques pesados aos fundos, aos quais chamam de "abutres", e ao juiz de Nova York Thomas Griesa, autor da decisão que os beneficiou. "É uma sentença de características absurdas, que faz com que a Argentina não possa pagar suas obrigações", observou Timerman. A representante dos EUA, a subsecretária de Estado, Roberta Jacobson, observou que o Judiciário é um poder independente e que a Suprema Corte pôs fim à questão ao se negar a revisar a decisão de uma instância inferior. Ela elogiou a disposição da Argentina de negociar com os credores e disse que é do interesse do país normalizar a relação com todos os detentores de bônus. Mas acrescentou que não poderia votar a favor da resolução em apoio à Argentina. O texto afirma que o respeito a processos de reestruturação de dívida soberana é essencial para "estabilidade e previsibilidade da arquitetura financeira internacional" e defende a capacidade da Argentina de pagar seus credores. O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, afirmou que o tratamento dos países é mais desfavorável que o dado a empresas que entram em falência ou concordata. "As legislações nacionais estabelecem mecanismos por meio dos quais as empresas podem pagar paulatinamente os credores e reiniciar as atividades em condições que lhes dê nova oportunidade."

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