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Argentina pede ao FMI para rolar dívida

Por Agencia Estado
Atualização:

O ministro da Economia, Roberto Lavagna, pediu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) que permita o adiamento do pagamento da dívida que a Argentina possui com este e outros organismos financeiros internacionais neste ano e no ano que vem. A intenção é rolar os pagamentos da dívida - US$ 9 bilhões neste ano e US$ 8,6 bilhões no ano que vem - para depois de 2004. O pedido foi feito a John Thorton, líder da missão do Fundo para a Argentina, que desembarcou nesta quinta-feira em Buenos Aires, onde permanecerá por cinco semanas, analisando o estado da economia local, além de pedir o cumprimento das exigências feitas pelo FMI, mas até agora não atendidas. Esta missão é "limitada" e tem um caráter mais de "exploração" da situação do que de negociação. A missão negociadora propriamente dita, virá posteriormente, e será comandada pelo economista indiano Anoop Singh, considerado um "linha-dura" com a Argentina. Se tudo correr bem, o acordo poderia ser assinado daqui a 45 dias. Conseguir um acordo com o FMI é fundamental para a durabilidade do governo do presidente Eduardo Duhalde. Dias atrás, o presidente ameaçou os parlamentares e governadores de seu partido que renunciaria caso não obtivesse o apoio necessário para cumprir as exigências feitas pelo FMI. Lavagna pediu que o acordo saia antes do 15 de julho, quando a Argentina enfrentará um novo vencimento com o FMI, de US$ 1 bilhão, além de outro, de US$ 1,7 bilhão com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Lavagna disse a Thorton que, se o acordo não sair, o governo não utilizará as reservas para esse pagamento. Se isso ocorresse, a Argentina estaria entrando em default com os organismos financeiros. Na última semana de dezembro passado, a Argentina declarou a suspensão da dívida externa pública, atingindo bancos, fundos de pensões e outros credores. No entanto, deixou de fora da suspensão os organismos financeiros. Se o acordo com o FMI não sair, o governo espera pelo pior. No entanto, tanto na Casa Rosada, a sede do governo, como no Ministério da Economia, admite-se que não existe um "Plano B" para o caso de inexistência da ajuda financeira do FMI. Esta ausência de alternativa foi confirmada por Lavagna em uma conversa com parlamentares. Os integrantes da missão do Fundo mal abriram suas malas e acrescentaram às exigências antigas um punhado de exigências novas. Antes da chegada da missão, o FMI exigia que as províncias realizassem um ajuste de 60% em seus déficits fiscais. Agora, além de esperar a assinatura dos governos provinciais, o fundo também quer ver o detalhamento de cada governo provincial de como serão feitos os ajustes. A notícia caiu como um balde de água fria na equipe econômica, já que o detalhamento desses ajustes levaria muito tempo. Até o momento, somente a província de Buenos Aires (responsável por metade do déficit total das províncias argentinas) assinou o acordo definitivo. Algumas das outras províncias assinaram somente uma carta de intenções, enquanto outras nem sequer isso. Com a rolagem da dívida, o governo do presidente Eduardo Duhalde não receberia nenhum fundo extra neste ano. No entanto, a única entrada de "dinheiro fresco" ocorreria para as províncias. Segundo o secretário da Fazenda, Jorge Sarghini, o FMI poderia dar "quase US$ 1 bilhão" para que as províncias possam enfrentar o ajuste de forma menos dramática e cobrir o buraco nas contas causado pela detenção da emissão de bônus provinciais. As províncias emitem bônus, utilizados como "pseudomoedas", para o pagamento de funcionários públicos e fornecedores do Estado. O excesso de emissões dessas moedas paralelas (mais da metade das províncias emite esses bônus) fez que os bônus correspondam atualmente a mais de um terço do circulante monetário total do país. A missão do Fundo também está esperando que o governo explique como pretende implementar a reforma do setor financeiro, o ajuste nos bancos estatais (e a provável fusão entre o Banco de la Nación e o Banco de la Província de Buenos Aires). Se o acordo com o FMI for fechado, o governo Duhalde espera que isso possa desobstaculizar créditos com o valor de US$ 1 bilhão, que seriam utilizados para o pré-financiamento de exportações. Enquanto isso, o governo prepara uma viagem de Lavagna para Washington, assim que a missão atual do FMI estiver perto de seu fim. O ministro iria à capital americana acompanhado por um grupo de governadores. A intenção é demonstrar que o governo possui o respaldo dos governadores, verdadeiros senhores semifeudais que controlam o interior do país e o Congresso Nacional. Lavagna iria acompanhado pelos governadores da província de Buenos Aires, Santa Fe e Salta. O interesse dos governadores, no entanto, é obter do fundo uma permissão para realizar um ajuste fiscal menos rigoroso. Felipe Solá, governador da maior e mais importante província do país, a de Buenos Aires, declarou nesta quinta-feira que o FMI parece estar engalfinhado em "divisões internas" sobre o que fazer com a Argentina. Solá lamentou que o organismo financeiro não esteja acreditando nas medidas aplicadas pelos governos provinciais e o governo federal. José Manuel de la Sota, governador da província de Córdoba, a segunda maior da Argentina, afirmou que será "muito difícil que a comunidade internacional aceite novas exigências do fundo para este país. De la Sota, um dos homens que o partido de Duhalde - o Partido Justicialista (Peronista) possui como eventuais presidenciáveis, definiu as exigências do FMI como "duríssimas". Enquanto precisa lidar com um FMI cada vez mais rigoroso com a Argentina, o presidente Duhalde também enfrenta problemas na frente interna. Nos últimos dois dias, o ministro da Economia, Roberto Lavagna, e o presidente do Banco Central, Mario Blejer, voltaram a entrar em rota de colisão. O motivo do novo conflito entre os dois lados é a imunidade jurídica que Blejer está pedindo para ele próprio e os integrantes do BC. Blejer pretende evitar a imagem de funcionários do BC sendo detidos pela Justiça por causa de processos contra o "corralito" (semicongelamento de depósitos bancários) ou sendo presos por investigações sobre a redução drástica de reservas internacionais que estão sendo utilizadas para conter a escalada do dólar. Lavagna pediu aos deputados peronistas que não aprovem um projeto de imunidade para o BC. Os deputados apoiaram Lavagna aplaudindo. Com este panorama desfavorável, nesta quinta de manhã Blejer reuniu-se com o presidente Duhalde para pedir mais uma vez a imunidade. Blejer, que pretende ficar no cargo somente até o fim das negociações com o FMI, argumentou que, sem a imunidade, será difícil encontrar alguém que queira ficar em seu lugar. O porta-voz do presidente Duhalde, Eduardo Amadeo, admitiu que "mentiria se dissesse que não existem diferenças de opinião" entre Lavagna e Blejer. Leia o especial

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