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Argentina segue Brasil e anuncia quitação da dívida com FMI

Por Agencia Estado
Atualização:

Com toda pompa, o presidente Néstor Kirchner anunciou na noite desta quinta-feira que seu governo pagará até o fim do ano a totalidade da dívida argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI). No histórico Salão Branco da Casa Rosada, a sede do governo, diante de uma heterogênea platéia convocada às pressas, composta pela nata do empresariado nativo, governadores, lideranças políticas, representantes da Igreja Católica, que também acotovelavam-se com integrantes das Forças Armada, a cúpula da Confederação Geral do Trabalho (GCT) e até os grupos de defesa dos Direitos Humanos das Mães e Avós da Praça de Mayo, Kirchner declarou que "el desendeudamiento" (o desendividamento) será realizado em um único pagamento, de US$ 9,810 bilhões. "Esta é a oportunidade de mudança...Um momento histórico!", exclamou Kirchner, que foi aplaudido em pé freneticamente pela platéia. Segundo o presidente, o cancelamento da dívida total (cujos últimos vencimentos ocorriam em 2008) de forma antecipada, permitirá a economia de US$ 1 bilhão em juros. Kirchner, acompanhado pela nova Ministra da Economia, Felisa Miceli, disse que "usando as reservas de livre disponibilidade para o pagamento da dívida, o efeito monetário será neutro". O Banco Central argentino possui um total de US$ 26,8 bilhões em reservas. Segundo o presidente argentino, a medida de pagar a dívida argentina com o FMI foi tomada após ter recebido o respaldo do Brasil e da Venezuela. No discurso, Kirchner criticou os diversos setores financeiros que defenderam o endividamento ao longo dos últimos anos: "cada vez que nos endividávamos, nos enfraquecíamos perante o mundo". O presidente sustentou que o pagamento da dívida também implicava em uma mudança de mentalidade: "nos educaram muito tempo para a impotência e para o tal do ´não seria possível´...eles nos queriam convencer de que as dificuldades eram tão grandes, que era melhor que nada mudasse. Mas, estamos tentando sair do inferno em que caímos e criar uma estratégia de desenvolvimento a longo prazo". Há um ano e meio Kirchner alardeava periodicamente que a Argentina pagaria o que deve ao Fundo Monetário. Mas, as baixas reservas do Banco Central argentino haviam impedido que essa medida fosse implementada. Além disso, no ano passado, Kirchner não contava com o amplo respaldo político interno que obteve a partir de outubro, quando venceu as eleições parlamentares, esmagando seus adversários, entre eles, o ex-presidente provisório Eduardo Duhalde. Outro fator que possibilitou o anúncio desta quinta-feira foi o sucesso de Kirchner, no primeiro semestre deste ano, em reestruturar a dívida pública com os credores privados. De quebra, o anúncio foi possível graças à demissão sumária do Ministro da Economia, Roberto Lavagna, que se opunha ao pagamento de toda a dívida de uma única vez. Lavagna, demitido há duas semanas e meia, era defensor do desendividamento gradual. A substituta de Lavagna, Felisa Miceli - que se autodefiniu como uma "fiel soldado kirchnerista" - concorda plenamente com o plano do presidente. A decisão final teria sido tomada logo após o anúncio do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no início da semana, de que o Brasil pagaria a totalidade da dívida que possui com o FMI. Na quarta-feira, o diretor-gerente do FMI, Rodrigo De Rato, indicou que a Argentina deveria ser um exemplo para a Argentina. Desta forma, Kirchner imita Lula, embora a Casa Rosada afirme que a idéia original do pagamento da dívida é do presidente argentino. Os rumores sobre o conteúdo do anúncio de Kirchner causaram euforia no fim da jornada desta quinta-feira na Bolsa portenha. A Bolsa passou de uma queda de 0,3% no meio da tarde para uma alta de 1,9%. No fim da tarde o governo também anunciou que o PIB argentino havia crescido 9,2% no terceiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2004.

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