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Argentina só sai da recessão no fim do ano, diz ex-ministro

Por Ariel Palacios e BUENOS AIRES
Atualização:

"O Talmude, o livro sagrado judaico, afirma que o unicórnio salvou-se do dilúvio universal. No entanto, ele não estava dentro da arca de Noé, mas sim, agarrado do lado de fora. Com certeza, sofreu muito com a tempestade, as chuvas permanentes, o calor, ao mesmo tempo que - por ter ficado agarrado do lado de fora da arca de forma tão improvisada - deve ter sido uma coisa muito exaustiva para ele." Com esta metáfora, o ex-vice-ministro da Economia, Orlando Ferreres, disse ao Estado que a Argentina é o "unicórnio" da crise mundial. Segundo ele, ao contrário de várias economias, como a brasileira, americana e a europeia, que mostram saída da recessão a curto prazo, a Argentina, que entrou na crise sem as medidas adequadas - tal como o unicórnio enfrentou o dilúvio - iniciaria a recuperação mais tarde. Ferreres e outros economistas dizem que a Argentina poderia sair da recessão entre o fim deste ano e o início de 2010. A consultoria Orlando Ferreres e Associados calcula que o PIB caiu 5,6% de janeiro a julho deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. A previsão para 2009 é de queda de 5,7%. Mas ele estima que no último trimestre poderia haver uma retomada. "Isto é, se o governo não der nenhuma mancada nova." Caso tudo transcorra sem problemas, afirma Ferreres, a Argentina poderia crescer 2,5% em 2010. Segundo ele, a recuperação também dependerá do bom desempenho da economia do Brasil, principal importador dos produtos argentinos. O ex-secretário de Indústria, Dante Sica, diretor da consultoria Abeceb, considera que o ritmo da saída da Argentina da recessão será mais lento que o de outros países. "O impacto da crise chegou aqui uns meses mais tarde." Sica afirma que o terceiro trimestre marcará "uma quebra da tendência descendente". Segundo ele, o país terá "um leve crescimento do PIB" no último trimestre. A Abeceb afirma que diversos sinais da recuperação argentina começam a despontar, embora de forma tímida. Esse é o caso das vendas nos shopping centers, que cresceram 1% no segundo trimestre, em comparação com o mesmo período de 2008. Além disso, o ex-secretário da Indústria ressalta que a queda da produção automotiva tem sido menor. Enquanto no primeiro trimestre a produção despencou 42,5% ante o mesmo período de 2008, no segundo trimestre caiu 23%. Já o banco Barclays, em recente relatório, afirma que a Argentina "crescerá de forma constante a partir de agosto". A expectativa do banco é que o país cresça 1% no terceiro trimestre e 1,7% no quarto trimestre. Dessa forma, a Argentina teria base para crescer 2,5% em 2010, embora abaixo da média esperada para América Latina, de 3,6% no ano que vem. O governo da presidente Cristina Kirchner, enquanto isso, nega a recessão. Na contramão dos principais economistas, afirma que o país cresceu 1,1% no primeiro semestre. Na sexta-feira, o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) admitiu que o desemprego subiu de 8% em 2008 para 8,8% no segundo trimestre de 2009. No entanto, economistas independentes dizem que já passou dos 10% e está avançando.

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