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Argentina vai manter barreiras

Após reunião em Brasília, vizinhos ainda ?convidam? brasileiros a ?boicotar? os produtos de fora do Mercosul

Por Denise Chrispim Marin e BRASÍLIA
Atualização:

A Argentina não vai desmontar o aparato protecionista que afeta produtos de exportação brasileiros desde setembro de 2008. Essa posição foi sustentada ontem pelo ministro argentino de Relações Exteriores, Jorge Taiana, ao final do encontro de duas horas e meia entre as delegações dos dois países no Itamaraty. O Brasil recebeu ainda a inesperada pressão argentina para que adotasse medidas coordenadas com Buenos Aires para barrar bens provenientes de países de fora do Mercosul que estavam destinados originalmente aos mercados mais atingidos pela crise - o chamado desvio de comércio. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou, entretanto, que o governo não seguirá esse caminho e não aplicará medidas unilaterais. "As normativas continuam vigentes. Assim como as do Brasil", declarou Taiana à imprensa, referindo-se às medidas restritivas ao comércio aplicadas por seu país e também às iniciativas brasileiras que, do ponto de vista argentino, igualmente afetam o intercâmbio bilateral. No encontro de ontem, nem Brasil nem Argentina se comprometeram com as demandas de lado a lado. Ambos preferiram criar um grupo de trabalho para estudar mecanismos financeiros "criativos" e capazes de minimizar os efeitos da crise sobre o comércio bilateral. O grupo terá como prazo para apresentar seu relatório final o dia 23 de abril, quando os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner se reunirão em Buenos Aires. Sem nenhuma medida positiva concreta, Lula e Cristina terão de se armar de coragem para um encontro um mês antes, em 20 de março, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A entidade quer que o governo adote uma espécie de Lei de Talião, ou seja, a adoção de barreiras contra produtos argentinos como represália às medidas aplicadas por Buenos Aires. Em resposta às pressões do setor industrial local, no final de setembro a Argentina passou a exigir a licenças automáticas de importação para um conjunto de 1.200 itens - muitos dos quais exportados pelo Brasil. Também elevou os preços mínimos de importação para 120 produtos brasileiros e chineses. Naquele momento, o país vizinho mantinha sete medidas antidumping contra produtos brasileiros, contornadas por meio de acordo de preços em quatro casos. Segundo a Fiesp, sete setores brasileiros foram atingidos por essas iniciativas, consideradas protecionistas. Ontem, Taiana afirmou que seu governo não considera essas medidas como barreiras comerciais. Porém, queixou-se discretamente de um velho tema da pauta Brasil-Argentina - o déficit que seu país contabiliza no comércio bilateral desde 2003 e que, no ano passado, alcançou US$ 4,3 bilhões. Em princípio, o novo grupo de trabalho analisará um pacote de generosas concessões do governo Lula para a Argentina, com o objetivo de aliviar as dificuldades de acesso de suas empresas ao crédito. Entre as propostas que serão analisadas está a criação de um mecanismo de swap de moedas. O Banco Central desembolsaria reais para o governo argentino destinar a companhias com dificuldades de rolagem de dívida e de financiamento das exportações para o Brasil.

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