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Argentina vai piorar antes de melhorar, diz diretor da Fitch

Por Agencia Estado
Atualização:

O diretor para finanças públicas internacionais da agência de classificação de risco Fitch, Richard Fox, não acredita que o FMI disponibilizará grandes recursos para a Argentina no atual quadro. Segundo ele, a situação na Argentina ainda vai piorar antes de melhorar. "O máximo que pode acontecer no curto prazo é o fundo desbloquear os recursos que foram retidos no final do ano passado", disse Fox à Agência Estado. "Já está mais do que claro que as autoridades do fundo querem ver uma série de mudanças antes de liberar quantias que realmente possam, talvez, iniciar o resgate de credibilidade do país no mercado internacional." O analista observou que o país poderá, nas eleições do próximo ano, viver uma situação semelhante à do início dos anos 90, quando a hiperinflação dominou o debate eleitoral que precedeu a eleição de Carlos Menem e a adoção do ´currency board´. Para o diretor do departamento de economia internacional do banco espanhol Caja de Madri, José Ramón Díez, o presidente argentino, Eduardo Duhalde, está numa situação na qual, para atrair a ajuda do FMI, precisa adotar medidas internas que ameaçam a sua sustentabilidade política. Ao mesmo tempo, quanto mais tempo ele demora para adotar essas medidas, sua situação fica mais fragilizada. "O custo político do ajuste é muito alto, mas o custo pela demora da ajuda do fundo também", disse. Segundo o analista espanhol, não há, pelo menos por enquanto, nenhum indício concreto de que o fundo colocará dinheiro novo na Argentina. "A pergunta que as autoridades norte-americanas fazem é: colocar dinheiro na Argentina para quê?" Segundo ele, o FMI já deixou claro que não vai liberar recursos se não houver sinais, por exemplo, de reestruturação do setor público e controle real do orçamento e dos gastos das províncias. Díez cita como exemplo a meta de déficit público estabelecida pelo governo argentino. "Apenas nos dois primeiros meses deste ano o déficit atingiu 1,5 bilhão de pesos, quase a metade do previsto para este ano." Díez salientou que Duhalde, durante os 20 meses que ficará na Presidência Argentina, tinha a missão de adotar as reformas necessárias para colocar o país nos trilhos do crescimento, assumindo o custo político dessas mudanças e entregando o país ao seu sucessor numa situação bem mais estável. "Mas o que se viu, principalmente no início de seu governo, não foi isso, mas sim uma preocupação de curto prazo, de conquistar terreno político", afirmou. "Agora, há sinais de que o governo argentino está disposto a adotar medidas mais amargas, mas se isso será possível ainda é uma incógnita." "O FMI está esperando para negociar com o próximo presidente da Argentina". Apesar do tom irônico, esse comentário, que vem circulando nos bastidores dos mercados internacionais mostra o grau de ceticismo entre os investidores em relação as chances de o presidente Eduardo Duhalde vir a fechar um acordo com o Fundo Monetário Internacional no curto prazo, um fator considerado essencial para que o país tenha qualquer chance de iniciar uma recuperação econômica. Nem mesmo a notícia, na sexta-feira passada, de que o fundo enviará uma missão negociadora ao país nas próximas semanas serviu para alterar essa avaliação, que é quase que consensual. As medidas anuncias na madrugada desta segunda-feira pelo governo argentino para tentar aumentar a circulação de dólares e conter a queda desenfreada do peso são vistas como mais uma manobra circunstancial para tentar ganhar tempo para um acordo com o fundo, sem efeitos sustentáveis. Segundo analistas europeus, o fantasma da hiperinflação é cada vez mais real e com ele, a possibilidade de o país vir a adotar novamente um câmbio atrelado ao dólar ou talvez uma total dolarização da economia. A Argentina está literalmente no limbo do mercado financeiro internacional, com exceção dos bancos e empresas cuja exposição ao país não pode ser ignorada, principalmente as instituições espanholas. "Converse com qualquer administrador de fundos em emergentes nesses dias e você constatará que uma das primeiras coisas que ele dirá para realçar as vantagens de seu portfólio é que não há nenhuma exposição à Argentina", disse um diretor de um banco europeu. "O país virou um mico internacional e deve continuar nessa situação por um bom tempo." A percepção geral é de que o FMI não vai ajudar o país enquanto não ver o que considera como condições básicas para uma recuperação, como por exemplo, um orçamento realista, um compromisso crível de corte de gastos nas províncias e uma solução para o sistema financeiro. Em contrapartida, poucos acreditam que Duhalde tenha condições políticas capaz de adotar as medidas aguardadas pelo fundo. Leia o especial

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