PUBLICIDADE

Argentinos reclamam de barreiras brasileiras para a farinha

O setor promete tentar agitar a relação bilateral - que nos últimos tempos desfrutava de uma paz comercial não vista desde 1998

Por Agencia Estado
Atualização:

Os produtores argentinos de farinha, reunidos na Federação Argentina da Indústria de Moinhos de Farinha (Faima) são o pivô de um novo e potencial conflito comercial entre o Brasil e a Argentina. O setor, que promete tentar agitar a relação bilateral - que nos últimos tempos desfrutava de uma paz comercial não vista desde 1998 -, está reclamando do surgimento de obstáculos para a entrada de seu produto no Brasil. Segundo a Faima, desde a semana passada todos os carregamentos de farinha do país devem passar pelo "canal vermelho" nas alfândegas brasileiras. O "canal vermelho", segundo os argentinos, consiste em "uma clara barreira paraalfandegária", pois implica em um processo de extração de amostras e a realização de exames em laboratórios no porto de Santos como condição indispensável para a entrada da farinha argentina no Brasil. O processo, segundo a Federação, causa demoradas de dez a 15 dias, fato que eleva os custos e desestimula os importadores brasileiros. A determinação da alfândega, explicou a federação, viola o Certificado de Reconhecimento Mútuo, que estipula que os governos dos dois países reconhecem ambas verificações bromatológicas. Os industriais argentinos afirmam que se isso continuar, poderão ter perdas de US$ 50 milhões. Do total das exportações de farinha argentina para todo o mundo (8,7 milhões de toneladas em 2005), o país destina ao mercado brasileiro 60% das vendas. Além disso, a Argentina vende ao Brasil 280 mil toneladas de pré-misturas de farinha. A Faima acusa "o lobby dos moinhos de farinha brasileiros" de tentar "eliminar" a importação de farinha argentina realizada pelo Brasil. No entanto, segundo os argentinos, o peso da farinha deste país no Brasil não é significativo, pois representaria somente 2,7% do mercado brasileiro de farinhas e derivados. Indignação O presidente da federação, Alberto España, comentou indignado: "não sei o que o Brasil está pretendendo do Mercosul com esse tipo de decisões. O Brasil já possuo um superávit no comércio bilateral com a Argentina, de US$ 4 bilhões por ano, e estas barreiras implicam em um aprofundamento desse desequilíbrio". Segundo os argentinos, os industriais brasileiros do setor de farinha querem que o Brasil deixe de importar o produto elaborado para passar a comprar diretamente o trigo. Desta forma, o valor agregado seria realizado no Brasil, transformando-o em farinha. España argumenta que se as barreiras brasileiras permanecerem, o setor não descarta que será obrigado a suspender operários e fechar linhas de produção. Os empresários argentinos pediram ajuda ao governo do presidente Néstor Kirchner, para que o "canal vermelho" seja suspenso. Segundo a Faima, no dia 25 de agosto representantes dos governos dos dois países analisarão o caso em Brasília.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.